Cada mulher vive a menopausa de forma única

Os conceitos pré-concebidos negativos associados à menopausa e a falta de informação podem contribuir para que muitas mulheres se sintam sozinhas e incompreendidas.

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"São ainda demasiadas as pessoas que pensam que a fase da menopausa coincide com a da velhice" Kristina Paukshtite/pexels
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A menopausa é caracterizada pelo fim da menstruação — é confirmada após um ano sem o aparecimento de menstruação e assinala o fim da fertilidade. É um processo biológico normal e natural que acontece ao longo do ciclo de vida. No entanto, a menopausa não deve ser observada como uma fase na vida da mulher onde acontecem “apenas” alterações biológicas. Porque ao longo deste processo, a mulher sentirá e terá de lidar com esse impacto na sua saúde psicológica.

As alterações hormonais durante este período — por exemplo, as mudanças significativas nos níveis de estrogénio, que tem um papel fundamental da regulação do humor, ou da progesterona que age diretamente nos neurotransmissores GABA, que são responsáveis pela sensação de calma — podem impactar negativamente a saúde mental e o bem-estar da mulher, contribuindo para o aumento dos níveis de ansiedade, irritabilidade e depressão.

Outros sintomas são também conhecidos e relatados com frequência como as ondas de calor e os suores noturnos, as alterações do peso, dos padrões do sono, da memória, a sensação de perda de “capacidade cognitiva”, dificuldades em manter a atenção e a concentração, falta de motivação, “reatividade excessiva”, diminuição da líbido, fadiga, etc..

São ainda demasiadas as pessoas que pensam que a fase da menopausa coincide com a da velhice — e isto tem impacto na autoestima, autoimagem e autoconceito da mulher. Se pensarmos que a maior parte viverá mais de 30 anos da sua vida sem menstruação, percebemos que este paradigma tem de mudar. Urgentemente. Sem tabus.

É muito importante que se aumente o conhecimento sobre todas as dimensões que envolvem a menopausa e as suas consequências. Por um lado, para que as mulheres procurem um acompanhamento/tratamento adequado — e o recebam, de facto, quando o procuram —; e por outro, para que se diminua o estigma que ainda hoje existe em torno deste tema.

Os conceitos pré-concebidos negativos associados à menopausa e a falta de informação podem contribuir para que muitas mulheres se sintam sozinhas e incompreendidas (aumentando as situações de sofrimento e isolamento) e com maior dificuldade em falar abertamente sobre o que sentem — a nível físico e psicológico, provocando, muitas vezes, um adiamento (ou evitamento) na procura de ajuda especializada.

O reconhecimento da relação entre saúde física e psicológica, entre as alterações biológicas e os efeitos na saúde mental e no bem-estar pode ser o primeiro passo para que as mulheres obtenham um tratamento especializado e consigam implementar estratégias mais eficazes ao longo desta vivência.

É uma fase desafiante, com muitas alterações físicas, psicológicas e emocionais que devem ser acolhidas e tratadas. A procura de equipas e abordagens multidisciplinares (medicina, psicologia, nutrição, atividade física) podem, de facto, fazer a diferença. As redes de apoio, falar com outras mulheres e o suporte familiar podem ser a almofada necessária para diminuir o “embate” de viver esta fase, e conseguir ter mais qualidade de vida, saúde e bem-estar.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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