Há três anos Cristina Mesquita de Oliveira iniciou uma “batalha” de consciencialização para o que é a menopausa, em busca de melhorar as condições das mais de dois milhões de portuguesas que se estima estarem a atravessar esta fase. Agora, publicou um livro, onde desmistifica as três fases do processo, explica o que as mulheres devem esperar, e propõe soluções. Afinal, não basta esperar que passe — “há muitas ferramentas e respostas”. Nesta terça-feira, 18 de Outubro, celebra-se o Dia Mundial da Menopausa.
Descomplicar a Menopausa é “o primeiro livro português” sobre o tema a ser publicado sobre este período da vida das mulheres, com edição da Influência, começa por contar Cristina Mesquita de Oliveira ao PÚBLICO. “Não havia nada escrito em português que se baseasse na realidade nacional”, recorda. Pôs mãos à obra, com todo o conhecimento de mais de três décadas a trabalhar na indústria farmacêutica, e durante dois anos reuniu um guia prático sobre o tema não só para mulheres, mas para todos os queiram e precisem de saber mais.
Fundou a Vidas - Associação Portuguesa de Menopausa há pouco mais de um ano com o objectivo de levar o tema ao Parlamento e ajudar na criação de políticas de saúde para a menopausa, como as que existem para a gravidez ou que se tentam criar para a menstruação. Já reúne, entre associados e seguidores, mais de 35 mil pessoas, mas, para já, ainda não conseguiram chegar ao Palácio de São Bento.
Segundo dados de um inquérito de 2018, divulgados pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG) e que envolveu mulheres entre os 45 e 60 anos, mais de metade das inquiridas (57%) afirmava que os sintomas da menopausa interferem com a sua vida diária. Cristina Mesquita de Oliveira lamenta que não existam alternativas no contexto laboral para dar mais conforto a estas mulheres: “Se pensamos numa mulher polícia, um exemplo fácil, usa farda como um homem. São 80% de todas as mulheres com menopausa as que têm ondas de calor súbitas. Não há alternativa para que se sintam confortáveis.”
E mesmo em locais de trabalho mais flexíveis, as mulheres “correm o risco de ser ridicularizadas porque precisam de se abanar”. E defende: “Depende de os empregadores terem a noção que as mulheres, à semelhança da gravidez, precisam de cuidados especiais”. Esses cuidados podem ser tão simples como, em algumas fases, “puderem precisar de mais pausas ou estar num lugar mais arejado”.
É que a menopausa não é uma doença, é, sim, “uma adaptação do corpo ao fim dos anos férteis”. Todavia, podem existir fases de maior sensibilidade ou desconforto, bem como um risco acrescido de algumas doenças. É crucial, assevera, encontrar uma resposta por parte das entidades competentes.
Cristina Mesquita de Oliveira tem fé que em breve surja essa resposta e conta que o novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que lhe endereçou um e-mail a agradecer pelo trabalho que tem realizado em prol da literacia em saúde. O livro é apresentado nesta terça-feira para profissionais de saúde no Hospital de São João, no Porto, e no dia seguinte, às 18h, na FNAC da Rua de Santa Catarina, na mesma cidade.
Eis três mitos associados a esta fase da vida das mulheres:
Menopausa é sinónimo de fim de vida?
“Sabe-se que o aparelho reprodutivo, quer da mulher, quer do homem, envelhece precocemente em relação a outros sistemas. Mas isso é quase uma forma da natureza cuidar das suas criaturas porque o corpo da mulher é envolvido num esforço excepcional na reprodução”, responde a presidente da Vidas. Esse envelhecimento não é sinónimo de que a mulher esteja também em fim de vida como o seu útero. “Estamos bem longe de estar na terceira idade. Temos de trabalhar até aos 67”, lembra.
É uma depressão?
As oscilações de humor são um dos sintomas mais comuns da menopausa, mas que, lamenta Cristina Mesquita de Oliveira são frequentemente confundidas com outras patologias de saúde mental. Uma mulher no período da perimenopausa vai ao médico e relata “sentir-se mais cansada do que nunca”, “não dormir bem”, “estar triste”, “ele passa-lhe um ansiolítico”, relata a responsável. Essa medicação não irá “resolver o problema de base”, argumenta.
Basta esperar que passe?
“Não é verdade, há muitas ferramentas e respostas”, desmistifica Cristina Mesquita de Oliveira. Longe vão os tempos em que o período da menopausa significava o isolamento da mulher e até sofrimento, hoje “as ciências médicas e farmacêuticas têm recursos individualizados que respondem aos principais desconfortos que as mulheres sentem”. É preciso, contudo, “encurtar a distância entre as ferramentas que existem e o que realmente chega às mulheres”, que é “manifestamente inferior”. É essa a sua missão, levar a informação — revista por ginecologistas e uma psicóloga de saúde — ao maior número de pessoas possível, para “gerir a menopausa com qualidade de vida”.