Votar na escola primária com uma amiga de infância

Conhecem-se há 50 anos e reencontraram-se nos últimos tempos. As europeias trouxeram a vontade de regressarem juntas ao local onde se cruzaram pela primeira vez. Uma escola primária em Setúbal.

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Setúbal, Escola Básica do 1.º ciclo do Montalvão DR
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São 11 horas, Luisinha e Maria chegam à escola em que entraram pela primeira vez há cerca de 50 anos, a Escola Básica do 1.º ciclo do Montalvão, em Setúbal. Aproveitaram o voto em mobilidade para estarem juntas na mesma sala em que passaram os primeiros anos de escolaridade. Quiseram assim “homenagear” a professora D. Maria Inês. Exemplar.

Não havia fila. Da mesa de voto é dito que a afluência até àquela hora era menor do que a no anterior acto eleitoral, as legislativas. Que se tivessem apercebido, os eleitores que ali se deslocaram pertenciam à freguesia, excepto um de Aveiro e, naquele momento, as duas amigas de infância e um terceiro votante que as acompanhava. O sistema estava a funcionar bem.

O pouco movimento possibilitou que as ex-alunas ali permanecessem mais um pouco e recordassem o local onde se alinhavam os cestos com os lanches. Era junto a uma parede que uma vez se encheu de formigas e quase arruinou o pão com marmelada da Luisinha.

Também comentaram que já ali não estava o antigo quadro negro, de ardósia. Agora, é branco e o giz já não tem utilidade. Óbvio e natural.

Seguiu-se um passeio divertido pelo espaço do recreio e a memória da cerca que separava os meninos das meninas. Foi só nos dois primeiros anos. Na terceira classe, a cerca foi derrubada. Ainda bem.

Uma recorda como a D. Maria Inês a levou a conhecer António Torrado, outra tem mais presente que a professora a convidou a ler Edmundo de Amicis e que a pôs a chorar bastante com o título Coração.

Luisinha tem ainda os cadernos e livros daquele tempo, o que surpreende Maria, que só tem memórias esbatidas do que ali aprendeu e nenhum espólio. Certeza de ambas é a de que a professora era dedicada, ousada e inovadora. Fintava o regime, perceberam depois.

A ela devem o gosto pela leitura, o sentido crítico e os momentos felizes de educação física improvisados em sala de aula entre mesas e cadeiras. Para não falar das aulas de natação que conseguiu articular com a YMCA/ACM logo ali ao lado. Um privilégio para uma escola pública.

Tiveram sorte com a primeira professora das suas vidas e lamentam que a morte a levasse poucos anos depois de terem sido suas alunas.

Enquanto a escola ali continuar, o regresso está prometido.

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