A influência da tiróide na saúde

O foco é dar palco às doenças da tiróide como doenças crónicas, tal como a diabetes, doenças cardiovasculares e pulmonares crónicas obstrutivas. A 25 de Maio assinala-se o Dia Mundial da Tiróide.

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Na maioria dos casos os nódulos são assintomáticos Nelson Garrido/Arquivo
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É cada vez mais importante e necessário passar a mensagem de que, na sua grande maioria, as doenças da tiróide são doenças crónicas e que, tal como as outras, merecem toda a nossa atenção pelo impacto negativo que têm na qualidade de vida, sendo, por isso, fundamental o diagnóstico e o tratamento correto e atempado como forma de prevenir possíveis complicações a longo prazo.

Em Portugal estima-se que as doenças da tiróide afetem cerca de 10% da população, ou seja, aproximadamente um milhão de portugueses, atingindo sobretudo mulheres (cinco a oito vezes superior aos homens), facto que vai aumentando com a idade.

Por que razão o bom funcionamento desta glândula é tão importante?

A tiróide é uma glândula única, situada na região anterior do pescoço, com forma semelhante a uma borboleta, que produz duas hormonas essenciais. Conhecidas como a T3 e a T4, estas atuam em quase todas as células do organismo e controlam todo o nosso metabolismo. São responsáveis por regular diferentes funções, como a velocidade de funcionamento das células e o consumo de energia.

Estas hormonas são essenciais para o crescimento e desenvolvimento intelectual, permitindo um normal funcionamento do cérebro, músculos, intestinos, coração e ajudando na fertilidade, no controlo de peso, na memória, na concentração e também no controle emocional. No fundo, garantem o normal equilíbrio do organismo.

As doenças mais frequentes são as alterações de produção de hormonas?

A causa mais comum destas alterações é a doença autoimune da tiróide. As disfunções da tiróide podem instalar-se de forma súbita, o que causa sintomas muitos marcados ou, muito gradualmente, permitindo alguma adaptação dos doentes, dificultando o diagnóstico clínico.

Se a produção de hormonas se tornar insuficiente, o metabolismo desacelera e surge o hipotiroidismo, com cansaço, apatia, humor depressivo, pele seca, obstipação e dificuldade em perder peso.

Pelo contrário, se houver excesso de produção, o metabolismo acelera e aparece o hipertiroidismo, sendo as queixas mais frequentes a agitação, ansiedade, insónias, palpitações, aumento do trânsito intestinal e emagrecimento associado muitas vezes ao aumento de apetite.

Como muitas destas queixas são muito inespecíficas e comuns a outas doenças ou ao resultado da vida do dia-a-dia, levam a um atraso no diagnóstico, com perda substancial da qualidade de vida.

A boa notícia é que o diagnóstico precoce, com realização de análises ao sangue, permite o início do tratamento e uma melhoria rápida e franca dos sintomas.

No hipotiroidismo é apenas necessária a reposição de hormona tiroideia com uma toma única em jejum. As doses dependem de vários fatores e vão sendo ajustadas em função das análises realizadas periodicamente.

Já no hipertiroidismo, dependendo da doença em concreto, pode ter tratamentos diferentes. Poderá ser apenas com comprimidos, com tratamento com iodo radiativo ou mesmo indicação para cirurgia. Estas opções devem ser tomadas com o doente, após o devido esclarecimento e tendo em conta a idade, doenças associadas ou, por exemplo, o desejo de gravidez.

Em algumas situações são alterações autolimitadas, mas de uma forma geral estas patologias são crónicas e devem ser bem controladas, com vigilância adequada a longo prazo.

É perigoso ter doença da tiróide se quero engravidar ou durante a gravidez?

Ainda antes de engravidar, há que saber que as disfunções da tiróide podem estar associadas a infertilidade e que, para o sucesso de uma gravidez, é fundamental o equilíbrio destas hormonas. Por este motivo e apesar de ainda não ser consensual, cada vez mais se defende a avaliação da função da tiróide antes de engravidar.

Por outro lado, também todas as mulheres que já tenham diagnóstico de doença da tiróide e pretendam engravidar, devem ser cuidadosamente monitorizadas para que a gravidez decorra sem complicações para a mãe e para o bebé.

Sendo o iodo um nutriente fundamental para a síntese das hormonas tiroideias, a sua suplementação está já recomendada desde a preconceção, no período da gravidez e durante o aleitamento. Existem exceções, por isso deverá sempre falar-se com o médico.

O que são os nódulos tiroideus?

Quer a glândula funcione bem ou mal, cada vez com maior frequência são identificados nódulos na tiróide. Estima-se que 4 a 7% da população tenha um nódulo palpável, mas se o diagnóstico for por ecografia, estes números atingem os 30 a 60% e são um achado comum em exames realizados por outra causa.

O que vulgarmente se denomina por bócio, que é sinónimo de “tiróide aumentada de tamanho”, pode acontecer de forma difusa ou devido a nódulos que vão aumentando de tamanho com o passar do tempo.

Não existe um motivo único que leve ao aparecimento dos nódulos, mas são mais frequentes no sexo feminino e a sua prevalência aumenta com a idade. Podem estar associados a história familiar de nódulos da tiróide, antecedentes de irradiação prévia da cabeça e do pescoço e também a deficiência de iodo.

A esmagadora maioria dos nódulos é benigna, sendo apenas cerca de 5% malignos, ou seja, cancro da tiróide.

Na maioria dos casos os nódulos são assintomáticos, mas podem estar associados a sintomas compressivos sobre estruturas próximas da tiróide, provocando alterações da voz ou rouquidão, tosse irritativa, dificuldade em respirar ou engolir. A dor é um sintoma muito raro.

Existem vários tipos de nódulos, mas a principal preocupação perante o mesmo é saber se produz hormonas de forma autónoma e, portanto, com risco de malignidade muito baixo, ou se se trata de um nódulo suspeito de ser maligno.

É fundamental a avaliação por ecografia e eventual realização de citologia de agulha fina (picada para analisar algumas células ao microscópio), sendo que, e dependendo do resultado, os nódulos poderão ter indicação para vigilância ou necessidade de cirurgia (outras técnicas). Aqui, os sintomas associados, as questões estéticas e a preferência do doente têm de ser considerados.

Para além da obrigatória avaliação da função tiroideia, em situações específicas poderão ter de ser realizados outros exames, como cintigrafia da tiróide ou TAC do pescoço, sobretudo se for ponderado o tratamento cirúrgico.

É importante vigiar?

As doenças da tiróide são, na sua maioria, doenças crónicas, à semelhança das doenças cardiovasculares, diabetes e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPCO), tendo um impacto negativo na qualidade de vida se não diagnosticadas e tratadas de forma adequada. Recomenda-se, por isso, a vigilância destas doenças, a longo prazo, por médicos de endocrinologia.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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