Os segredos da endometriose

Saiba o que é esta doença crónica que afeta sobretudo mulheres em idade reprodutiva. Conheça quais são os sintomas e alguns dos tratamentos, que incluem a cirurgia robótica.

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Para o controlo sintomático da dor, a primeira opção de tratamento é a medicação hormonal Jonathan Borba/Pexels
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Sabe o que é a endometriose, esta doença crónica que afeta sobretudo mulheres em idade reprodutiva? Estima-se que, em Portugal, cerca de 228 mil mulheres tenham endometriose diagnosticada e que, no mundo, afete cerca de 176 milhões de mulheres, sendo que cerca de 10% destas estão na idade reprodutiva.

Em termos médicos, consiste na presença do chamado tecido endometrial fora do útero. Este tecido, que habitualmente reveste a cavidade uterina, responde aos estímulos hormonais da mesma forma que o endométrio do útero – e, assim, de forma cíclica ocorre crescimento e hemorragia, simultaneamente com a menstruação, que repetidamente levam a inflamação e a cicatrização nos sítios onde esse tecido se localiza.

Embora algumas mulheres com endometriose possam não ter sintomas, a maioria delas tem como sintoma principal a dor pélvica incapacitante, na forma de dor com a menstruação, associada ou não a dor com as relações sexuais. Podem apresentar ainda outros sintomas associados, nomeadamente dor a urinar e perturbações intestinais, sendo uma importante causa de infertilidade. Estes sintomas, pela sua intensidade, têm um forte impacto na qualidade de vida das mulheres, traduzindo-se num importante custo individual e social.

O diagnóstico precoce desta doença depende sobretudo da valorização das queixas pelas mulheres, levando-as a procurar avaliação médica especializada mais cedo, mas também pelos profissionais de saúde. Permite, deste modo, otimizar o tratamento e potenciar a melhoria da qualidade de vida das doentes

Pode suspeitar-se de endometriose por alterações detetadas durante o exame ginecológico. Frequentemente temos de recorrer a exames complementares de diagnóstico, sobretudo de imagem, através de ecografia por via vaginal, que deve ser realizada por médicos ginecologistas ou radiologistas especializados, mas também da ressonância magnética.

Não sendo possível curar a endometriose, o tratamento deve ter como objetivo tratar os diferentes aspetos da doença e não apenas procurar o alívio dos seus sintomas físicos, sendo definido em função da idade da mulher e do seu desejo reprodutivo.

Para o controlo sintomático da dor, a primeira opção de tratamento é a medicação hormonal e tem como principal objetivo o de suprimir a menstruação e a hemorragia nas lesões de endometriose, de forma a diminuir ou eliminar as dores. Os contracetivos hormonais orais tomados de forma contínua ou administrados sob outras formas, sobretudo em dispositivos intrauterinos, são os mais usados, mas também existem outras opções válidas. A utilização de fármacos, nomeadamente não hormonais, estão a ser investigados e testados.

A cirurgia deve ser ponderada nos casos em que a medicação não resulta e em situações muito específicas numa decisão tomada de forma individualizada. Deve ser realizada por via laparoscópica, uma cirurgia minimamente invasiva com pequenas incisões na parede abdominal com a utilização de uma câmara que permite ver o abdómen.

A cirurgia robótica é cada vez mais uma opção e garante uma maior precisão cirúrgica, uma manipulação mais precisa de estruturas e órgãos sensíveis, assim como uma melhor visualização de locais cirúrgicos de difícil acesso, aliadas a uma melhor ergonomia e também à comodidade para o cirurgião, permitindo a realização destas intervenções de elevado grau de complexidade de forma mais eficaz e mais segura.

É importante que o seguimento e o tratamento da mulher com endometriose se faça por uma equipa multidisciplinar coordenada pelo ginecologista, mas incluindo outras especialidades e áreas da saúde, consoante o tipo e a gravidade das lesões.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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