As histórias que as árvores contam
Do concurso Árvore Europeia do Ano, nasceu um livro que ilustra as vencedoras de 2020. Há um castanheiro português, de Vila Real.
A árvore ajoelhada, o castanheiro de Vales, a árvore da bruxa ou o álamo solitário são algumas das árvores que neste livro contam a sua história. Umas assistiram a guerras, outras resistiram a secas e a tentativas de derrube.
Jovens ou milenares, todas as árvores são especiais e os humanos com elas mantêm um elo antigo que deve ser acarinhado, saibamos nós observá-las, preservá-las, protegê-las.
As Árvores Guardam Segredos — Quando cada Árvore nos Conta Uma História foi escrito e ilustrado a partir do concurso Árvore Europeia do Ano. Nele constam as vencedoras em 2020. Inspirado num concurso popular idêntico, organizado pela Fundação da Parceria Ambiental Checa há muitos anos, realiza-se desde em 2011.
Inicialmente, só concorreram cinco países, mas hoje este número já cresceu para 16. Portugal é um dos que participam e vem representado neste livro com o castanheiro de Vales, que obteve 1848 votos nacionais. Na ronda europeia, ficou em 6.º lugar, com 17.048 votos.
Esta é a sua história: “Não muito longe do rio Douro, entre o mar e a fronteira, a pequena e bonita aldeia portuguesa de Vales esconde um tesouro: um castanheiro com mais de mil anos. Consegues imaginar? Quando o tetravô do teu tetravô era uma criança, já esta árvore era velha. O seu tronco tem mais de 4,5 metros de diâmetro. Seriam precisas mais de 15 crianças para o abraçar. Mas o melhor é que parte do tronco é oca e podes esconder-te lá dentro. Gerações e gerações de crianças treparam pelos seus galhos retorcidos para apanhar castanhas. Diz-se que este castanheiro foi plantado na Antiguidade Clássica, quando os romanos andavam à procura de minas de ouro na região.”
O guardião da aldeia submersa
A vencedora da edição que inspirou este livro foi um pinheiro da região de Chudobín (Chéquia/República Checa), com 47.226 votos europeus. A construção de uma barragem obrigou a que uma aldeia ficasse submersa, à semelhança da Aldeia da Luz em Portugal, com a barragem do Alqueva. “Todos partiram à procura de outro lugar para viver. Todos? Não, nem todos. Um velho pinheiro centenário manteve-se no topo de uma montanha. Hoje, quando o nível da água sobe, ele parece pairar sobre as águas.”
Uma lenda acompanha a história deste pinheiro. “Reza a lenda que, quando se tornou o único guardião da aldeia, um demónio se sentou aos seus pés e passou horas a tocar violino.”
Há ainda uma conclusão: “Este magnífico pinheiro é também um símbolo e uma lição acerca da resiliência das árvores face às alterações climáticas.”
Este conjunto de histórias da vida secreta das árvores com ilustrações coloridas e felizes termina com um convite à criança para que, no percurso para a escola ou junto a casa, escolha e celebre a “sua” árvore.
Os mais velhos decerto terão na memória as árvores das suas vidas: as que treparam e aquelas à sombra das quais brincaram e mais tarde namoraram. Claro que devem ser celebradas e acarinhadas.
No concurso nacional deste ano, venceu uma camélia-japoneira: “Plurissecular, localizada nos jardins centenários da Villa Margaridi, referida na documentação medieval, desde o século X, no centro de Guimarães.” A votação europeia ainda decorre.