A actriz Melissa Barrera, que integrava a primeira linha do elenco da saga Gritos no papel de Sam Carpenter, foi despedida pela Spyglass Media. A produtora do franchise justificou a medida com uma política de “tolerância zero para o anti-semitismo ou o incitamento ao ódio sob qualquer forma”. Um porta-voz da Spyglass disse à Variety que isso inclui “referências falsas a genocídio, limpeza étnica, distorção do Holocausto ou qualquer coisa que ultrapasse flagrantemente a linha do discurso de ódio”.
Em causa estão partilhas nas redes sociais e publicações próprias em que Melissa Barrera apoiou a libertação da Palestina e condenou a violência que Israel continua a exercer em Gaza, na sequência do ataque do Hamas de 7 de Outubro. “Adoro os meus amigos judeus. Estou convosco nestes tempos horríveis. Compreendo o vosso medo e a vossa dor. Ninguém merece ser perseguido ou atacado”, escreveu Barrera sem deixar de sublinhar: “Todos os judeus não são o Governo israelita. Não culpem, ou odeiem, todo um grupo de pessoas por causa do que alguns estão a fazer. Estou ao lado de todos os que foram apanhados no fogo cruzado.”
Depois de ter visto a sua participação em Gritos 7 anulada, a actriz recorreu às stories do Instagram para declarar que “o silêncio não é uma opção “. E explica: “Como latina e mexicana, com orgulho, sinto a responsabilidade de ter uma plataforma que me permite o privilégio de ser ouvida e, portanto, tentei usá-la para aumentar a consciência sobre questões que me interessam e para emprestar a minha voz aos necessitados. Acredito que um grupo de pessoas não é a sua liderança e que nenhum órgão de governo deve estar acima de qualquer crítica. Rezo dia e noite para que não haja mais mortes, para que não haja mais violência e para que haja uma coexistência pacífica. Continuarei a falar em nome dos que mais precisam e a defender a paz e a segurança, os direitos humanos e a liberdade.”
Melissa Barrera não é a primeira baixa em Hollywood na guerra Israel-Hamas, à medida que se polarizam as posições entre os papéis neste conflito e em que o silêncio também é criticado, como aconteceu com as modelos Bella e Gigi Hadid — então Gigi Hadid manifestou-se solidária “com todos aqueles que estão a ser afectados por esta injustificada tragédia”, destacando que ser pró-Palestina não é igual a ser anti-semita, o que levou o Governo de Israel a condenar as suas palavras.
Mais recentemente, a actriz Susan Sarandon foi dispensada pela sua agência de talentos depois de, num comício em Nova Iorque de apoio à causa palestiniana, a actriz, de 77 anos, ter observado que “há muita gente que tem medo, que tem medo de ser judeu nesta altura”. E concluiu que os judeus na América “estão a sentir o gosto do que é ser muçulmano” naquele país, numa declaração que foi interpretada como um incentivo ao sentimento anti-semita.
A estrela de Thelma & Louise, filme que lhe valeu o Óscar, também partilhou uma publicação de Roger Waters em que se lê que o músico dos Pink Floyd subiu ao palco no Uruguai para actuar “apesar das tentativas do lobby israelita para cancelar o evento”.
Waters, que este ano fez notícia por se ter apresentado na Alemanha vestido com um uniforme nazi (algo que o músico explicou tratar-se de uma “evidente declaração de oposição ao fascismo”), é, há vários anos, membro do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), liderado por palestinianos, que tem como alvo Israel.
Do outro lado da barricada, estão, por exemplo, as comediantes Sarah Silverman, que defendeu o direito de Israel de não fornecer água a Gaza, e Amy Schumer, que se tem colado ao movimento contra o anti-semitismo, mas, em simultâneo, é acusada de promover a islamofobia e de ter acossado colegas por discordarem dela (como Mia Khalifa, a libanesa-americana que perdeu o seu contrato de podcasting com a Playboy depois de se ter referido ao Hamas como “combatentes da liberdade” nas redes sociais).
Também Debra Messing (da sitcom Will & Grace) foi amplamente criticada pelos comentários que fez numa manifestação de apoio a Israel em Washington, D.C., tanto da parte de judeus — "Ela é uma esquerdista que votou em Biden/Obama. Eles deram ao Irão milhares de milhões de dólares que foram depois transferidos para o Hamas." —, como de pró-palestinianos. É que, no seu discurso, Messing afirmou-se preocupada com “a família judaica global”, mas “também com os palestinianos inocentes usados como escudos humanos pelo Hamas”. Um utilizador da rede social X replicou: “E todas as mulheres, crianças e bebés inocentes mortos pelas IDF (Forças de Defesa de Israel)?”
Calar a Palestina no TikTok
Amy Schumer e Debra Messing não baixaram os braços na sua luta por calar as vozes pró-Palestina e juntaram-se a cerca de uma dúzia de celebridades judias que criam conteúdos no TikTok, entre as quais o actor e argumentista Sacha Baron Cohen. Numa reunião com executivos daquela rede social, pediram mais acções para combater o aumento do anti-semitismo no popular serviço de vídeo, alertando para comentários que vão de “O Hitler tinha razão” a “Espero que acabes como a Anne Frank”.
A reunião, realizada por videochamada durante cerca de 90 minutos, foi conduzida por Adam Presser, chefe de operações do TikTok, e Seth Melnick, chefe global de operações de utilizadores da rede. Porém, uma gravação obtida pelo New York Times revelou que as celebridades querem ir mais longe — além de quererem combater o anti-semitismo, também exigem que os utilizadores que promovem um discurso pró-Palestina sejam banidos, comparando-os à permissão do nazismo. Uma curiosidade: tanto Presser como Melnick são judeus.
Entre as exigências feitas ao TikTok estão restrições ao uso da frase “from the river to the sea” (“do rio [Jordão] ao mar [Mediterrâneo]”), slogan associado à vontade de eliminar o Estado de Israel. Presser disse que a frase pode ser interpretada pelos moderadores do TikTok. "Quando fica claro exactamente o que querem dizer — ‘matar os judeus, erradicar o Estado de Israel’ — esse conteúdo é violador [das regras] e é apagado”.
A mesma frase foi, entretanto, banida da rede X. Na última sexta-feira, Elon Musk anunciou que os utilizadores que usassem termos como “descolonização” e “do rio para o mar”, ou expressões semelhantes, seriam suspensos. A sua decisão foi tornada pública depois de empresas como a IBM, Comcast, Apple, Paramount Global, Disney e Lionsgate terem suspendido os anúncios na plataforma.
O poder de um peluche
A activista do clima Greta Thunberg foi também atacada nas redes sociais por uma publicação em que apela a um cessar-fogo na região. Tudo pelo facto de se ter fotografado com um peluche ao seu lado, nada menos que um polvo com um ar zangado, levando os utilizadores a acusarem-na de estar a promover o nazismo.
“Chegou ao meu conhecimento que o animal de peluche exibido no meu post anterior pode ser interpretado como um símbolo de anti-semitismo, o que eu desconhecia completamente.”
A jovem sueca, de 20 anos, explica ainda que “o brinquedo da imagem é uma ferramenta frequentemente utilizada por pessoas autistas como forma de comunicar sentimentos”. Mas os danos já tinham sido feitos e foram muitos os que se lembraram da caricatura de 1938, propagada pela Alemanha nazi, que retratava os judeus como um polvo a rodear o globo.