Contrariar o medo da noite
Quando o sono tarda e a escuridão intimida, pensa-se em como seria bom ter um amigo por perto.
Gaspar não consegue adormecer e a escuridão parece afugentar o sono em vez de o acolher. “— Quem me dera ter um amigo, nem que fosse pequenino — suspira.”
E o inesperado acontece: “Na escuridão, ouve-se uma vozinha — Olá! Chamaste-me?” Responde o menino: “— Hum… Não… Sim… Não sei?” Um pequeno rato diz-lhe então: “Não querias um amigo? Vem comigo, vamos à procura.”
Segue-se uma ronda pela casa em busca de amigos, o que se deve fazer de olhos bem abertos, ensina-lhe o ratinho. Podemos ter um à nossa frente e não darmos por ele.
Gaspar há-de encontrar uma toupeira leitora, guardiã da biblioteca; um coelho a tocar piano, mesmo não sendo pianista; um pinguim medroso, que receia mergulhar na banheira; um panda na lavandaria que quer ser campeão de badmínton e um porquinho cozinheiro, que estava escondido no frigorífico.
Com tanta imaginação e boa companhia, as pálpebras começaram a pesar e o sono chegou. “O Gaspar olha para os seus novos amigos: afinal, a noite não é assim tão escura.”
Um livro terno e repousante, como todos os que Seng Soun Ratanavanh assina. O Gaspar na Noite é o quinto título por ela ilustrado que integra a colecção Orfeu Mini.
Os anteriores são Espera, Miyuki; Descansa, Miyuki; Obrigado, Miyuki!, com textos de Roxane Marie Galliez, e Um Miminho tão Bom, um livro de pano para bebés em que a ilustradora é também a autora do texto. “Um colorido e suave livro de pano para mimar e proteger os sonhos dos bebés”, descreve-se na divulgação da editora Orfeu Negro.
Ali se acrescenta ainda: “Este livro interactivo apresenta-nos os novos amigos da noite: o ratinho, o esquilo, o coelho, o ouriço e o macaquinho. A cada um vamos dizer ‘boa noite’, dar um beijinho, acarinhar e fazer rir. Uma rotina para sossegar e embalar os sonhos de toda a família.”
Em 2020, sobre O Gaspar na Noite, a artista plástica disse numa entrevista ao site Let’s Talk Picture Books — Children Books Design & Ilustration: “Acabo de terminar um projecto muito longo, que é muito particular para mim, em que sou também, e pela primeira vez, a autora. A Princeton Architectural Press vai publicá-lo em 2021. É uma experiência incrivelmente rica e muito inspiradora que devo ao meu precioso editor, que me impulsionou e guiou para tentar a aventura de um projecto como um todo, criando tanto o texto como as imagens.”
Nesta entrevista também se fica a saber que os desenhos de Sempé para os livros do Menino Nicolau a marcaram na infância e que admira a ilustradora Lisbeth Zwerger.
Seng Soun Ratanavanh é francesa, mas nasceu no Laos, em 1974. Estudou na Escola Nacional Superior de Belas-Artes de Paris e inspira-se na arte e cultura do Japão para ilustrar e pintar.
Nos seus trabalhos, usa aguarelas, guache, lápis de cor, recorre também a origamis. Colabora regularmente com a marca Djeco, em projectos para brinquedos, puzzles, objectos e artigos de papelaria.
A artista revelou à Galerie Robillard (em Paris): “Descobri com os meus filhos uma literatura infantil tão criativa que quis espalhar as minhas próprias pedrinhas.”
Quanto ao Gaspar, finalmente adormeceu. Dorme bem, rapaz.