Rússia acusa Ucrânia de incitar ataque a judeus em aeroporto no Daguestão

Moscovo diz que invasão do aeroporto no domingo, que causou 20 feridos e levou a 60 detenções, é “resultado de influência externa”.

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A multidão dirigiu-se para o aeroporto depois de uma mensagem publicada na aplicação de mensagens Telegram Reuters
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A Rússia acusou a Ucrânia de encenar uma “provocação” depois de centenas de desordeiros na região russa do Daguestão, predominantemente muçulmana, terem invadido um aeroporto para “apanhar” passageiros judeus a bordo de um voo proveniente de Telavive. Kiev afirmou que nada tinha a ver com os distúrbios, que deixaram pelo menos 20 pessoas feridas.

Vídeos obtidos pela Reuters do aeroporto de Makhachkala, a capital regional do Daguestão, mostram os desordeiros, na sua maioria jovens, a agitar bandeiras palestinianas, a partir portas de vidro e a correr pelo aeroporto no domingo à noite, gritando “Allahu Akbar” - “Deus é grande”.

Um grupo foi visto a tentar derrubar um veículo de patrulha da polícia, enquanto outro vídeo mostrava um grupo de pessoas na pista a rodear um avião da companhia Red Wings que tinha chegado de Telavive.

Um cartaz brandido pelos manifestantes, numa publicação não verificada nas redes sociais, dizia: “Não há lugar para assassinos de crianças no Daguestão”, enquanto noutro lia-se: “Somos contra os refugiados judeus".

A multidão dirigiu-se para o aeroporto depois de uma mensagem publicada na aplicação de mensagens Telegram ter incitado os daguestaneses a encontrarem-se com os “convidados indesejados” de “forma adulta” e a fazerem com que o avião e os seus passageiros dessem meia volta e voassem para outro local.

A mensagem, publicada no canal do Telegram “Utro Dagestan”, não utiliza a palavra “judeu”, mas refere-se aos passageiros do avião como sendo “impuros”.

“Temos de esperar por eles na rua, à saída do aeroporto, e apanhá-los antes que sigam caminhos diferentes”, dizia a mensagem.

A polícia declarou ter detido 60 pessoas relacionadas com os distúrbios e identificado 150 dos participantes. Os passageiros do avião estavam a salvo, informaram as forças de segurança à Reuters.

O aeroporto de Makhachkala retomou as operações normais na tarde desta segunda-feira, informou a autoridade aeronáutica russa, mas disse que os voos de Israel seriam temporariamente redireccionados para outras cidades da Rússia.

A agitação na região, onde as forças de segurança russas combateram em tempos uma insurreição islâmica, é uma dor de cabeça para Putin, que está a travar uma guerra na Ucrânia e está interessado em manter a estabilidade no seu país antes das eleições presidenciais do próximo ano.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a violência no Daguestão é o resultado de influências externas e que os “malfeitores” utilizaram as imagens do sofrimento em Gaza, amplamente divulgadas, para incitar a população.

“É bem conhecido e óbvio que os acontecimentos de ontem em torno do aeroporto de Makhachkala são em grande parte o resultado de interferência externa, incluindo a influência da informação”, disse Peskov.

Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, apontou a Ucrânia como a alegada culpada, afirmando num comunicado que as autoridades de Kiev tinham desempenhado um “papel directo e fundamental” na preparação do terreno para aquilo a que chamou uma “provocação”.

A ministra referiu-se aos recursos online ligados ao antigo deputado russo Ilya Ponomaryov, que se encontra na Ucrânia como partidário anti-Kremlin. Ponomaryov disse esta segunda-feira que costumava ser um investidor no canal de Telegram Utro Dagestan, mas que já não tinha qualquer ligação ao mesmo.

Em resposta às acusações russas, o conselheiro presidencial ucraniano Mikhailo Podolyak disse à Reuters que Kiev não tem “nada a ver” com os distúrbios, enquanto o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, atribuiu a culpa pelos acontecimentos ao que chamou de “cultura generalizada de ódio contra outras nações, que é propagada pela televisão estatal, especialistas e autoridades”.

Os distúrbios seguiram-se a vários outros incidentes anti-semitas ocorridos nos últimos dias na região russa do Cáucaso do Norte, em reacção à guerra de Israel contra o Hamas em Gaza. Israel instou as autoridades russas a protegerem os israelitas e os judeus nas suas jurisdições.

Nos últimos dias, um centro judaico em construção em Nalchik, a capital da vizinha república russa de Kabardino-Balkaria, foi incendiado, segundo as autoridades locais.

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