Na menopausa, é preciso hidratar a vulva, tal como se hidrata a pele do rosto

A hidratação deve ser feita com produtos que incluam na sua composição ácido hialurónico, para promover a elasticidade, aconselha a ginecologista Ana Rosa Costa, no Dia Mundial da Menopausa.

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A vulva, tal como a pele do restante corpo, também envelhece, perdendo as rugas que promoviam a elasticidade Pexels/Anna Shvets
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A secura vaginal é dos sintomas mais comuns da menopausa, mas não tem de ser um martírio. Apesar de não ser possível prevenir que tal aconteça, há alguns cuidados a ter com a hidratação da vulva e da vagina, para devolver qualidade de vida às mulheres. “Tal como se hidrata a pele do resto do corpo, deve-se hidratar a região vaginal duas vezes por semana”, aconselha a ginecologista Ana Rosa Costa, a propósito do Dia Mundial da Menopausa, que se assinala nesta quarta-feira.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 2030, mil milhões de mulheres estarão a atravessar a menopausa. A síndrome geniturinária é dos sintomas mais comuns e dos que rouba mais qualidade de vida às mulheres, não só na menopausa, mas também na fase que a antecede, a perimenopausa — pode ocorrer entre os 45 e os 55 anos, começa por explicar ao PÚBLICO a médica do Hospital de São João.

A secura vaginal de que tantas mulheres se queixam é consequência desta síndrome, que ocorre fruto da “diminuição da produção de estrogénio nos ovários”, com efeito “a nível do aparelho genital e urinário”. Queixam-se não só da falta de lubrificação, mas também de uma vulva mais pálida, da entrada da vagina estar apertada, com tendência a fissuras na pele e a infecções vaginais.

Há solução, mas, ao contrário de outros sintomas, “como os calores”, que “melhoram com o tempo”, “a atrofia na vagina e na vulva tem tendência a progredir e agravar-se com o tempo”, reconhece Ana Rosa Costa. Até porque a vulva, tal como a pele do restante corpo, também envelhece, perdendo as rugas que promoviam a elasticidade. A ginecologista lamenta, com humor: “Na menopausa, desaparecem as rugas da vulva e vão para a cara.”

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A ginecologista Ana Rosa Costa Paulo Pimenta/Arquivo

A má notícia é que “não pode ser prevenido o envelhecimento, mas tal como usamos outros cremes para retardar o envelhecimento na pele do corpo, temos de o fazer na vulva”, insiste a especialista. A farmacêutica Cristina Varandas, fundadora do laboratório Dermoteca e da marca D’Aveia, concorda: “Na fase da perimenopausa é a altura ideal para começar. São produtos que devem ter um uso continuado, como o creme anti-rugas.”

Na prática, os componentes de um hidrante facial não serão assim tão diferentes de um hidrante para a vulva. “Os aquosos são os melhores e muitos têm ácido hialurónico com efeito cicatrizante e regulador, que serve para aumentar as pregas na vagina e a elasticidade”, aconselha a ginecologista. Já a farmacêutica propõe também outros componentes, como o Bisabolol, que “é um ingrediente calmante” e ajuda na comichão provocada pela secura.

Além disso, Cristina Varandas sugere que as mulheres na menopausa utilizem uma emulsão de limpeza com um pH adequado a esta fase da vida. “Até à primeira menstruação, o pH da vagina é alcalino; na adolescência, fica ácido, e volta a ser alcalino na menopausa”, explica. Ou seja, esclarece, quando o pH é alcalino, a limpeza deve ser feita com um produto de higiene de pH entre 6 a 6,5, que permita manter o equilíbrio da flora vaginal e “defender de contaminações exteriores”.

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Cristina Varandas DR

Lubrificação? Sim, claro

Se a vagina estiver hidratada, acrescenta Ana Rosa Costa, terá maior capacidade de se prevenir infecções não só vaginais, mas também urinárias. Mas, mesmo que a hidratação seja feita correctamente, tal não significa que se possa prescindir da lubrificação durante as relações sexuais, “para diminuir o atrito e a probabilidade de ter dores”. A ginecologista avisa: “Se começar a associar a relação sexual a dores e não ao prazer, vai evitá-la e isso agrava a atrofia vaginal.”

A par desta rotina de dois passos, a médica relembra que a terapia hormonal tem um efeito mais completo: “Ao contrário dos cremes, que só hidratam, o tratamento hormonal evita que a espessura da parede vaginal fique mais fina, com tendência a sangrar, e mantém a elasticidade dos tecidos.” Este tratamento, propõe, pode ser feito de forma tópica, com comprimidos vaginais e não substitui outras terapêuticas que a mulher possa estar a fazer.

Apesar de a secura vaginal ser um problema comum na menopausa, não é exclusivo desta fase. Também acontece em mulheres com hipoestrogenismo (baixa produção de estrogénio) ou em quem está a amamentar, por exemplo. A estas também se aconselha a hidratação e a lubrificação durante as relações sexuais. De resto, em mulheres que são saudáveis, “não é preciso hidratar” a região genital. É que o corpo humano sabe o que faz, conclui Ana Rosa Costa. “A vagina hidrata-se sozinha.”

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