O que fazer quando se tem uma filha de 6 anos demasiado sarcástica

Ser sarcástico está baseado na ironia e na inteligência mas, contudo, as crianças pequenas não são capazes de compreender este tipo de humor.

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As crianças pequenas são fiéis a si por natureza, por isso ficam confusas quando alguém que cuida delas diz o contrário do que quer dizer Nuno Ferreira Santos/Arquivo
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Como é que se lida com uma criança de 6 anos que é sarcástica quando ambos os pais também o são? A minha mãe e a minha sogra consideram-na uma “linguaruda” e sugerem-lhe alguns castigos que não são muito agradáveis. Nós temos os limites bem definidos com ela e estamos a trabalhar para baixar o nosso tom de voz. Falamos com palavras gentis, não nos alteramos quando olha de lado e nos faz rir, tiramos-lhe os brinquedos e adiamos actividades divertidas, ou seja, as consequências naturais. Mas ontem ela foi mal-humorada para o dentista e eu quis deixá-la lá. Sugestões? Há muita coisa a passar-se na cabeça dela já que está a terminar a fase do jardim-de-infância e está a iniciar a sua primeira vez numa colónia de férias.


Bem, apanhou-me logo na primeira frase: “Como é que se lida com uma criança de 6 anos que é sarcástica quando ambos os pais também o são?” Ambos sabemos que isto não é o ideal (tanto que menciona que está a tentar moderar o seu próprio comportamento), mas vou levar isto um pouco mais longe, sugerindo-lhe que pondere, dê consequências a si próprio e mude completamente o ressentimento que sente antes de a castigar.

O dicionário Merriam-Webster define sarcasmo como ser “rabugento e ríspido", bem como “impertinente ou desrespeitoso no tom de voz ou nas maneiras”. E ouçam, eu adoro um comentário sarcástico bem aplicado; utilizado de forma cómica, pode ser extremamente engraçado e ir directamente ao encontro do tema. No entanto, ser impertinente é regularmente apresentado como sarcasmo, que se baseia na ironia e na inteligência. O problema inerente ao sarcasmo é que as crianças pequenas não compreendem este tipo de humor.

As crianças muito pequenas são fiéis a si mesmas por natureza, por isso, quando as pessoas que cuidam delas dizem o contrário do que querem dizer como por exemplo, “Oh não, adoro levar-te ao ballet à chuva, isto é fantástico”, a criança não sabe como classificar isso. Perguntam-se se a mãe está a adorar porque a sua linguagem corporal, tom e volume dizem que a mãe não está nada contente com isso, mas as suas palavras dizem que está.

Esta confusão é resolvida na criança como: “Se é assim que os meus pais falam, então deve estar correcto.” Excepto que a criança não tem maturidade suficiente para compreender as implicações do sarcasmo, por isso esta emoção revela-se quando está com os avós (inapropriado) e com o dentista (realmente inapropriado).

O pai está envergonhado com razão e a sua reacção automática é discipliná-la, mas o que é que ela está a fazer de errado? A criança está simplesmente a seguir o exemplo das pessoas que cuidam dela, que é o que as crianças devem fazer.

Pode parecer que estou a exagerar, mas quero que todos os leitores compreendam que culpar a criança por se comportar da forma como foi ensinada a comportar-se não só é injusto, mas também não resolve o problema principal: a forma como se comunica com ela. Temos de ser honestos com isto e mudar o que é necessário, ou seja, os pais.

Para começar, pare de criar consequências óbvias ou racionais para a sua filha (só servem para piorar as coisas) e, quando ela se comportar de forma inadequada, leve-a calmamente ao dentista e diga-lhe: “Peço desculpa, temos um problema de sarcasmo na nossa casa. A culpa é nossa; estamos a trabalhar nisso.” Não a envergonhe em frente ao dentista (lembre-se, a culpa não é dela).

Quanto aos avós, admita abertamente que o facto de ela falar mal e ser mal-educada é um problema familiar e que ela não é culpada. A criança tem 6 anos e a responsabilidade é dos pais. Diga também aos avós, especificamente, quais as estratégias que está a utilizar para combater o seu próprio sarcasmo e como a está a ajudar a utilizar uma linguagem mais gentil. Peça tempo e compaixão aos avós, especialmente porque passou seis anos a usar sarcasmo à frente dela.

Quanto às estratégias que podem trabalhar com ela, comece imediatamente a preparar reuniões familiares sobre a forma como todos vão começar a dizer o que querem dizer, a utilizar uma linguagem mais gentil e a utilizar tons mais bondosos. O objectivo é que toda a família avance, por isso, faça um jogo em que a sua filha o apanhe a usar tons indelicados. Depois, pode mudar no momento e pedir desculpa pela sua falta de jeito. Veja programas, leia livros e tome nota por exemplo, quando estiver na rua, de quando as pessoas estão a usar tons gentis e quando estão a usar sarcasmo. A mudança não será de um dia para o outro, mas a sua filha é nova e tem a capacidade de sentir compaixão.

Quanto a si, use o seu sarcasmo com outros adultos e amigos. Não estou a pedir-lhe que abandone todo o sarcasmo, só precisa de o usar com pessoas suficientemente maduras para compreender as implicações. Cometeu erros, mas não é tarde demais para mudar de rumo, mudar a sua dinâmica familiar e manter o seu humor com aqueles que conseguem lidar com ele. Boa sorte.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Vera Sousa Edição: Bárbara Wong

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