“Vão separar-se?” Como dar a notícia e deixar claro que a culpa não é dos filhos

A forma como os pais lidam com a separação em si e com a sua nova vida ira´ contribuir ou não para um funcionamento sauda´vel e adequado da criança.

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Lembre-se que, por pior que a outra pessoa seja para si, ele/ela será sempre o pai ou a mãe do seu filho e eles podem ter uma boa relação @petercalheiros

O divórcio ou a separação entre duas pessoas é um processo que acarreta múltiplas mudanças individuais em todos os membros da família. Pode ser descrito como um período de stress psicossocial, porque exige uma série de adaptações, que vão desde as questões legais até um novo estilo de vida social e financeiro. O ex-casal depara-se com novas tarefas e precisa fazer o luto da relação conjugal agora terminada. A forma como os pais lidam com a separação em si e com a sua nova vida irá contribuir ou não para um funcionamento saudável e adequado da criança.

Segundo a literatura, no período de dois anos após o divórcio podem ser reveladas algumas dificuldades na adaptação das crianças, onde os rapazes tendem a apresentar problemas de comportamento, educacionais e dificuldades de relacionamento na família, na escola e nos seus grupos de pares. O isolamento também tende a estar presente. Desta forma, a adequação dos pais é fundamental para minimizar estas dificuldades e promover melhores competências nas crianças.

Não há um momento ideal para este tipo de conversa, mas algumas ideias podem ajudar a torná-la menos difícil para a criança.

  • Comece por pensar efetivamente nos seus filhos e a pôr de lado grandes ou pequenos desentendimentos entre o casal, dado que estes apenas dizem respeito aos adultos.
  • Só dê a notícia à criança quando tiver certeza, de modo a não criar confusão.
  • Converse primeiro com o seu ex-cônjuge sobre o que vão dizer e construam uma história comum. Mas, o que dizer? de modo algum a criança deve ser pressionada a tomar um partido; para a criança não deve haver culpados nem vítimas, nem importa quem deu início ao processo de divórcio, muito menos quais foram as circunstâncias que o motivaram, este é um problema exclusivo dos adultos e que deve ser resolvido por estes, sem qualquer envolvimento dos filhos.
  • Preferencialmente, os dois pais devem dar a notícia ao mesmo tempo, de modo a que a criança sinta que ambos estão e estarão sempre com ela.
  • Caso não considere possível estar ao mesmo tempo na sala com o pai ou a mãe do seu filho, procure chegar a um acordo sobre o que vão dizer e tenham conversas separadas, mas sigam as mesmas regras.
  • Reserve tempo para dar a notícia e criar uma atmosfera tranquila para que a criança faça perguntas.
  • Tente evitar dar a notícia ou falar sobre o divórcio em momentos de stress ou que possam causar agitação indesejada na criança, como imediatamente antes da hora de ir dormir ou a caminho da escola.
  • Adapte o seu discurso à idade e ao nível de desenvolvimento do seu filho e tente perceber se ele compreendeu o que lhe foi dito, mesmo com as crianças mais velhas.
  • Certifique-se de que a criança percebe que, apesar da separação, vai continuar a ter contacto com ambos os pais e com o resto da família.
  • É comum, em algum momento, as crianças pensarem que o divórcio aconteceu por sua culpa, por isso, é muito importante eliminar esta ideia o mais cedo possível, dizendo-lhes directamente que a separação foi algo decidido por ambos os pais e que não tem nada a ver com eles.
  • Explique claramente o que vai acontecer doravante, ou seja, de que modo é que a vida delas vai mudar, onde vão viver, se vão continuar na mesma escola, etc.
  • Preferencialmente, mantenha as rotinas da criança.
  • Diga ao seu filho, a bom som, que os pais estão a separar-se, mas que não deixou de o amar, e que estará sempre lá para o apoiar.
  • Responda a todas as perguntas da criança e em momento algum acuse o pai ou a mãe do que quer que seja. Lembre-se que, por pior que a outra pessoa seja para si, ele/ela será sempre o pai ou a mãe do seu filho e eles podem ter uma boa relação.
  • Algumas crianças demoram mais tempo do que outras para processar o que está a acontecer e vão precisar de doses extra de tempo, atenção e carinho.
  • Esteja atento a eventuais alterações comportamentais e emocionais da criança e recorra a ajuda profissional quando tal acontecer com muita frequência. São exemplos: regredir para comportamentos mais infantis; manifestar ansiedade ao separarem-se dos pais; tristeza, isolamento, dificuldades de sono, etc.
  • Respeite o outro promovendo a comunicação por telefone com o pai ou a mãe da criança quando esta está na outra casa.
  • Não use a criança como “arma” contra o outro progenitor. A tentação para fazer da criança “mensageira” ou aliada de um dos pais é uma situação muito penosa para ela e que causa problemas sérios no deu desenvolvimento.
  • Não há problema em revelar tristeza ou mal-estar à criança, desde que seja com equilíbrio e que não sirva para vitimizar-se ou fazer da criança um confidente ou amigo. Os pais é que devem confortá-la, não o contrário.

Prepare os familiares mais próximos para agir com a criança sob estas mesmas diretrizes. As crianças reagem mal aos discursos contraditórios e ao mal dizer sobre os seus pais.

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