Alinham na aceitação dos dias maus? Uma birra pelo fim da procura pela perfeição

Quantas de nós não tentamos “corrigir” imediatamente o seu mal-estar? Quantas vezes é que lhes damos verdadeiramente o direito a ficarem chateados ou amuados, sem ir logo tentar apaziguar?

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"Queremos ser os pais perfeitos e queremos que os nossos filhos sejam os filhos perfeitos" @DESIGNER.SANDRAF
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Querida Mãe,

Proponho fazer uma birra em defesa dos dias maus. No nosso mundo de comparação constante andamos todos, sobretudo enquanto pais, à procura da perfeição. Queremos ser os pais perfeitos — como os da Bluey ou do Ruca —, e queremos que os nossos filhos sejam os filhos perfeitos. Queremos que as nossas gavetas estejam perfeitas. Que os nossos corpos estejam perfeitos. E se é óbvio o dano que estas metas irrealistas provocam na nossa saúde mental e auto-estima, pressinto que ainda não ponderámos bem no mal que podem fazer aos nossos filhos. O que lhes estamos a ensinar — ainda que da boca para fora digamos “Adoramos-te como és”, “Os corpos são todos bonitos”, etc — é que o imperfeito, o desarrumado, o não linear, o diferente, são caminhos, mas nunca o destino final. Acredito profundamente que é mais útil aprendermos a sentirmo-nos confortáveis numa casa mais desarrumada (dentro do bom senso) do que precisarmos de ter “as gavetas arrumadas para arrumar a cabeça.”

E a prova de que é assim confirma-se quando percebemos como lidamos com tanto desespero com os dias maus dos nossos filhos. Quantas de nós não tentamos “corrigir” imediatamente o seu mal-estar? Quantas vezes é que lhes damos verdadeiramente o direito a ficarem chateados ou amuados, sem ir logo tentar conversar, apaziguar, pedir explicações? Mãe, suspeito que são muito poucas. E é difícil, de facto, mas é importante porque transmite duas coisas: Aceito-te no teu todo, mesmo com os teus dias maus, e desmistifica a ideia de que as emoções são ou negativas ou positivas, quando na realidade as emoções são apenas o que são.

Alinha comigo na aceitação dos dias maus?

Beijinhos


Querida Filha,

Em teoria alinho completamente; na prática, não sei se consigo, mas posso tentar. Sinto sempre um impulso quase incontrolável de pôr um penso rápido nas feridas dos outros, mesmo que o conselho médico mais sensato fosse o de deixar o corte ao ar. Move-me seguramente o desejo de atalhar o sofrimento alheio, o que até me fica bem, mas à medida que envelheço percebo que é também um movimento de autodefesa, porque a angústia é muito contagiante. Quanto mais depressa apagarmos o foco de tristeza, mais seguros nos sentimos de não “apanhar” a doença.

O nosso objectivo devia ser mesmo a “empatia qb”, a capacidade de valorizar o que os nossos filhos estão a sentir, dando-lhes espaço e tempo para a nuvem passar, com alguma tolerância extra para monossílabos, e respostas tortas, mas com a consciência de que não devemos tomar as suas dores como nossas. Até porque, pelo menos eu, depois de um primeiro momento de solidariedade, acabo por ficar irritada com a vossa “ingratidão”, magoada com os vossos “chega para lá!”, e furiosa comigo mesma por ter sido incapaz de encolher os ombros e ir à minha vida. Sinceramente, tenho a certeza de que seria melhor para todos.

Como em tudo este exercício requer prática. Daqui a uns meses reporto-te se resultou.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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