Roma e Paris em novo incidente diplomático devido à crise migratória

Comentários de ministro francês levaram o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano a cancelar deslocação a França, que na semana passada decidiu reforçar a presença policial nas fronteiras.

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Antonio Tajani considerou as palavras de Gérald Damarnin "inaceitáveis" miguel manso

Emmanuel Macron foi o primeiro chefe de Estado ou de Governo europeu a encontrar-se com a então recém-eleita primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, em Outubro, mas antes e depois disso a relação entre Roma e Paris tem-se pautado mais por desavenças do que por encontros.

Desta vez foi um comentário do ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, a provocar um incidente diplomático entre França e Itália, ao declarar à rádio RMC que Meloni “é incapaz de resolver os problemas migratórios pelos quais foi eleita”.

Antonio Tajani, que já presidiu ao Parlamento Europeu e é hoje ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, considerou “as ofensas” de Darmanin “inaceitáveis” e cancelou uma deslocação a Paris prevista para esta quinta-feira à noite.

Tajani tinha encontro marcado com a homóloga, Catherine Colonna. “Não é este o espírito com que se devem enfrentar os desafios europeus comuns”, comentou no Twitter o ministro italiano.

No centro desta controvérsia está um tema que tem sido recorrente nas picardias dos últimos meses entre os dois países: os migrantes que estão a chegar às costas italianas a um ritmo sem precedentes.

Na semana passada, a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, anunciou o envio de mais 150 agentes policiais para a região fronteiriça dos Alpes Marítimos (Nice) para fazer frente à “pressão migratória acrescida na fronteira italiana” e, segundo os media franceses e italianos, esta quinta-feira já era bem visível a reforçada presença policial.

Mais de 1200 menores não acompanhados atravessaram a fronteira de Itália para França desde o início do ano e, na semana passada, as autoridades regionais dos Alpes Marítimos confirmaram que 690 destas pessoas estavam em abrigos temporários, o que correspondia “a um nível nunca visto”. Em 2022 tinham sido 4909 os menores não acompanhados a cruzar a fronteira, em 2021 tinham sido 4049.

“A situação está fora de controlo”, acusou o presidente da União Nacional (extrema-direita), Jordan Bardella. Era sobre esta afirmação que Gérald Damarnin estava a responder quando disse que “a Itália é incapaz de gerir esta pressão migratória.”

“Meloni, como Le Pen, fez-se eleger com [um discurso] ‘vocês vão ver’, mas o que vemos é que [a imigração] não pára e até aumenta”, comentou o ministro do Interior francês.

Depois do cancelamento da visita de Tajani, Catherine Colonna tentou deitar água na fervura, revelando que falou com o italiano por telefone e que lhe garantiu que “a relação entre Itália e França se baseia no respeito mútuo” e que espera “poder acolhê-lo em breve em Paris”.

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