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De Diogo Miranda a Pedro Pedro e Susana Bettencourt: os 10 destaques do Portugal Fashion

Durante quatro dias, os criadores de moda nacionais apresentaram as suas propostas no evento de moda do Porto, naquela que a organização chamou de “edição de compromisso”. As escolhas do PÚBLICO.

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Desfile de Diogo Miranda LUSA/JOSE COELHO
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Diogo Miranda EPA/JOSE COELHO
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Diogo Miranda EPA/JOSE COELHO
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Diogo Miranda EPA/JOSE COELHO
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Nopin EPA/JOSE COELHO
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Victoria Beckham
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Katty Xiomara EPA/JOSE COELHO
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Katty Xiomara EPA/JOSE COELHO
Victoria Beckham
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Katty Xiomara EPA/JOSE COELHO
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Katty Xiomara EPA/JOSE COELHO
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Katty Xiomara EPA/JOSE COELHO
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Pedro Pedro EPA/JOSE COELHO
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Pedro Pedro EPA/JOSE COELHO
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Pedro Pedro EPA/JOSE COELHO
moda portuguesa
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Pedro Pedro EPA/JOSE COELHO
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Pedro Pedro EPA/JOSE COELHO
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Pé de Chumbo EPA/JOSE COELHO
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Pé de Chumbo EPA/JOSE COELHO
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Pé de Chumbo LUSA/JOSE COELHO
Humano
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Miguel Vieira LUSA/JOSE COELHO
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Miguel Vieira LUSA/JOSE COELHO
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Miguel Vieira EPA/JOSE COELHO
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Huarte EPA/JOSE COELHO
Modelo
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Huarte EPA/JOSE COELHO
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Huarte EPA/JOSE COELHO
José Coelho
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Hugo Costa EPA/JOSE COELHO
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Hugo Costa EPA/JOSE COELHO
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David Catalán EPA/JOSE COELHO
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Susana Bettencourt EPA/JOSE COELHO
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Susana Bettencourt EPA/JOSE COELHO
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Susana Bettencourt LUSA/JOSE COELHO
Mel Gibson
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Susana Bettencourt LUSA/JOSE COELHO
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Susana Bettencourt EPA/JOSE COELHO

O ambiente era, e é, de incerteza: o que reserva o futuro para o Portugal Fashion? A semana da moda do Porto tem lidado com problemas de financiamento, culpa do atraso nas candidaturas a fundos europeus. Entre 14 e 18 de Março, na conhecida Garagem Fiat, na Rua Latino Coelho, os criadores nacionais apresentaram as colecções para o próximo Outono/Inverno, naquela que foi também uma prova de resiliência da moda portuguesa.

Só duas semanas antes do evento é que a organização conseguiu avançar com as contratações necessárias à produção dos desfiles. “Teve que ver com as notícias que esperávamos em relação aos organismos e à possibilidade vir financiamento, fez com que a capacidade de contratar e executar tenha sido tardia”, confirma a directora do evento, Mónica Neto, ao PÚBLICO.

Há quase 30 anos, desde 1995, que o evento acontece no Porto e os sistemas de produção já estão bem oleados, o que tornou possível fazer acontecer o certame em tão pouco tempo. “É sinal da força da marca do projecto, dos designers e das equipas de produção. É realmente uma vitória termos conseguido fazer acontecer este Portugal Fashion (PF) e sentir que o cumprimos bem”, celebra, no rescaldo desta edição.

Ainda assim, Mónica Neto reconhece que não foi o “cenário ideal”: “Pode não ter sido com o que desejávamos já ter alcançado e materializado nesta fase do projecto e da sua maturidade, mas sentimos que conseguimos fazer, de um momento difícil, algo de optimista”.

Como o PÚBLICO noticiou aquando do arranque da 52.ª edição, o evento foi realizado com um orçamento de 450 mil euros, metade dos 900 mil que costumavam ser necessários. Agora, é esperar para saber novidades sobre os fundos europeus e as conclusões do relatório a ser desenvolvido por entidades independentes, quanto à sustentabilidade do projecto.

Crises à parte, os criadores apresentaram, como de costume, as propostas para a próxima estação fria, ainda que o clima de incerteza se tenha espelhado em algumas colecções. Parece haver uma menor vontade de contar uma história e de passar uma mensagem — é que a moda de autor deve ter também algo a dizer sobre o mundo, mais do que produzir roupa para vender. Eis as 10 colecções que o PÚBLICO destaca.

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Diogo Miranda LUSA/JOSE COELHO

O surrealista Diogo Miranda

Com 35 anos e mais de 15 de carreira, Diogo Miranda já sabe quem é e, estação após estação, não desvirtua a assinatura que outrora lhe trouxe o rótulo de “jovem promessa”. Tem sido um dos nomes mais sólidos da moda portuguesa, sobretudo graças à consistência e à qualidade da confecção feita no seu atelier em Felgueiras.

Foi essa mesma qualidade que levou à passerelle, numa romântica colecção baseada no movimento surrealista. Destaca-se um perfeccionista trabalho de plissados, que cria a ilusão de óptica do movimento artístico, sem esquecer a rigorosa modelagem. Diogo Miranda chama-lhe o “vestido lagosta” e é a peça chave desta proposta. São vestidos elegantes e justos ao corpo, “estilo anos 30 ou 40”, que misturam os drapeados e os plissados cosidos à mão.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Ugo Camera/Portugal Fashion

Os sobretudos assumem silhuetas exageradas com ombros marcados e estão presentes em toda a colecção. Mas o segredo está nos detalhes, sejam, uma vez mais, da construção, ou até dos botões de flores, pintados à mão. Não faltam, claro, os vestidos que já são apanágio da marca com as capas esvoaçantes em chiffon, peças assumidamente de festa. “Também temos trabalhos novos, como os pontos de zig zag por cima das costuras”, destaca, enquanto percorre com o PÚBLICO toda a colecção.

Diogo Miranda não faz assumidamente calças nas colecções. “É o mercado em que trabalho. As calças a nível comercial não são fáceis. Sou daqueles criadores que trabalham para vender”, declara. Não quer dizer que não faça calças por medida, já que esse trabalho personalizado é igualmente importante.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Ugo Camera/Portugal Fashion

O negócio dos criadores vai além das colecções e, para Diogo Miranda, há outra faceta que não tinha trazido à passerelle. Desenha 15 vestidos de noiva, por ano, mas é a primeira vez que os mostra no PF. O desfile fechou, de forma dramática, com a noiva de longo véu e bouquet na mão. “Esta é a noiva de que gosto. Um vestido justo, de renda, com mangas e gola”, destaca. E justifica: “Achei que este era o momento. Se morrer amanhã, gostava que me recordassem assim.”

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Catarina Pinto Ugo Camera/Portugal Fashion

A Omypia de Nopin

Há um ano que a jovem Catarina Pinto concretizou o desejo de levar a Nopin e a indústria têxtil ao evento de moda do Porto. A marca nasceu do sonho da criadora e dos pais, donos de uma fábrica. Apesar da matriz industrial, a Nopin não peca por falta de conceito.

Desta vez, o ponto de partida de Catarina Pinto foi a miopia uma patologia que a Organização Mundial de Saúde estima que, em 2050, irá afectar metade da população mundial. “O estampado da colecção é inspirada nas luzes desfocadas, à noite, quando vemos flashes de cor”, explica a designer ao PÚBLICO.

Cor é o que não falta, com destaque para o azul, o verde e o rosa. Uma vez mais, aposta nos têxteis portugueses, que representam 80% da proposta. Há gangas com pedraria, colocada num desenho feito por Catarina Pinto, algodões desfeitos em franjas, peças em glitter termo-prensado e plissados que criam uma ilusão de óptima.

Longe dos volumes que inicialmente caracterizavam a marca, a silhueta está mais esguia, com elegantes acetinados. “Sinto que as pessoas estão a fugir do que é exagerado. Querem mostrar o corpo, já não têm preconceitos”, defende. No lado oposto do espectro, surgem modelos de streetwear feitos em materiais nobres, como o veludo.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Ugo Camera/Portugal Fashion

Para o fim do desfile, recriou “as noivas do antigamente com que todos [os criadores] fechavam”, mas de forma moderna. Uma modelo a usar um coordenado em plissado branco enche a sala com um véu bordado. O que está bordado? Nopin, claro.

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Katty Xiomara LUSA/JOSE COELHO

O vermelho de Katty Xiomara

Por instantes, a moda foi habitar o Grande Hotel do Porto, que recebeu o único desfile fora da Rua Latino Coelho. A decoração oitocentista dialogou com o vermelho das peças da colecção de Katty Xiomara. Sim, toda a proposta Vermilion é construída numa só cor, que a criadora luso-venezuelana acredita transmitir emoções e contrastes. “Tem um dos significados mais fortes: é guerra, é violência, é vida, é morte, é ódio, mas também amor”, enumera.

Esses contrastes reflectiram-se na apresentação performativa, em que as manequins coabitaram com quatro actrizes a interpretar monólogos sobre os temas da colecção. “Gosto de fazer estas misturas criativas, mas, desta vez, quis que o significado passasse de forma mais directa através de palavras”, explica ao PÚBLICO.

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Ugo Camera/Portugal Fashion

Em algumas divisões do hotel, foi difícil compreender o que estava a ser dito durante a longa apresentação. Mas destacou-se o que mais importava: um exímio trabalho de texturas e de técnicas de confecção. “Há muito que queria fazer uma colecção baseada apenas numa cor. Era sair da minha zona de conforto, para mim que uso muitos estampados”, declara.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Ugo Camera/Portugal Fashion

O único estampado da colecção é uma parceria com a Associação Nacional de Segurança Rodoviária e representa o sinal de STOP. A sinalética rodoviária está também subtilmente noutros detalhes, como nas laçadas em forma de mão. De resto, trabalha vários tons de vermelho, em plissados ou algodões esvoaçantes, num contraste também de volumes. Mais tarde, para serem comercializadas, todas as peças poderão ser também feitas em azul ou preto.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Pedro Pedro e Ricardo Balbino Ugo Camera/Portugal Fashion

A dupla criativa em Pedro Pedro

No final do desfile, na Garagem Fiat, Pedro Pedro vem acompanhado para agradecer ao público que aplaude. Pela mão, traz Ricardo Balbino, seu companheiro na vida e agora na moda também. Pela primeira vez, apresentam enquanto dupla criativa: Pedro é o cérebro criativo e Ricardo pensa a colecção já com o desfile em mente, trazendo a perspectiva do styling.

Depois de vários anos de ausência, o consagrado Pedro Pedro regressou ao PF há um ano e tem vindo a recuperar o tempo perdido, ainda que passo a passo. Por agora, os dois continuam a ter outros trabalhos e a marca é uma ocupação secundária, mas que lhes dá o alimento criativo. “É algo tranquilo, vamos dando passinhos, como conseguimos”, diz o criador ao PÚBLICO, no rescaldo do desfile.

Neste regresso, Pedro Pedro tem trazido elementos marcantes da marca para os saudosistas. Não faltam, portanto, as camisas de laçada, as gangas com ácidos e os crochets feitos à mão. “São tudo coisas que faz parte do ADN da marca, assim a não-utilização de materiais de origem animal ou a questão do género. Roupa é roupa, seja qual for o género com que se identificam”, destaca Ricardo Balbino.

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Ugo Camera/Portugal Fashion

São um casal e, como tal, confessam que nem sempre é harmonioso trabalhar em dupla. “Ninguém faz nada sem mostrar ao outro. O Pedro quando pensa as peças tem sempre uma ideia muito própria do que quer apresentar e vou dando opiniões”, explica Balbino. E não são só uma coisa, lembra: “Não somos só um casal. O Pedro não é só um designer e eu não sou só um stylist.”

Essas diferentes facetas espelham-se na colecção e são o mote para a próxima estação fria. “Todos somos várias coisas ao mesmo tempo. Não nos encaixamos numa caixa”, enuncia Pedro Pedro. A proposta, destaca, é “muito táctil” com pêlos falsos, mas, ao mesmo tempo, com simplicidade no corte. As malhas feitas à mão surgem quase como que inacabadas. “O grande papel do designer é encontrar uma linguagem no erro”, declara.

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Ugo Camera/Portugal Fashion

Há contrastes como os sobretudos de silhueta exagerada e os calções de palmo e meio ou as minissaias. Destaque também para os acessórios, desenvolvidos a partir de garrafas de plástico pela artista portuense Rita Caldo. “Queremos manter sempre um diálogo com a comunidade de artistas do Porto. Até a produção é feita em pequenas fábricas daqui”, assevera Ricardo Balbino.

Para os próximos meses, depois de terem participado no showroom Tranoï, em Paris, Pedro e Ricardo querem escalar a produção para fazer face às encomendas e, finalmente, inaugurarem a tão esperada loja online. “É um começo. Não será um contentor [de roupa], nem queremos que seja”, termina Pedro Pedro.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Alexandra Oliveira Ugo Camera/Portugal Fashion

Pé de Chumbo e o desperdício têxtil

A assinatura da Pé de Chumbo, de Alexandra Oliveira, é identificável até pelos mais distraídos. Desde 1995 que a marca desenvolve 90% dos seus tecidos através de uma técnica exclusiva e artesanal como se a roupa fosse criada apenas com linhas. É partir dessa mestria que a criadora de Guimarães desenha todas as colecções. “Às vezes perguntam-me qual é a inspiração. Não tenho. Trabalho muito pela experimentação, pelo erro, a fazer”, elabora a designer.

Apesar de já saber o que distingue a Pé de Chumbo e qual o segredo do negócio, Alexandra Oliveira não se deixa estagnar criativamente. Desta feita, traz novidades na técnica. “Construímos a base e depois colocámos estas franjas. As primeiras peças ainda foram feitas com restos de fio que tínhamos”, explica.

As franjas trazem movimento às peças impecavelmente confeccionadas. Mantêm-se os vestidos com silhuetas femininas, mas com salpicos de streetwear. É nessa linha que surge outra novidade na técnica. Pela primeira vez, usou rama de resíduos têxteis. “É prensado. E depois fazemos o mesmo processo de costura”, explica. Como resultado surgem peças quentes e confortáveis, repletas de cor.

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A nova técnica LUSA

“A cor está realmente na moda e tem sido novidade para a Pé de Chumbo. A primeira vez que coloquei cor fiquei assustada, mas agora apetece-me”, confessa Alexandra Oliveira.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Ugo Camera/Portugal Fashion

Ne me quittes pas, Miguel Vieira

Continua a ser um dos nomes incontornáveis da moda de autor portuguesa e pioneiro do trabalho com os materiais. É um purista de certas silhuetas, como a modelagem “perfeita” dos fatos, mas procura sempre inovar, sem desvirtuar. É Miguel Vieira, que levou ao PF um apelo em forma de canção.

Ne me quittes pas é o êxito do francês Jacques Brel, mas também o título da colecção do criador de São João da Madeira. “Já todos passamos por situações em que pedimos ‘não me deixes’. Aplica-se a muita coisa: a um desgosto, a não me deixes de abraçar, não deixem de ver colecções ou de consumir moda”, enumera.

É um tema que faz eco com a instável situação do PF “que tudo continue e nada deixe de acontecer.” Miguel Vieira diz-se com a sensação de que fazemos “omeletes sem ovos”, algo que os portugueses são “exímios a fazer”.

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Ugo Camera/Portugal Fashion

Todavia, a colecção que trouxe não foi “uma omelete sem ovos” e destaca-se, como é habitual, as técnicas aplicadas ao têxtil, do corte a laser à sublimação da frase “ne me quittes pas”. Há novidades de silhuetas nos vestidos de senhoras, mais fluidos, e são de referir os elementos de streetwear para homem.

Na paleta de cores, domina o preto, cor marcante em Miguel Vieira com apontamentos de amarelo. “É uma cor esperançosa e muito feliz”, define. A elegância do criador contrasta com o cenário repleto de grafítis do estacionamento, o que confessa ter sido um desafio: “A minha colecção prima pelo luxo, por materiais nobres e dispendiosos. É um contra-senso, mas que funciona bem.”

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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Victor Huarte Ugo Camera/Portugal Fashion

Huarte e o contraste do feminino com a ganga

Se há adjectivo que não se enquadra no trabalho de Victor Huarte é Clássico, como baptizou a colecção do próximo Outuno/Inverno. O título, confessa ao PÚBLICO, terá sido o último detalhe a ser decidido, naquela que é uma proposta “muito pessoal”, a espelhar “um período de transição emocional”.

Essa fragilidade, bem como a fortaleza a necessária para ultrapassar dificuldades, espalha-se na emotiva colecção. O jovem espanhol tem-se distinguido pelas gangas, depois de participar no concurso Bloom, e não se afasta dessa virtude, ainda que estas assumam novos formatos, em minissaias, coletes ou calças de cintura descida. Destaque para a construção da gabardine que abriu o desfile, a peça mais desafiante da colecção para o designer.

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LUSA

É a primeira vez que aposta nos coordenados de mulher, ainda que defina a sua expressão criativa como “sem género”. “Ao início só fazia [roupa de] homem, mas sempre pensei que queria desenhar para mulher”, explica. Conheceu-se um novo lado de Huarte, mais romântico e feminino, mas com o pragmatismo da ganga, conceito resumido nas saias em ganga com tule.

Para já, o criador continua dividido entre a moda de autor e a indústria, já que integra a equipa da portuguesa Salsa. Ter a possibilidade de estar numa marca de retalho, ajuda-o a perceber “como estruturar uma colecção e que peças podem ter mais potencial” ferramentas necessárias para o crescimento do projecto epónimo. “Preciso encontrar o equilíbrio entre uma colecção comercial, mas que tenha impacto, porque faço moda de autor.”

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Hugo Costa LUSA

Hugo Costa sem conceitos

Como professor da Universidade Lusófona e coordenador da plataforma de jovens criadores do PF, Hugo Costa ensina as regras. Mas já diz o ditado: "faz o que digo e não o que faço". E é isso que tem feito nas últimas estações. Assumidamente sem um conceito ou história por trás da colecção, o criador sanjoanense tem seguido o seu instinto criativo, trazendo um conjunto de ícones da marca, reinterpretados sob um novo olhar.

“Trago uma colecção com materiais improváveis para mim. Queria uma matéria-prima que me transportasse para um universo retro. Pensei que seria um jacquard de sofá com padrão floral, mas deparei-me com este veludo”, explica, enquanto mostra o tecido verde, que serviu como ponto de partida. O material surge nas volumetrias já conhecidas das silhuetas exageradas de streetwear do projecto.

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O veludo verde LUSA

Desta vez, contudo, decidiu apresentar maioritariamente em manequins masculinos, para regressar onde tudo começou, quando ainda apresentava na plataforma Bloom. Os elementos clássicos da alfaiataria “têm assumido uma importância cada vez maior na marca” e aqui destacam-se as camisas em popelina: “Tenho uma camisa branca com 48 molas de sportswear.”

Como já é hábito, as silhuetas mais clássicas são reinterpretadas em materiais desportivos e vice-versa. Alguns fatos têm calções com molas, que podiam ter saído de um jogo de basquetebol. “Não queria largar o que demorei tanto tempo a construir. Quando se pensa na marca é isto tudo”, assevera.

Esta metodologia de trabalho surge de um momento em que se tem questionado “sobre a forma de fazer as coisas”, de seguir “o que nos ensinaram”. E reforça: “Sinto cada vez menos vontade de contar uma história. Pode parecer uma bipolaridade este conjunto de elementos, mas é uma oscilação de estados emocionais.” Talvez essa seja a história que contou, mesmo sem querer.

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Ugo Camera/Portugal Fashion
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David Catalán Ugo Camera/Portugal Fashion

O néon David Catalán

David Catalán é espanhol, mas a moda que faz é orgulhosamente portuguesa. Portuguesa na etiqueta, claro, porque a linguagem do streetwear do criador é universal e vende para várias latitudes, da gigante alemã Zalando à norte-americana Urban Outfitters. Sabendo bem a estrutura do negócio, não altera muito a silhueta e mantém as campeãs gangas “o meu principal produto”.

Desta feita, é a cor que diferencia a proposta nos tons néon, laranja, verde e amarelo. “São os anos 2000 e é algo de reivindicativo no meu trabalho, porque normalmente trabalho muito com as fardas”, analisa. Esses tons menos consensuais funcionarão bem no mercado americano e na Coreia do Sul, que preferem peças mais jovens e cool, conta.

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LUSA

A influência dos anos 2000 está na silhueta cargo, em calças com bolso, que, surpreendentemente, são feitas em fazenda, em vez de materiais mais desportivos, como a ganga ou a sarja. Mantêm-se as confortáveis peças em náilon. “Acho piada a isso de dar a volta e desconstruir os conceitos do clássico e desportivo”, declara, fazendo eco de uma das tendências da estação.

Por cá, o mercado continua a ser residual, apesar de ter alguns pontos de venda. Sabe bem quem veste e já desenha a pensar nas transacções de negócio. “Já sei o que vai para um lado e o que vai para o outro”, reforça. Afinal, a moda é, antes de mais, uma indústria.

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LUSA
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Susana Bettencourt LUSA

O pechisbeque de Susana Bettencourt

Nem tudo o que parece é. Esse é o mote para a proposta de Susana Bettencourt, designer de assinatura artesanal. Na colecção que levou à passerelle do PF deu continuidade a alguns dos temas que têm sido seu apanágio. “Na estação anterior já introduzi a percepção, as diferentes formas de ver. Agora quis brincar com aquele conceito dos anos 80 ou 90, o pechisbeque, algo muito português”, começa por contar ao PÚBLICO.

O que dicionário diz que “coisas de baixo valor, que imitam outras mais nobres ou valiosas”. É precisamente essa definição que Susana Bettencourt leva para o grafismo dos jacquards em malha, marca do projecto. “Temos inspirações de drapeados ou enrugados que transformamos e fizemos grafismo para os jacquards”, explica. Um dos estampados mimetiza a textura de pêlo falso. “Não é muito notório, a ideia é ficar abstracto.”

Esse trabalho já define a identidade visual de Susana Bettencourt, que define fazer “artesanato digital”. Cada detalhe do jacquard tem de ser colorido digitalmente, como se uma obra-prima se tratasse. “Durante um ou dois meses estamos só no grafismo. É quase uma folha de papel quadriculado que é preciso pintar”, relata. Depois, quando chega a hora de produzir essa peça, uma máquina demora “três ou quatro horas” só “a fazer o estampado.”

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Ugo Camera/Portugal Fashion

Mas o trabalho vai além o digital, com a missão de preservação do artesanato a desempenhar um importante papel. Não faltam crochés ou rendas de bilros, que se misturam “numa peça só”. Como resultado, “todas as peças foram colaborativas”, ou seja, contaram com o ofício de vários artesãos. “Por mais que se desenhe, a pessoa que está a trabalhar dá sempre o seu toque”, observa a criadora.

E foram quatro artesãos a conceber todas as peças manuais, que contam com elementos como os falsos losangos desfiados “o tal pechisbeque” ou o croché. Susana Bettencourt assevera: “Queria que parecesse um padrão antigo, mas da maneira artesanal, que é o nosso ADN.”

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LUSA

Como elemento transversal à proposta, encontram-se flores. “Foi a primeira coisa que fiz em croché, quando tinha cinco anos, e quis transportar essa minha memória para a colecção”, confessa. Há uma maior aposta nos acessórios, que diz resultarem “muito bem” comercialmente na loja da marca, em Guimarães.

É também lá o atelier, onde recebe estagiários de duas universidades britânicas, a Central Saint Martins e a London College of Fashion. Vêm à procura de aprender sobre malhas e as técnicas portuguesas, algo que é difícil encontrar no Reino Unido. “É uma forma de espalharmos as nossas técnicas pelo mundo”, celebra.

Na galeria de imagens acima, veja as colecções que se destacaram na 52.ª edição do Portugal Fashion.​

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