De aderecistas a chefes de bastidores, são eles a pôr os modelos na passerelle
Marta Duarte, Rafael Pinto, Hugo Costa, Vera Gomes e Susana Godinho são alguns dos rostos que fazem acontecer os desfiles do Portugal Fashion, a decorrer até sábado, 18 de Março, no Porto.
Nos bastidores do Portugal Fashion na Garagem Fiat, como os portuenses chamam ao grande armazém na Rua de Latino Coelho, Marta Duarte ajuda uma modelo a vestir-se apoiada por um dos aderecistas. Entretanto, o coordenador do Bloom, Hugo Costa, entra e ajuda no que é preciso. No piso abaixo, Mariana Cró certifica-se de que os manequins estão a ser maquilhados pela ordem certa. São parte de uma engrenagem bem maior e fazem acontecer a semana de moda do Porto.
Marta Duarte faz parte da equipa da Showpress, a agência responsável por montar os bastidores da ModaLisboa e do Portugal Fashion (PF). Há mais de 20 anos, desde 1999, que se dedica a estes meandros. “Quando fizer 25 anos, reformo-me”, diz, com humor. É chefe de bastidores. Ou seja, apoia os criadores desde o momento em que chegam para começar a preparar o seu desfile até ao segundo em que a primeira manequim pisa a passerelle.
Ajuda-os mesmo a desempacotar tudo e a colocar a roupa nos cabides pela ordem certa. Ou seja, não pode haver trocas porque os charriots já estão colocados tal como os manequins deverão ser vestidos para entrar na passerelle. “Consegues andar assim?”, pergunta Marta à modelo que experimenta a roupa da House of Wildflowers, uma das marcas a apresentar no dia dedicado aos novos talentos, o Bloom. A jovem manequim dá uma resposta negativa, as calças estilo meia escorregam-lhe pela perna. Marta diz ao criador Amir Shavit que devem apertar o conjunto. Ou então, resta-lhes outra opção: trocar de manequim.
Ao lado de Marta Duarte, Rafael Pinto veste outra manequim num vestido vermelho plissado. Começou a ajudar nos bastidores do PF quando ainda estudava coordenação na Escola de Moda do Porto. “Fazemos assistência aos designers, vestimos as modelos e tudo o que for preciso”, explica ao PÚBLICO. Várias horas antes de o desfile começar, fazem-se as provas, onde os aderecistas aprendem como é que o criador quer aquele conjunto. Depois, se for preciso, são eles a passar a ferro ou a tratar de fazer alguma alteração.
“Às vezes, o designer até resolve trocar tudo em cima da hora”, conta. Normalmente, cada aderecista fica responsável por ajudar três modelos a vestirem-se, incluindo possíveis trocas — um desfile conta com cerca de 20 manequins, que podem ter de alterar o conjunto, até mais do que uma vez. Perto da hora do espectáculo, vestem-se as manequins e durante o desfile fazem-se as mudanças necessárias.
Esse é o momento “mais stressante”, define Rafael Pinho. “Já tive modelos com duas trocas ao mesmo tempo. Uma das modelos vestiu-se completamente sozinha. Quando olhei, já estava a entrar na passerelle”, relata. E, claro, há conjuntos que são mais desafiantes de vestir. O jovem recorda uma gola, da dupla Alves/Gonçalves, que só conseguiu apertar “no último segundo”.
Depois de todos os manequins estarem vestidos, de acordo com o que cada criador definiu, Marta Duarte ajuda nos últimos retoques e a levar os modelos até ao alinhamento. Nos desfiles da plataforma Bloom, a responsável por alinhar e ajudar os manequins a entrar na passerelle é Vera Gomes.
Na verdade, o trabalho de Vera começou antes, quando ajudou o coordenador Hugo Costa a fazer o casting para os manequins. Mas momentos antes do desfile, enumera, é ela quem ajuda os modelos a saberem para onde têm de ir, leva-os à maquilhagem e, por fim, faz o ensaio, para que conheçam o percurso da passerelle.
“E depois é fazer as coisas acontecerem”, diz. Chegada a hora, manda-os entrar na passerelle ao ritmo certo, sem demasiados compassos de espera, enquanto fala com Hugo Costa por intercomunicador. O coordenador do Bloom é responsável por estar do outro lado, na régie, a ver o que se passa na sala. “A dar indicações para a música começar, para baixarem as luzes, se identificar alguma falha num manequim”, exemplifica. E resume: “Basicamente, resolvemos problemas.”
Foi também Hugo Costa que ajudou a definir o espaço para a passerelle do Bloom. “Tem de ser uma base neutra, mas que potencie a individualidade”, defende. A experiência de mais de dez anos de carreira enquanto criador ajuda-o no trabalho que assumiu em Outubro passado, em que não só coordena o dia de desfiles Bloom, mas também apoia os jovens criadores durante o processo de desenvolvimento de colecções.
Quem faz o quê?
No piso abaixo dos bastidores, alinham-se as mesas do cabelo e maquilhagem. A coordenar esta etapa do processo está Mariana Cró. Ao contrário dos chefes de bastidores e dos aderecistas, que fazem no máximo três ou quatro desfiles por dia, está aqui em todos os desfiles. “Levo o manequim ao teste de cabelo e maquilhagem. Depois de aprovação por parte do designer, sento todos os manequins para serem caracterizados”, explica.
E não, os manequins não se podem sentar sozinhos, porque isso seria uma “confusão logística”. Finalmente maquilhados, é também Mariana que os ajuda a mudar para a zona dos cabeleireiros e, logo de seguida, os leva até ao local onde serão vestidos. E então começa tudo novamente.
A definir todo o processo descrito até aqui está Susana Godinho, a coordenadora dos bastidores. Enquanto rabisca no quadro onde está descrita a escala do dia, decide quem vai trabalhar em cada desfile. “Sou a responsável por montar toda a equipa de aderecistas e chefes de bastidores. Hoje são 34, sendo que seis são chefes de bastidores. Mas normalmente são quase o dobro”, destaca.
Ou seja, num dia “normal” de desfiles do PF, são perto de 70 pessoas envolvidas só no processo de bastidores, fora cabelo e maquilhagem. Durante o resto do evento, a coordenação da passerelle fica a cargo da consagrada produtora Isabel Branco e de Luís Pereira, CEO da Showpress.
Muitos dos aderecistas são estudantes que Susana Godinho vai buscar às várias escolas de Moda da cidade. “Tenho de ver que manequins é que cada aderecista veste e depois passar essa informação ao chefe de bastidores, fazendo um mapa de trabalho por dia”, explica, enquanto mostra a escala para o dia seguinte — nesta quinta-feira, quando apresentam nomes como Marques’Almeida ou Susana Bettencourt.
Na rampa da Garagem, as modelos alinham-se para o desfile. Lá está Vera Gomes a garantir que estão pela ordem correcta, enquanto cabeleireiros e maquilhadores ultimam os detalhes. Hugo Costa corre para a régie. A música soa bem alto e começa a magia da moda.