As mães e os comportamentos sociais dos filhos no pré-escolar

As crianças que têm comportamentos agressivos e socialmente retraídos apresentam um maior risco de desenvolver dificuldades socioemocionais futuras.

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As mães portuguesas consideram o comportamento socialmente retraído uma característica de “feitio” Manuel Roberto

A relação que a criança estabelece com os outros é uma questão fundamental no período pré-escolar. A capacidade de selecionar amigos específicos, de participar de forma bem-sucedida em atividades de grupo, de gerir os conflitos e retirar satisfação das interações é essencial para um envolvimento positivo com as outras crianças.

O retraimento social e a agressividade são comportamentos sociais que a criança pode evidenciar nos anos pré-escolares e que podem comprometer uma relação positiva com os seus pares. O retraimento social pode ser entendido como um isolamento autoimposto pela criança no grupo de pares (des)conhecidos, devido à ansiedade social. Distingue-se do isolamento ativo, no qual as crianças passam tempo sozinhas porque são ativamente excluídas, rejeitadas e/ou isoladas devido à sua agressividade, impulsividade e/ou imaturidade social.

Tudo isto nos leva a questionar se aquilo que os pais sentem e pensam acerca das causas, intencionalidade e estabilidade destes comportamentos sociais problemáticos, os objetivos que pretendem atingir na interação com os seus filhos e as estratégias que antecipam como mais adequadas para lidar com este tipo de comportamentos (i.e., crenças parentais) influenciam as condutas das crianças com os seus pares. A investigação mostra que estas crenças parentais guiam as respostas proativas (ex., encorajar a criança) ou reativas (ex., evitar as situações ou punir a criança) que os pais dão aos comportamentos sociais problemáticos dos seus filhos e, consequentemente, as condutas sociais das crianças no grupo de pares.

Um estudo recente conduzido numa amostra de 163 mães portuguesas de crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos, recrutadas nos distritos de Lisboa, Santarém e Funchal, mostra que estas relatam reações emocionais mais negativas, como a zanga, o desapontamento e a culpa, e níveis mais reduzidos de ansiedade e confusão em relação ao comportamento agressivo do que ao retraimento social. Tal pode relacionar-se com a expectativa generalizada dos pais de que, durante os primeiros anos de vida, os seus filhos desenvolvam algum controlo da agressividade e determinadas competências sociais.

Por outro lado, as mães portuguesas consideram o comportamento socialmente retraído uma característica de “feitio”, que se mantém estável ao longo do tempo, o que poderá estar associado a uma menor capacidade das mães de entender e adaptar as suas respostas a este comportamento das crianças. Contudo, consideram este comportamento menos intencional comparativamente ao comportamento agressivo, o que pode refletir alguma consciência da parte das mães de que o isolamento autoimposto da criança não é devido a desinteresse, mas a ansiedade social.

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O retraimento social e a agressividade são comportamentos sociais que a criança pode evidenciar nos anos pré-escolares e que podem comprometer uma relação positiva com os seus pares Getty Images

As crianças que têm comportamentos agressivos e socialmente retraídos apresentam um maior risco de desenvolver dificuldades socioemocionais futuras. Enquanto a agressividade está muitas vezes associada a um maior risco de abandono escolar e de criminalidade na adolescência, o retraimento social encontra-se mais associado a problemas de ansiedade. Neste sentido, é essencial compreendermos as crenças que os pais têm relativamente ao retraimento social e à agressividade, na medida em que estas podem influenciar a identificação destes comportamentos como problemáticos, sendo um passo fundamental para que os pais procurem ajuda profissional para os seus filhos, o mais cedo possível.

A procura de ajuda nos anos pré-escolares é essencial para que as crianças possam aproveitar melhor as oportunidades positivas que contribuem para o seu desenvolvimento. As famílias podem aprender a lidar com estes comportamentos, aceitando-os e compreendendo que não há nada de errado com a criança e/ou com os pais. Ao estabelecerem interações próximas e positivas com os seus filhos, os pais têm oportunidade de validar as emoções e pensamentos das crianças, explicando-lhes que não há problema em sentir emoções negativas, o que as ajuda a sentirem-se entendidas e apoiadas.

Assim, através de um contexto familiar seguro, as crianças promovem a sua confiança, autonomia e aprendem competências socioemocionais (ex., partilhar e ser gentil; mostrar interesse; escutar e colocar-se no lugar do outro) úteis para o estabelecimento de interações positivas no futuro.

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