O que fazer com um adolescente que mente?
Nem sempre a mentira deve ser combatida de forma directa e vale a pena perceber o que está a motivá-la.
Tem conselhos sobre mentir? O meu filho de 16 anos diz que mente para não me desapontar e que o faz sem realmente pensar no assunto, porque quer evitar a desilusão imediata. Compreendo isso e assegurei-lhe, em tantas ocasiões, que são as mentiras que me desiludem. Ele responde (uma vez mais) que vai passar a pensar antes de falar. Como posso começar a confiar nele?
Isto acontece com coisas simples como prometer que não vai usar o telefone durante a noite e ser apanhado a fazê-lo. Tiro-lhe o telefone ou volto a confiar nele na noite seguinte? Sendo uma família monoparental com dois adolescentes, o cansaço é imenso. Vale a pena "forçá-lo" a ir a um terapeuta?
Obrigada por escrever. Assumir a solo a parentalidade de dois adolescentes? Não duvido que haja esgotamento, e o meu primeiro conselho é para que tenha calma. Quer seja fruto de uma escolha, de uma separação, divórcio, viuvez, as famílias monoparentais têm regras próprias. Porquê? Porque não é razoável esperar que uma pessoa faça o trabalho de duas.
O seu filho disse-lhe claramente porque é que está a mentir: não quer ser motivo de desilusão. Isto leva-me a algumas perguntas: A pressão é demasiado alta? Será que as expectativas estão desenquadradas? Haverá uma história de vergonha e de culpa quando ele disse a verdade? Reflicta sobre o seu papel com honestidade. É verdade que todos os pais de um adolescente perdem a calma, mas será que a sua desilusão é palpável? As suas expectativas são razoáveis e amáveis?
Ou a vergonha do seu filho é algum tipo de culpa auto-imposta que vem de dentro? Ele é ansioso ou perfeccionista, ou tem distorções de cognição em relação à culpa, vergonha e verdade? Pode ser tão bondoso, compreensivo e aberto quanto possível, e o seu filho ainda pode ter algumas crenças falsas. Se pensa que a ansiedade ou depressão está em jogo, isto precisa de ser enfrentado com empatia e apoio com os profissionais adequados.
Quanto ao que notei, pode ser que quando ele mentiu em muitas ocasiões e ouviu que são as mentiras que são decepcionantes não tenha percebido. Lembre-se: os humanos são alérgicos a sentir-se separados de quem estão ligados, por isso mesmo a ideia de desilusão pode fazer com que o seu filho se feche e se sinta envergonhado. Pode estar a separar a mentira do seu filho, mas ele pode não estar.
Outro ponto: quando se trata de ecrãs, muitos (se não a maioria) dos adolescentes não conseguem resistir ao canto da sereia. Promessas, garantias e as melhores intenções saem pela janela à medida que as mensagens, os convites para jogos e os alertas das redes sociais entram. De facto, a maioria dos adultos não se consegue controlar quando se trata dos seus próprios dispositivos, pelo que o seu filho não está sozinho.
Por agora, deixaria de falar sobre a mentira, nem que fosse porque não está a funcionar, e convocaria uma reunião com ele e diria: "Tem havido alguma dificuldade em desligar os ecrãs durante a noite. Diz-me o que se está a passar". Depois ouça o seu filho. É trabalho de casa? Um interesse romântico? Jogos? Filmes? Podcasts? É preciso compreender o seu ponto de vista se se pretende criar soluções com ele.
Depois de ter compreendido completamente o problema, pode dizer: "A questão é que o teu sono é da maior importância, e a luz azul está a atrapalhá-lo. O que podemos fazer para mudar isto?" Ambos precisam de gostar das soluções; isto terá mais hipóteses de funcionar, porque esperamos que o seu filho não sinta a necessidade de mentir, e ambos terão um objectivo comum. Tudo isto vem directamente do modelo de resolução de problemas explicado em A Criança Explosiva, de Ross Greene. Quando usado correctamente, é respeitoso e eficaz tanto para os pais como para os adolescentes.
Tire o foco das mentiras, aprecie a honestidade do seu filho, olhe para os padrões e ocupe-se em criar soluções em conjunto. Boa sorte.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Carla B. Ribeiro