Os 73 segredos das mentes milionárias para uma vida zen
Vocês descobriram que se escreverem as mesmas frases infinitas vezes, as pessoas infelizes vão dar-vos dinheiro.
Estou farta de gurus. Lamento se não vou a tempo de ser salva, de despertar o gigante que há em mim, de chegar à minha melhor versão, de fazer amigos e influenciar pessoas, de manifestar os meus sonhos, de saber os segredos da mente milionária, de pertencer ao clube das 5 da manhã, de ter pequenos hábitos para grandes resultados.
Não quero saber da arte sueca para uma vida equilibrada, do caminho japonês para a felicidade, nem do segredo dinamarquês para uma vida melhor. Eu não quero trabalhar enquanto os outros dormem, nem quero ter uma vida mágica. Eu quero, por favor, que parem com esta mania de ensinar aos outros o caminho para a luz. Apenas vivam. Parem de achar que descobriram a forma certa de viver em 12 passos.
Não sintam que têm de entregar manuais de instruções para a vida. Já há peso suficiente sem as vossas regras e os 67 hábitos para fazer ao acordar. Estão apenas a conseguir frustrar as pessoas, ou a criar alucinados. Não, vocês não despertaram. Vocês descobriram que se escreverem as mesmas frases infinitas vezes e falarem de coisas como energia quântica, as pessoas infelizes, por todas as razões que factualmente existem para se estar descontente, vão dar-vos dinheiro.
Quando é que o mundo se tornou nesta sessão de desenvolvimento pessoal? É uma epidemia que transforma pessoas que leram dois livros de auto-ajuda em mestres espirituais e líderes corporativos. Estão a espalhar-se de forma descontrolada. E estão a conseguir converter cada almoço numa sessão de coaching.
Eu não quero, antes de saber qual vai ser o meu prato, ter de dizer qual é o meu propósito. Eu não quero que se sintam no direito de me revelar quem sou porque leram um livro que ensinava a decifrar pessoas. Nem que me indiquem o que fazer porque aprenderam que mergulhar em banheiras de gelo ajuda a reprogramar o sistema nervoso. Eu quero poder conversar e fofocar com as minhas amigas sem que o Universo esteja constantemente a entrar na conversa.
Eu não quero competir no novo mundo do trabalho. Eu não quero, mesmo, saber as 48 leis do poder, nem o que fazem as pessoas altamente eficazes. Eu não preciso das ferramentas dos Titãs nem das armas da persuasão. Eu não quero tornar-me sobre-humana. Se eu sou aquilo que penso, então eu sou uma pessoa que pensa em estar sossegada.
Eu quero poder distrair-me um pouco da vida. Quero comer bitoque, quero dançar, quero poder olhar aleatoriamente para o tecto, quero ler histórias, quero descansar bem. E quero que o guru que está mortinho para saltar de dentro da pessoa que está a ler isto e que está a pensar que pode ajudar-me a melhorar com um esquema de mindfulness, por favor não o faça.
O meu segredo para uma vida mais feliz é não perder tempo nesta constante obsessão com os resultados e a paz interior. Eu encontro a paz interior quando não me enchem a cabeça com frases de impacto onde se repetem constantemente as palavras gratidão e plenitude.
A chave para viver o agora? Viver mesmo o agora, em vez de passar o tempo a tentar incorporar todas as etapas de uma lista infindável e inatingível.
Se fosse segredo, não vendia milhões de cópias e, se fosse assim tão simples, a proporção entre milionários e as restantes pessoas não seria tão desequilibrada.
O caminho para uma vida zen? Parar de ler livros com milhares de obrigações encapotadas de conselhos, com julgamentos moralistas encapotados de dicas de bem-estar, e com frases passivo-agressivas e perigosas como “basta querer para seres rico”, disfarçadas de sabedoria.
Filósofos dedicaram as suas vidas a estudar e a tentar chegar ao sentido da existência. Colocam-se estas questões desde sempre, mas a cada dia aparecem bloggers que se garantem aptos para esclarecer a humanidade, porque encontraram a luz numa viagem para Bali.
É claro que há excepções e pessoas que efectivamente ajudam muito os outros. Mas depois há os palestrantes milionários a ensinarem os outros como viver. Se eles são o exemplo, corremos o risco de entrar num loop infinito, em que a única forma certa de viver é estar constantemente a ensinar aos outros como viver. Até que, de repente, ninguém vive. Não descansam enquanto não acabarem com a vida como ela é. Por este andar, a vida vai transformar-se numa infinita palestra motivacional.