O poder do perdão
Embora o perdão pertença ao domínio relacional, atrevo-me a dizer que podemos perdoar sem o outro saber, sobretudo, quando a convivência com aquela pessoa não nos faz bem.
Pensar em perdoar é difícil, pode parecer que estamos a aceitar e a desresponsabilizar quem nos feriu. A resposta mais imediata a um pensamento assim pode ser: “O que ele/a fez não tem perdão!”
Às vezes é mais fácil perdoar quando quem nos magoou pede desculpa, agiu sem má intensão ou quando a ofensa é pouco grave. O perdão não cabe em actos de violência, esta é a esfera do maltrato, neste caso, temos mesmo de nos afastar e impor limites.
Perdoar é ser compassivo para consigo mesmo e ninguém é, nem deve ser obrigado a fazê-lo porque o perdão, além de ser um direito é voluntário, cada um é livre para decidir o que é melhor para a sua paz interior. Há quem o faça com um propósito religioso ou simplesmente porque não quer viver com ressentimento. Pode também acontecer que o acto seja imperdoável aos olhos da maior parte das pessoas, mas quem foi ferido é capaz de perdoar, simplesmente porque perdoar é mais nosso do que de quem nos ofendeu.
Embora o perdão pertença ao domínio relacional, atrevo-me a dizer que podemos perdoar sem o outro saber, sobretudo, quando a convivência com aquela pessoa não nos faz bem. Noutras situações podemos até compreender, mas mesmo assim não perdoar. Também temos esse direito.
Quem foi ofendido pode carregar uma mágoa profunda, a necessidade de vingança, sentimentos de raiva do outro e às vezes de si próprio, tanto pela ofensa em si como porque acha que não fez isto ou que deveria ter dito aquilo. Estes sentimentos podem gerar uma amargura que compromete as outras relações à sua volta e escalar para comportamentos de agressão.
Mas perdoar é também um processo de luto que pode ser complexo e demorar anos, sendo usado como um recurso importante para a regulação emocional.
Os benefícios do perdão para quem perdoa estão estudados e sabe-se que o processamento adequado de emoções não resolvidas desempenha um papel importante para a pessoa conseguir a transformação das mesmas e o equilíbrio. Isto implica que a pessoa que foi magoada aceite, respeite e legitime as suas emoções mais negativas e as implicações das mesmas na sua vida.
Ser paciente consigo próprio e respeitar o seu processo de perdão e de libertação sem impor data pode ajudar a pessoa a reduzir o ressentimento, a raiva, a ansiedade e aumentar a esperança e o optimismo no futuro. Por isso é que o perdão é tão importante, acima de tudo, quem se cura e fica em paz somos nós!