Natal com tecnologia, mas sem perder a magia

Neste Natal, cada presente tecnológico deveria vir acompanhado de outro presente: um pacote de princípios orientadores que ajudem as famílias a assegurar uma gestão saudável das tecnologias digitais.

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Sabemos que o tempo exposto aos meios digitais acarreta consequências para a saúde física e psicológica ADRIANO MIRANDA

Vivemos numa sociedade que aposta fortemente na inovação, assente no desenvolvimento contínuo da tecnologia e na sua democratização, com impacto no modo como planeamos e vivemos as nossas vidas.

Neste contexto, destacam-se as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e a Internet, que vieram modificar a forma como nos relacionamos uns com os outros e com o mundo.

Assistimos, a nível mundial, a um crescimento muito significativo da utilização das TIC e do tempo que passamos online. Segundo o relatório “Enquadramento epidemiológico: uma breve perspetiva da situação atual” (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, ​SICAD, 2021), Portugal tem seguido a tendência da União Europeia nos últimos dez anos quanto ao uso da Internet, progressivamente mais alargada na população. Em 2020, cerca de sete em cada dez portugueses usaram a Internet diariamente, sendo estes dados superiores no grupo etário de 15-24 anos, numa socialização cada vez mais digital e com presença mais assídua nas redes sociais.

A situação de pandemia de covid-19 veio acentuar esta tendência evolutiva, resultando em novos e redobrados desafios. Ao mesmo tempo, evidenciou as potencialidades das tecnologias, nomeadamente ao nível da comunicação e relacionamento interpessoal. Estas permitiram a manutenção do contacto com a rede social de referência e uma ligação ao mundo, num tempo em que o contacto presencial esteve fortemente condicionado.

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Em 2020, cerca de sete em cada dez portugueses usaram a Internet diariamente Aleutie/Getty Images

Sabemos que o tempo exposto aos meios digitais acarreta consequências para a saúde física e psicológica dos indivíduos, com riscos acrescidos em situações de uso excessivo ou problemático, podendo evoluir inclusivamente para uma dependência online. A este nível, as crianças e jovens encontram-se mais expostos aos perigos associados, face à sua utilização natural de redes sociais e videojogos, numa fase de desenvolvimento onde a sua capacidade de autorregulação emocional e comportamental se encontra em consolidação.

Esta constatação vem sublinhar a importância do papel dos pais e educadores no acompanhamento, monitorização e sensibilização dos mais novos, visando fomentar a adoção de comportamentos online saudáveis e seguros, através da promoção de uma efetiva literacia digital.

À medida que a época de Natal se aproxima, somos cada vez mais confrontados com apelos ao consumo, inevitavelmente ligados às tecnologias digitais e aos mais recentes gadgets. Num país que ocupa atualmente o 8.º posto na lista de países europeus com maior risco de pobreza ou exclusão social (Eurostat, 2022), com um poder de compra cada vez mais reduzido, épocas como esta são, inevitavelmente, uma oportunidade para se adquirir tecnologia, considerada praticamente um bem de primeira necessidade.

É tendo em conta esta realidade que, neste Natal, cada presente tecnológico deveria vir acompanhado de outro presente: um pacote de princípios orientadores que ajudem as famílias a assegurar uma gestão saudável das tecnologias digitais, tais como:

— Reconhecer os benefícios decorrentes da utilização das TIC e da Internet, no contexto de uma utilização regrada das mesmas;

— Alertar e sensibilizar para os riscos de estar online, com base em informação fidedigna, manifestando disponibilidade e prestando o apoio necessário;

— Definir conjuntamente (entre adultos e crianças/jovens) regras e limites claros na utilização das tecnologias, adaptados à idade e características dos mais novos; são exemplos, a definição de tempos limitados de utilização, horários predefinidos, acesso condicionado a conteúdos online, acesso a videojogos adequados à idade;

— Estar atento à vida digital da criança/jovem, assegurando uma supervisão parental próxima, ainda que promotora de autonomia e de respeito pela sua privacidade de forma adequada à faixa etária;

— Assegurar a existência de momentos offline, com a realização de atividades em família que sejam geradoras de bem-estar, novas experiências e aprendizagens;

— Que a magia deste Natal nos inspire e mobilize para que, em conjunto, saibamos agir com prontidão e de forma preventiva face a todos os desafios que o desenvolvimento tecnológico nos coloca, individual e coletivamente.

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