Aprenda a ser feliz

E quando, acidentalmente, paramos, vem aquele vazio enorme e avassalador. Que é tão difícil de entender e integrar, que se torna mais simples continuar, sem consciência de que se trata da nossa vida. Mas esta é única, mágica e preciosa.

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Chandan Chaurasia/Unsplash

Todos almejamos a felicidade. “Desejo ser feliz”, é um pensamento que já passou pela cabeça de todos, mas será que parámos para pensar naquilo que verdadeiramente nos faz felizes?

Vivemos a mil à hora, quase sempre em piloto automático. Corremos desenfreadamente, dia após dia, na tentativa de cumprir a nossa infindável lista de tarefas. Tantas vezes desligados de quem somos e do que desejamos intimamente. Sentimos que não temos sequer o direito de olhar para dentro, porque a vida cá fora nos ultrapassa.

E quando, acidentalmente, paramos, vem aquele vazio enorme e avassalador. Que é tão difícil de entender e integrar, que se torna mais simples continuar, sem consciência de que se trata da nossa vida. Mas esta é única, mágica e preciosa.

A pandemia veio deixar a descoberto tanto de nós. Destapou aquilo que teimávamos querer esconder. Enorme foi o impacto na saúde mental e no nosso bem-estar.

Estudos realizados com quem se encontra no final da vida concluem que um dos maiores arrependimentos é não terem dedicado tempo suficiente ao que verdadeiramente importa.

A grande maioria das vezes, o despertar dá-se quando ocorre um evento traumático. Acontece, por exemplo, quando alguém que amamos adoece e, de repente, sentimos que a vida é fugaz, e que mais vale aproveitá-la.

Mas não tem de ser assim. Está nas nossas mãos fazermos diferente e alcançarmos uma vida mais prazerosa. Podemos levar mais presença e consciência à nossa vida. É uma jornada interior, feita de reflexões e caminhos possíveis.

Vitor Frankl (1905-1997), neuropsiquiatra austríaco e sobrevivente do Holocausto, esteve preso em campos de concentração, onde acabou por perder a sua mulher grávida, pais e irmão. Dedicou-se à busca de um sentido para a vida, que lhe permitiu integrar a sua vivência dolorosa e seguir em frente. A liberdade de escolha é de cada um de nós, diz.

Qual é o meu propósito de vida? Qual é a minha missão? Imagino que já se tenha colocado estas questões. Sei que a resposta nem sempre é clara. Mas é um tema que merece ser olhado. E tantas são as ferramentas que nos podem ajudar neste mergulho para dentro.

A Psicologia Positiva, ciência da felicidade, dedica-se a estudar de que forma podemos ser mais felizes, no nosso dia-a-dia. Temas como as emoções positivas, os relacionamentos, o propósito, o amor, a espiritualidade, a esperança, o bem-estar são estudados por esta área da psicologia. Ensina-nos a olhar para as nossas forças de carácter, deixando para segundo plano os nossos “defeitos”. E, se pensarmos bem, estamos mais talhados para notar o que de pior temos, ao invés de valorizarmos as nossas valências pessoais.

Quando se constrói uma casa, começa-se pela base, que deve ser sólida e bem cimentada. E assim é também connosco. Aprender a conhecermo-nos melhor, investigar o que mais desejamos da vida, termos à nossa volta quem nos quer bem, é sempre uma boa aposta para alcançarmos uma vida com mais significado.

A meditação mindfulness, vista como filosofia de vida, de maior consciência e amor, é um caminho que pode, também, trazer muitos entendimentos e conduzir a um maior bem-estar. Trata-se, simplesmente, de levar consciência às várias dimensões da vida. Jon Kabat-Zinn (1944-), professor norte-americano de medicina, define esta prática como a capacidade de estarmos em atenção plena, de forma intencional, sem julgamentos, no momento presente. É simples, não significando ser fácil. O treino da mente exige disciplina e um hábito demora o seu tempo ser instituído.

Se calhar já leu vários destes textos. Que fazem sentido na hora, mas assim que volta à sua vida corriqueira, logo os esquece. Sei bem como é. Mas hoje é sempre o melhor dia para começar! Arranje um caderno que o vai acompanhar neste percurso. Nele vai poder escrever o que sente, quais os seus desejos, o que o deixa feliz, os seus sonhos, os seus medos.

Nos próximos 21 dias, reserve dez minutos diários só para si. Procure um sítio reservado, onde se sinta bem e em paz. Pode ser junto à natureza, perto da praia ou mesmo em sua casa. Feche os olhos e sinta a sua respiração. Sempre que se perder em pensamentos, volte a trazer a atenção à respiração. Uma e outra vez. Apenas isto. Pode ajudar ter alguém para trilhar este caminho consigo. Um amigo, um familiar, um companheiro.

Após a prática de meditação, escreva no seu caderno tudo o que sente. Sem julgamentos, nem expectativas. Não há boas nem más meditações. Confie no processo, deixe-se ir e tenha paciência. “Roma e Pavia não se fizeram num dia.”

Durante esses 21 dias, vai lembrar-se de momentos prazerosos da sua vida. Leve consciência ao que de bom lhe aconteceu durante a sua vida. E lembre-se: a vida é passo a passo. Sem correrias, nem pressas de chegar. Aproveitar cada segundo da caminhada é uma arte.

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