Sabe aquela sensação de aperto no peito e de inquietação, o coração a bater cada vez mais forte, os ombros contraídos, a dificuldade em respirar? A prática de mindfulness pode ajudar a não fazer da ansiedade “um papão” e a evitar que “o medo” da pandemia da covid-19 “tome conta de nós”, defende o psiquiatra José Pinto Gouveia, presidente Associação Portuguesa para o Mindfulness (APM), ao PÚBLICO.
“Não há uma forma mágica de lidar com o medo, mas há algumas coisas que podemos fazer”, defende Pinto Gouveia. Por isso, aconselha a não remoer “as históricas que a mente faz, as projecções do futuro sobre a ameaça se ficaremos ou não infectados, se sobreviveremos à pandemia ou como vamos proteger a nossa família” porque, essas histórias “só vão aumentar a ansiedade, a angústia e o medo”, impedindo de raciocinar claramente.
Segundo Dulce Gonçalves, da Associação Mentes Sorridentes, o mindfulness implica ter consciência do presente, “estar no aqui e no agora, sem deixarmos que os pensamentos nos controlem, porque, ao meditar, vamos focar-nos na respiração ou nos sons que ouvimos”. Por isso, sugere integrar a prática na rotina diária — esta prática faz parte da lista de conselhos da Organização Mundial da Saúde (OMS) para quem está em isolamento. A especialista, que está a fazer um doutoramento na área da meditação, aconselha a parar por uns minutos, relaxar e tentar não pensar em nada. E não se preocupe se a mente começar a dispersar, é normal, avisa.
Um kit de primeiros socorros
José Pinto Gouveia criou um “kit de primeiros socorros mentais para quem está na linha da frente, que lida com a verdadeira ameaça”, mas que pode ser seguido por qualquer pessoa. O psiquiatra convida, assim, a uma prática de seis minutos para “activar o sistema de segurança e tranquilizador”.
Num vídeo na página de Facebook da APM, de voz serena, Pinto Gouveia vai guiando os profissionais: “Comecem por sentar numa cadeira e procurem uma postura com conforto e tranquilidade.” Depois, continua: “Deixem que os vossos olhos se fechem suavemente e comecem por se ligar bem ao vosso corpo, que é tentar senti-lo por dentro, sentir a vossa ligação à terra, notando a pressão que a cadeira faz.”. O psiquiatra aconselha a mantermos um sentimento de ligação com os outros, apesar do confinamento em casa. Também a Associação Mentes Sorridentes tem publicado várias meditações guiadas para ajudar a relaxar em tempo de coronovírus.