Bater não é nem nunca será a solução

Os elogios não devem ser reservados só para momentos perfeitos e, no caso de crianças mais difíceis, devem ser ainda mais frequentes.

Foto
@PETERCALHEIROS

À medida que a criança cresce, aumenta a necessidade da descoberta do mundo que está à sua volta. Este movimento de exploração, quando apoiado pelos adultos, cria confiança e vai ser também responsável pelo seu comportamento nos ambientes sociais, ao longo da vida. Aos três anos é natural que a criança apresente comportamentos de oposição, faça birras, diga “não faço” ou “não vou”. Ela está a explorar o mundo e a descobrir os seus limites. O papel dos pais é ajudá-la a saber até onde pode ir e mostrar que se preocupam com ela porque as regras e os limites quando aplicados de forma responsável e respeitosa são laços de afeto e de proteção.

Pelo contrário, a punição física, ou seja, o bater apenas causa humilhação e quanto mais frequente, mesmo a palmada no rabo, que pode parecer mais eficaz no momento, não ensina a criança a controlar-se e apenas mostra descontrolo dos pais. Além disso, bater estabelece um exemplo de violência, ou seja, os pais estão a servir de modelo ao utilizar a força para conseguir o que desejam. Desta forma, torna-se legítimo para a criança que na interação com os seus colegas e, mais vezes do que se deseja, com os próprios pais, seja agressiva para conseguir o que quer — é a lei do mais forte.

O que fazer?

Guie a criança
A consistência das suas respostas e a disponibilidade para ensinar a criança a gerir as contrariedades vão facilitar a aprendizagem da expressão de emoções nas situações de frustração e, consequentemente, a resolvê-las da melhor forma. Assim, ao mesmo tempo que ensinam as regras sociais à criança, a capacidade de negociação, a resolução de problemas, a tolerância à frustração e a autorregulação, os pais proporcionam o sentimento de segurança necessário à adaptação da criança com sucesso às exigências do meio. Isto significa estabelecer regras, guiar e direcionar os comportamentos da criança, impondo consequências (que não significa retaliação) e flexibilizando quando necessário.

Foto
@PETERCALHEIROS

Definir e dar a conhecer à criança até onde pode ir promove o seu sentimento de previsibilidade e de segurança, tornando o mundo mais seguro para explorar. Se os limites e as consequências do comportamento estiverem bem definidos, a criança sentirá que é mais fácil tomar decisões acerca do que fazer.

É importante explicar à criança que comportamento desagradou os pais e o que pretendem que ela faça, num tom firme, mas nunca agressivo ou ameaçador, olhos nos olhos, de forma breve, sem críticas e violência. Uma bofetada mostra raiva e incapacidade de lidar com a criança adequadamente e as críticas são destrutivas da relação e deixam a criança na defesa.

Nunca se deve punir uma criança com uma tareia, com a ameaça de abandono ou de que vai deixar de gostar dela, com humilhação perante os outros ou com a retirada de comida ou bens essenciais.

Por outro lado, tente encontrar um equilíbrio em relação à exigência. A criança que arruma a cama, mesmo que de forma menos perfeita, está a colaborar; uma crítica, muitas vezes diária, apenas contribui para criar ressentimento e não tem o efeito de mudar o comportamento, como os pais queriam.

Antecipe as dificuldades e prepare-se
A vivência do dia a dia mostra aos pais quais são os comportamentos indesejados que se vão repetir. Se anteciparem e planearem alternativas mais funcionais, podem evitá-los ou reduzir a sua força. Assim, podem pensar no que causa os problemas e como podem fazer diferente. De manhã, por exemplo, se todos se atrasam porque as crianças demoraram a escolher a roupa, então, devem deixá-la preparada no dia anterior; se o problema é o tempo que as crianças demoram a tomar o pequeno almoço, desligar a TV até terminarem de comer pode ser a solução.

Realce qualidades e bons comportamentos
O maior prémio para uma criança é o reconhecimento e o elogio dos pais, sobretudo as mais novas. Muitas vezes, os pais estão muito centrados na punição ou na crítica, esquecendo-se de realçar o bom comportamento da criança, a sua capacidade de lidar com a frustração, a sua autonomia ou a sua capacidade para resistir a um impulso. Reforçar o bom comportamento é muito mais eficaz do que penalizar o comportamento desadequado, porque aumenta a probabilidade daquele acontecer novamente e reforça os laços com a criança.

Os elogios não devem ser reservados só para momentos perfeitos e, no caso de crianças mais difíceis, devem ser ainda mais frequentes. Além disso, o reconhecimento do bom comportamento deve ser imediato e específico, explicando a que os pais se referem. O contacto visual e um sorriso são igualmente importantes.

Por fim, revela-se fundamental que os pais façam o movimento contrário ao habitual, ou seja, que deixem de sobrevalorizar as dificuldades e os aspectos que consideram menos positivos dos seus filhos e passem a dar atenção às competências e capacidades da criança, isto favorecerá a construção de uma imagem positiva da criança.

Ensine a criança a usar as suas competências de persistência para vencer a impulsividade e a agressividade, fazendo com que as experiências de sucesso aumentem.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

Sugerir correcção
Ler 4 comentários