Assédio, poder e sistemas de oportunidade
Não há dúvida de que existe assédio na universidade e que muito é de natureza sexual. Mas diria que o assédio que mais persiste na universidade portuguesa é o assédio moral.
É de um linguista britânico a célebre frase “conhecemos uma palavra pela companhia que mantém”, com a qual sumariava, na identificação do significado de uma palavra, a importância das palavras que mais vezes com ela ocorrem no discurso. Vem isto a propósito de assédio e universidade, duas palavras que têm tantas vezes aparecido juntas nos textos dos media nas últimas semanas. Mas nesses textos, que palavra tem ocorrido com a outra? Tem sido universidade que tem ocorrido com assédio ou assédio é que tem ocorrido com universidade? De um ponto de vista mediático, a palavra que gerou a ocorrência da outra terá sido assédio, pois essa foi a palavra que motivou tudo o que a propósito se escreveu. A associação de universidade a assédio é circunstancial, isto é, não tem função definidora, como assédio, tem sobretudo função modificadora, ajudando na definição do tipo de assédio: assédio na universidade. Ora, acontece que as palavras não são apenas palavras, formas, são também conceitos. E o conceito que está por detrás da expressão assédio na universidade é tudo menos um conceito simples, único e inequívoco.
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