Curioso, investigador, procurando nas profundezas de si próprio e do som com o pseudónimo Plastikman ou então enfrentando multidões dançantes em nome próprio, Richie Hawtin: ao longo de três décadas tem sido assim com um dos grandes nomes da 1ª edição lisboeta do Sónar, festival que, desde os anos 90, se tem projectado a partir de Barcelona como um dos mais importantes do mundo.
O festival chega esta sexta-feira a Lisboa para uma 1ª edição, no dia em que Richie Hawtin actua, lança um álbum com Gonzales e adianta, em entrevista a Vítor Belanciano, estar a construir um estúdio na Comporta.
“Claro que as pessoas querem divertir-se, dançar, mas querem sentir também que a música é capaz de ter um propósito sociopolítico. A década de 2000 foi muito hedonista. Agora existe um regresso aos princípios fundadores da música de dança, quando o house ou o tecno eram música de resistência”, diz Richie.
Há música, arte e conferências em espaços diversos de Lisboa, com nomes como Arca, Thundercat, Charlotte de Witte, The Blaze, Dengue Dengue Dengue, Floating Points ou Bicep. De sexta a domingo, o Sónar na cidade.
Agora, duas fulgurâncias na música portuguesa:
Norberto Lobo escreveu canções para Leonor Arnaut, imaginou-as em quarteto e, com Ricardo Martins e Raquel Pimpão, nasceu uma banda "deliciosamente inclassificável" (Mário Lopes dixit), a Fumo Ninja: Olhos de Cetim é imperdível.
O coup de foudre de Gonçalo Frota: um Filho da Mãe entre o céu e a terra. Ao sexto álbum, Rui Carvalho junta a guitarra eléctrica à clássica e faz um "álbum arrebatador", Terra Dormente
O novo livro de Javier Marías está aí: Tomás Nevinson. "Reflexivo, irónico, satírico e mais pessimista do que nunca", é um dos seus melhores romances. O primeiro filme de Pasolini também, Accattone, uma obra-prima.
Já que falamos de cinema, não deixe passar-lhe ao lado Amantes, de Nicole Garcia. Se me perguntam a que género pertence o filme, terei dificuldade em responder: talvez o film noir ou o melodrama conjugal. As personagens são relutantes continuadoras de um destino, de uma história pré-determinada, o que as torna imprevisíveis, misteriosas, tristes e comoventes, sejam elas o marido enganado, a mulher fatal ou o amante que reaparece. O molde é simultaneamente preenchido e evitado.
Não ignore também Quando Neva na Anatólia. O cenário muda – um internato nas montanhas nevadas da Anatólia – e é decisivo o cenário para tudo o que se passa no filme de Ferit Karahan. Isto é: se o plot puxa pela corrida contra o tempo, a de como salvar um dos miúdos que adoeceu, que acordou incapaz de se mexer, tudo no filme, das personagens dos professores e directores à paisagem, à neve, tende para a imobilidade. É um daqueles filmes que contam, antes de mais, a história de um décor claustrofóbico. Saiba-se mais dele: um internato da Anatólia, onde professores turcos dão aulas a estudantes curdos...
Tété-Michel Kpomassie foi o primeiro africano a pisar o Ártico, há 50 anos. Essa aventura narrou-a em O Africano da Gronelândia, livro que conhece agora a sua primeira edição em Portugal. É na Gronelândia que Tété, natural do Togo, quer terminar os dias. A escrever acerca da infância na sua floresta equatorial. Longe das árvores, na terra do gelo... Isabel Lucas entrevistou-o... fiquem com as aventuras de Michel, o Gigante.