Como explicar a guerra às crianças

Mal saímos da pandemia e esta situação vem impor novamente imprevisibilidade e insegurança pondo à prova a nossa capacidade de resiliência.

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"As crianças podem sentir-se inseguras e receosas de que aquilo que parece longe comece a aproximar-se" @petercalheiros

A Rússia invadiu a Ucrânia e é fácil perceber o impacto que esta guerra poderá ter na cabeça das crianças, desde aquelas que, embora estejam em Portugal, têm origem num destes países até às que são portuguesas mas ouvem falar e vêem na televisão imagens de uma guerra real com casas destruídas e pessoas feridas.

Mal saímos da pandemia e esta situação vem impor novamente imprevisibilidade e insegurança pondo à prova a nossa capacidade de resiliência. Pese embora não façamos directamente parte desta guerra, não deixamos de estar envolvidos e de sofrer as consequências, porque este não é um problema só da Ucrânia nem só da esfera política, é sim uma situação que traz incerteza e que exige o envolvimento de todos, dada a crise económica e social que se instala.

Há tensão, pessoas a precisarem de ajuda e a televisão está sempre a mostrar imagens de devastação. Desta forma, será importante que os pais estejam atentos ao impacto emocional que esta situação pode causar nos seus filhos, mostrando-se tranquilos e ajudando a criança a perceber o que se passa e, ao mesmo tempo, a manter o seu sentido de segurança.

O que fazer?

A mentira sobre a existência da guerra ou fazer de conta que não se passa nada deve ser evitada, porém, as crianças devem ser poupadas a assistirem a demasiadas notícias, porque ver bombardeamentos, ouvir falar em invasões, ataques e explosões em nada irá contribuir para o seu desenvolvimento, pelo contrário, poderá trazer medo e pensamentos que quando não são partilhamos e esclarecidos podem causar ansiedade e receio.

Explique à criança o que se passa atendendo à sua idade, sem detalhes que a possam assustar. Se for uma criança com temperamento inseguro, tenha mais cuidado. As perguntas devem ser respondidas de forma tranquila, sem correr o risco de a assustar com uma resposta impulsiva ou dramática. Se não sabe o que dizer, informe-se primeiro, filtre informação e prepare o que vai transmitir.

As crianças podem sentir-se inseguras e receosas de que aquilo que parece longe comece a aproximar-se. Tranquilize-as com o facto de que procuramos a paz e existirem pessoas que estão a tentar resolver a situação.

Reconheça a preocupação da criança, validando os seus sentimentos e ao mesmo tempo focando na segurança da família e no facto de estarmos distantes. Diga que é normal sentir medo ou insegurança e que os pais vão protegê-la e ajudá-la no que precisar. Aproveite para falar sobre a importância de resolver os problemas sem violência.

Há alguns movimentos de solidariedade a surgir, certifique-se com a escola do seu filho se estão a fazer algum tipo de recolha de bens e tente envolvê-lo na doação de forma a sentir que está a contribuir para ajudar outras crianças.

Ajude a criança a encontrar algumas “ferramentas” que a encoraje a lidar com o medo, como a respiração 4x4, já aqui falada, ou um desenho que simbolize os seus sentimentos e receios. Peça para incluir no desenho quem a poderá ajudar a vencer o medo e, se ela quiser, incentive-a a criar uma imagem num pequeno cartão que sirva para indicar que precisa de ajuda para lidar com o medo, basta mostrar-lhe o cartão.

Outra estratégia consiste em criar uma história que pode ajudá-la a falar sobre os pensamentos que lhe provocam medo, com um pequeno diálogo entre ela e o medo, incluindo respostas realistas.

Caso considere que a criança está muito preocupada e assustada, procure ajuda especializada.

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