Depressão na adolescência: o sofrimento dos jovens
Tristeza e depressão não são a mesma coisa, na medida em que a tristeza tem geralmente uma duração limitada e não causa o mal-estar intenso característico da depressão.
A adolescência é uma fase de desenvolvimento especialmente sensível ao aparecimento de sintomas de instabilidade emocional, dada a necessidade de enfrentar novos desafios e mudanças de vida.
São muitas as exigências com que se deparam os adolescentes, pese embora, este período não tem de significar necessariamente que um adolescente terá problemas psicológicos ou dificuldades de adaptação. Poderá haver uma aumentada propensão a estes problemas devido às mudanças físicas, psicológicas, cognitivas e sociais que podem causar desorganização no jovem, sendo que uma estrutura psíquica e familiar equilibrada são factores de proteção.
Na actualidade, a depressão tem-se configurado como um dos problemas de saúde pública mais graves, com elevada incidência em qualquer idade ou condição socioeconómica. Contrariamente ao que se julgava no inicio do século XX, a investigação tem demonstrado que as perturbações do humor são frequentes e prevalentes na infância e na adolescência. No pior cenário, a depressão pode levar o individuo a pensamentos relacionados com a morte ou mesmo a cometer suicídio.
Os sinais e sintomas mais comuns podem envolver componentes cognitivas, biológicas e comportamentais. O impacto da depressão no adolescente é semelhante ao do adulto, porém, as perturbações depressivas na adolescência são frequentemente sub-avaliadas e consequentemente, muitos adolescentes não recebem o tratamento adequado.
Em alguns jovens os sintomas da depressão estão relacionados com baixos níveis de aptidão social e de auto-estima relacionados com um sentimento de incapacidade de fazer amigos e de manter-se num grupo que lhe traga satisfação.
As raparigas apresentam maior tendência para desenvolver sintomatologia depressiva do que os rapazes, no entanto, estes últimos parecem apresentar depressões mais graves e numa idade mais jovem, frequentemente associada a problemas de comportamento e com um pior prognóstico.
Assim, nunca é demais relembrar que tristeza e depressão não são a mesma coisa, na medida em que a tristeza tem geralmente uma duração limitada e não causa o mal-estar intenso característico da depressão.
Sinais de alerta
Esteja atento às mudanças de comportamento e do humor que alteram significativamente a capacidade de funcionamento do jovem nos contextos onde se movimenta, ou seja, familiar, social e escolar. O conjunto de sintomas apresentado abaixo deve ser considerado atendendo à sua intensidade e frequência, dado que é natural, por vezes, que qualquer um de nós sinta, por exemplo, tristeza e falta de interesse numa atividade. O que não se espera é que isso dure muito tempo (todos os dias, por pelo menos duas semanas consecutivas).
São exemplos: humor deprimido a maior parte do dia, quase todos os dias (autodepreciação, choro frequente e sentimentos de culpa); desinteresse generalizado das actividades, mesmo as que antes davam prazer, durante a maior parte do tempo; diminuição ou aumento do apetite e/ou do sono; irritação e agressividade; dificuldade de concentração; sentimentos de inutilidade e de vazio; falta de energia; falta de interesse pelo estudo; isolamento (não quer estar com os seus pares nem familiares); agitação ou lentificação psicomotoras; olhar ausente, desânimo, perda de confiança no futuro, pensamentos ligados à morte ou à autoagressão ou ao suicídio.
O que podem fazer os pais?
Não subestime o que o seu filho está a sentir e se tem dúvidas sobre a possibilidade de ele estar a sofrer de depressão, procure os cuidados adequados junto de psicólogos e psiquiatras certificados.
Diga sempre ao seu filho que o ama, dê-lhe atenção e faça elogios. E não suponha que ele sabe disso, esquivando-se de o dizer abertamente. Ele precisa ouvir que é amado muitas vezes e que os pais são uma fonte de ajuda.
Dedique tempo para estar com o seu filho, e se ele não quiser falar, mantenha-se ao lado dele. Desde que a sua presença seja verdadeira, o silêncio não o impedirá de sentir que está a dedicar-lhe tempo.
Fale sobre sentimentos e dê oportunidade ao adolescente para falar consigo e perceber que não está sozinho e que está disposto a ajudá-lo a sentir-se melhor.
Mesmo que não compreenda o motivo das alterações emocionais do seu filho, não o critique nem diga que ele não tem motivos para estar assim.
Não se torne radical nas suas ideias nem queira resolver a situação com castigos ou crítica.
Lembre ao adolescente que ele já foi capaz de resolver situações difíceis e que pode contar com a sua ajuda e dos profissionais de saúde especializados.
Facilite a interação do adolescente com os seus pares, mesmo que sejam poucos. O que vale é a qualidade.
Não mostre vergonha nem culpe a si ou ao seu filho pela depressão.
A psicoterapia cognitivo-comportamental apresenta uma taxa elevada de eficácia na depressão ligeira, invista neste tipo de ajuda. Em alguns casos poderá ser importante a conjugação de medicação com a psicoterapia.
Caso se tenha identificado com este texto ou conheça alguém a quem ele possa servir como uma ajuda, partilhe e indique a mais pessoas a importância de falar sobre a depressão.