Alienação parental: a importância dos grupos de ajuda mútua

A participação nestes grupos, numa atmosfera de confiança mútua e empatia, permite que os pais se protejam melhor para fazer face a um dos problemas mais difíceis que lhes pode suceder.

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Adriano Miranda/Arquivo

Hoje falamos sobre o enorme valor do apoio através de grupos de ajuda mútua para vítimas de alienação parental, a partir dos testemunhos de oito pais e mães.

O grupo de ajuda mútua (GAM) pode descrever-se como um espaço de partilha de experiências de vida onde “há troca de experiências e partilha, estratégias e conselhos para melhor lidar com as dificuldades” (Sara), formados por pessoas que têm vivências semelhantes: “Foi no GAM que encontrei, para minha surpresa, outros pais homens e outras mães com as mesmas provações que as minhas. Não estava sozinho” (José). E de identificação: “Falava com pessoas que me entendiam, que não punham em causa ou desconfiavam, porque também estavam a passar pelo mesmo” (Miguel).

No GAM, pais e mães partilham situações pessoais ligadas a uma preocupação ou problema específico comum que lhes traz um sentimento positivo de pertença: “É reconfortante ouvir outras pessoas com problemas e dores semelhantes” (Sara). É um lugar através do qual as pessoas se entreajudam: “Tenho aprendido a superar e tenho ajudado outros, o que me dá imenso prazer” (Sara). E “nós começámos a frequentar o grupo com o intuito de ajudar outros, porque considerávamos que o nosso percurso até tinha sido feliz e valia a pena ensinar o que tinha resultado” (João), uma vez que, “ao tentar ajudar outros, saímos do nosso problema (Paulo).

Através do contacto com os pares no grupo, surgem trocas de informação: “Da partilha nesses grupos nascia um conhecimento maior e, consequentemente, uma maior preparação para enfrentar a alienação parental de que estava a sofrer” (Miguel). Aparecem também formas de aconselhamento, orientação e feedback e de como lidar com os problemas desenvolvendo soluções para os mesmos: “Tem sido graças a um GAM que tenho aprendido a lidar com esta realidade e a responder a cada situação, cada injustiça e a cada desafio que, tanto eu como os meus filhos, temos vivido” (Duarte).

Através do GAM, pais e mães proporcionam entre si apoio e encorajamento: “Fizeram-me ver que o importante era não deixar que o cordão que me ligava à minha filha se soltasse, era importante que mantivesse uma forma de me mostrar presente” (José). E desenvolvem, conjuntamente, estratégias para enfrentar essa mudança: “Por vezes, também recebemos sugestões inovadoras ou diferentes de tratar das questões que temos” (Paulo).

A participação nestes grupos, numa atmosfera de confiança mútua e empatia, permite que os pais se protejam melhor para fazer face a um dos problemas mais difíceis que lhes pode suceder: “Viver num contexto de alienação parental foi, e continua a ser, das coisas mais difíceis que tive de aprender na vida. Tem sido tão horrível para os meus filhos como para mim. A ansiedade e a frustração passaram a fazer parte do meu dia-a-dia e eu não estava preparado para isso...” (Daniel).

Muitas vezes os pais sentem-se sós, sem terem ninguém com quem partilhar os seus problemas, e podem encontrar nestes grupos outros pais com dificuldades semelhantes. Os GAM permitem que os pais se sintam finalmente compreendidos: “Foi o facto de ser compreendido, contrariamente ao que acontecia no sistema (falo de magistrados, técnicos de assessoria, advogados e até mesmo amigos)” (Miguel). E encontram no suporte social que recebem do grupo uma forma de reduzir o seu isolamento social. As pessoas deixam de se sentir isoladas e vulneráveis e aprendem a minimizar as suas problemáticas: “Permite ver que existem pessoas em situações piores do que a nossa, levando a que a pessoa se sinta menos em baixo” (Paulo).

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A participação nestes grupos, numa atmosfera de confiança mútua e empatia, permite que os pais se protejam melhor para fazer face a um dos problemas mais difíceis que lhes pode suceder: a alienação parental Getty Images

A partilha de experiências comuns permite que os pais suavizem o efeito da experiência dolorosa da alienação parental: “Esta experiência foi extraordinariamente confortante, já que estava privado do convívio com a minha filha, com uma dor que se prolonga até hoje e que não pode ser traduzida em palavras escritas...” (José).

Nos GAM, os pais aprendem a ouvir os outros e a dizer o que pensam, ajudando-se mutuamente e percebendo-se melhor a si próprios: “Foi gratificante ver que casos dramáticos acabaram por evoluir de forma benigna. Quando ia [aos GAM], os sentimentos eram ambivalentes. Por um lado, eram causa de ansiedade, ao saber de histórias com aspectos mais dramáticos do que as nossas e de perceber o que provavelmente viria a acontecer” (João), nomeadamente valorizando o conhecimento derivado da experiência individual de cada um e dos desafios a que são sujeitos pelos seus pares. “Os contributos dos outros fazem-nos questionar as nossas posições e pensar na posição difícil que os nossos filhos têm nestes conflitos, e a moderarmo-nos” (João). Por outro lado, aprende-se a ajudar os outros: “Sinto que [o GAM] me deu alguma ‘tarimba’ para ajudar outros. Não no sentido de alertar relativamente aos mecanismos de alienação, que era o foco inicial, mas no sentido de ajudar a pacificar” (João), baseados num sistema de dar e receber ajuda.

Pais e mães encontram nestes grupos um ambiente seguro para partilhar experiências: “Sem dúvida o melhor que me podia ter acontecido — andava perdido, sem rumo, desesperado por não conseguir ver a minha filha, ainda mais pela injustiça que se estava a passar...” (Luís).

A participação das vítimas de alienação parental num GAM é um momento de partilha, de segurança, companheirismo, afecto e esperança: “Depois surgiu o grupo de ajuda, e posso garantir que foi desde esse dia que comecei a ter fé em ter a minha filha de volta. Que força me deram!...” (Luís). Neste modelo de apoio, a esperança associa-se à possibilidade de descoberta de soluções alternativas, como nos referiu Luís: “Não percam a esperança, acreditem na força do grupo. Obrigado.”

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