As birras das crianças são um dos aspectos mais desafiadores da parentalidade. Mas acredite que é possível aprendermos a lidar com elas e a ficarmos mais calmos, quando as enfrentamos. Embora possa não parecer, as birras são uma parte importante da saúde e do bem-estar emocional das crianças.
O que é uma birra? A birra é assim como uma espécie de furacão, uma tempestade gigante e intensa de emoções, que geralmente envolve frustração profunda, raiva, perda (por vezes) e desânimo extremo que aparece sem razão aparente numa criança pequena.
Normalmente, este quase “surto” emocional pode levar a criança a chorar, gritar, atirar-se para o chão, chutar, morder, bater em si ou nos outros, atirar brinquedos pelo ar, bater com a cabeça na parede ou até prender a respiração até não conseguir mais. Ao contrário do que muitas vezes ouvimos, as birras não são uma forma de as crianças controlarem o nosso comportamento ou manipular as nossas acções. Os seus cérebros não são capazes de tal performance, não são capazes de raciocinar ou manipular a situação — nós, adultos, sim!. A birra é, na verdade, um estado biológico de desregulação emocional.
Como seres humanos nascemos com o cérebro muito pouco desenvolvido, com a capacidade de ter sensações e sentir muitas emoções, algumas delas bem fortes, mas não nascemos com a capacidade de regulá-las. Todos nós já fomos crianças, tivemos os nossos momentos de desregulação e fizemos as nossas birras. Enquanto pais “emprestamos” a nossa capacidade de auto-regulação para que os nossos filhos gradualmente a usem e, mais tarde, a internalizem e sejam capazes de se auto-regularem. Porque a auto-regulação não se aprende nos livros.
Dez passos para lidar bem com as birras:
Use o mantra da birra
“O meu filho não está a manipular-me, está incapaz de regular uma forte emoção, uma forte necessidade e precisa da minha ajuda para se regular.”
Mantenha a calma
Quando o seu filho começar a gritar, chutar ou ficar “azul”, tente ficar calmo. O seu filho já perdeu o controlo de si mesmo e do seu corpo, por isso ele precisa que o pai ou a mãe esteja calmo. Se estiver a ser difícil lidar com a situação pode retirar-se da cena da birra, dizendo algo como “OK, a mamã precisa de um momento para respirar”. Enquanto isso, olhe para o mantra número 1 e diga-o a si própria.
Pratique auto-regulação
Pensar em si, na sua própria infância e na forma como os seus pais lidaram consigo quando fazia as suas birras vai ajudá-la a perceber quais os comportamentos do seu filho que a desregulam a si e o que fazer para inverter isso.
Mantenha a segurança
Lembre-se que o seu papel principal é manter o seu filho seguro, por isso é importante colocar limites para que não se magoe.
Todos na mesma página
Todos os cuidadores — como o seu parceiro, os avós ou a educadora — devem estar na mesma página sobre como lidar com as birras da criança.
Use a brincadeira
Se precisar interromper a birra, tente dizer alguma coisa engraçada ao seu filho ou fazer uma careta. Uma criança muito desregulada pode manter o seu sentimento forte, mas não vai conseguir rir e ter um acesso de raiva ao mesmo tempo.
A sua presença é muito importante
Nunca abandone uma criança no momento de uma birra. Além de não o ajudar a regular-se, vai dar-lhe uma sensação de abandono terrível.
Evite fazer uma cena
Tente evitar fazer uma birra também! Na maior parte dos casos, os adultos são os responsáveis por prolongarem a birra. O seu córtex está incapaz de responder, por isso os “sermões” vão apenas contribuir para manter a situação, são “mais lenha para a fogueira”.
Prevenir
Para conseguir ajudar o seu filho a desenvolver capacidades de regulação é importante passar tempo a brincar com ele. Nessa brincadeira deixe a criança liderar a escolha da brincadeira e dê-lhe toda a atenção. Ter esta experiência positiva consigo fornecer-lhe-á as bases para se acalmar da próxima vez que ficar desregulada numa birra.
Atenção aos gatilhos
Esteja atenta às situações que tendem a gerar uma birra, e esteja preparada: Se o seu filho fica irritado quando tem fome, tenha sempre consigo um snack saudável; se a birra aparece quando está cansado, torne as suas sestas uma prioridade máxima.
Quando temos de lidar com uma birra isso desperta em nós “grandes” sentimentos, que por vezes desconhecíamos que podíamos sentir! Isto tem a ver com o facto de na nossa infância, provavelmente os nossos pais não terem escutado as nossas “explosões” com muita empatia. E por isso, o comportamento do nosso filho desencadeia lembranças (muitas vezes inconscientes) de como fomos tratados em criança. Isto significa que ser pai/mãe pode ser um processo de “cura” para os nossos próprios desafios emocionais, quando temos apoio e uma oportunidade de sermos ouvidos por nós mesmos.
Depois da tempestade passar, aproveite para dedicar algum tempo a cuidar de si: converse com um amigo, dê umas boas risadas e talvez até possa chorar um bocadinho. Acalmar-se requer prática, mas quando conseguimos estamos literalmente a reconectar os nossos cérebros para nos tornarmos pais mais calmos e mais pacíficos.