Partido de Marine Le Pen desviou 6,8 milhões de euros de fundos europeus

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Marine Le Pen LUSA/IAN LANGSDON

O partido francês de extrema-direita União Nacional (RN, na sigla original), liderado por Marine Le Pen, terá desviado 6,8 milhões de euros de fundos do Parlamento Europeu, segundo uma investigação da polícia citada pelo semanário Le Journal du Dimanche.

Em 2017 e 2018, Le Pen foi acusada de abuso de confiança e desvio de fundos públicos na contratação de assistentes que na realidade trabalharam para o RN.

A situação revelada este domingo remonta à época em que o RN era liderado pelo pai da actual líder, Jean-Marie Le Pen, mas terá tomado forma já sob a presidência de Marine Le Pen, após as eleições europeias de 2014, nas quais o partido de extrema-direita conquistou 24 lugares.

O semanário Le Journal du Dimanche refere que a gestão dos créditos atribuídos à contratação de colaboradores era “centralizada” pelo partido, que apenas deixava os seus deputados escolherem um auxiliar e se encarregava de contratar os restantes.

A líder do RN reagiu através da sua conta no Twitter, descrevendo o Le Journal du Dimanche como “o órgão oficial do poder macronista”, numa referência a Emmanuel Macron, Presidente de França.

“Traz à tona o mesmo caso de assistentes parlamentares como em todas as eleições. Nada de novo”, escreveu, acrescentando referências às próximas eleições regionais de Junho.

Em declarações ao canal de notícias francês BFM, o tesoureiro do partido, Wallerand de Saint-Just, acusou o ministro da Justiça, Éric Dupond-Moretti, de estar por trás da divulgação do inquérito policial.

“Ele passa a vida a dizer que quer prejudicar ao máximo o RN. Esta é, obviamente, uma manobra política, pouco antes das eleições regionais. Usa aquele jornal e aquela reportagem que não sabemos de onde vem e que é um conjunto de imprecisões e calúnias”, disse Saint-Just.

Em causa está um relatório de 98 páginas, entregue a 15 de Fevereiro a um juiz de instrução, que refere que os fundos europeus não foram usados apenas para pagar aos colaboradores que efectivamente trabalharam para o partido, mas também a alguns que acumulavam contratos de trabalho de forma indevida.

A deputada francesa e candidata às eleições presidenciais de 2022 é apresentada como a responsável directa por este sistema fraudulento que consistiria em financiar os salários dos trabalhadores do partido com fundos europeus, desviando as verbas dadas aos eurodeputados para contratar assistentes.

De acordo com o Le Journal du Dimanche, a maioria dos suspeitos afirmou ter destruído os seus arquivos, ao mudar de computador, ou não guardou nada que justificasse a sua remuneração do Parlamento Europeu.

Em Setembro de 2018, Le Pen negou em tribunal ter cometido fraude. Este domingo, o advogado da líder do RN, Rodolphhe Bosselut, reiterou que todos os assistentes parlamentares mencionados trabalharam “em um momento ou outro” para a estrutura europeia.

O jornal também recorda que o Parlamento Europeu não esperou pelo fim do processo penal para reclamar as verbas. Em 2016, pediu a Le Pen o reembolso de 339 mil euros e durante meses reteve parte das dotações para o efeito, até recuperar cerca de 60 mil euros. Quando Le Pen saiu do Parlamento Europeu, as transferências foram interrompidas.