“Não nos chamem avozinhas!” Eis a claque sénior do Japão
Pompons cintilam e sapatos prateados brilham quando a Japan Pom Pom treina, movendo-se ao ritmo de uma animada batida. A claque, com membros dos 60 aos 89 anos, “não é um elenco comum”. Mas que ninguém se atreva a chamá-las de “avozinhas”.
“Logo no início, não estávamos muito contentes por sermos chamadas de ‘avós bailarinas de claque’”, apesar de a média de idades ser de 72 anos, recorda Fumie Takino, a fervilhante e enérgica mulher de 89 anos que fundou a Japan Pom Pom há mais de 25 anos.
Numa prática semanal recente, retomada após um ano de folga, as mulheres chegam de máscara e verificam a temperatura antes de começarem a aquecer. Depois, dedicam-se aos esquemas de dança — respeitando a distância social, claro.
Embora nos ensaios a maioria use calças de fato de treino e T-shirts com um brilhante “Japan Pom Pom”, nos espectáculos apresenta-se com trajes com lantejoulas e minissaias típicas de uma claque de apoio. Para um dos esquemas, Fumie Takino escolhe casacos de cabedal; noutro, perucas prateadas.
“Os fatos são incrivelmente vistosos. Algumas pessoas juntam-se só para poderem usá-los”, confidencia, acrescentando o quão bom é poder “mover o corpo”.
Originalmente, o grupo começou com cinco pessoas, depois de Fumie Takino ter conhecido, pelas notícias, a existência de uma equipa do género, também sénior, no estrangeiro. Hoje, o grupo conta com 17 membros activos que, para conseguirem tal estatuto, têm de ter mais de 55 anos e passar numa audição.
Agora, o grupo é apresentado em panfletos do Governo sobre a importância de manter a actividade na terceira idade, aparece periodicamente em reportagens televisivas e actua em programas populares.
O Japão, uma das nações do mundo que mais rapidamente envelhece, com quase 30% da sua população com mais de 65 anos, é conhecido pela longevidade dos seus seniores. Mas a aceitação da claque não foi fácil.
“Fomos a um clube de cidadãos seniores, e eles realmente não gostaram de nós. Não sorriram nem uma única vez”, relata Fumie Takino, recordando que muitos ficariam chocados por verem “mulheres japonesas, com esta idade, a vestir aquelas coisas”. Mas, a fundadora acredita na mudança: “Agora, penso que cerca de metade das pessoas já nos aceita e outra metade ainda não nos consegue aceitar.”
As mulheres que integram a claque referem as melhorias que sentiram em praticarem juntas e a perspectiva positiva de Fumie Takino. “Como a nossa líder diz, ‘tenta qualquer coisa’”, cita Tami Shimada, 69 anos. “Se estás interessado em alguma coisa, esquece a tua idade, esquece as pessoas que dizem que não é bom por essa razão. Penso que isso conduz a uma razão para viver”, acrescenta.
Tami Shimada, que tem três netos e três bisnetos (e outro a caminho), pratica o que prega. Já tentou mergulho, parapente e pára-quedismo, que diz ter sido “o melhor de tudo”, e obteve um mestrado nos EUA quando tinha 50 anos. Agora também estuda espanhol, frequenta uma aula de dança para idosos e faz caminhadas. É ainda obcecada por jogos de solitário, no computador. Todas as noites, Tami bebe uma pequena cerveja, e diz que uma apendicectomia foi o problema de saúde mais grave que enfrentou.
Já Fumie Takino nem quer acreditar que fará 90 anos no próximo ano, mas confessa relutantemente que não pensa que ainda estará na claque aos 100 anos, embora o grupo assim o deseje. “Nos últimos três ou quatro anos, comecei a sentir que me cansava com mais facilidade. Ter estado em casa por causa da pandemia, contribuiu para a quebra da minha resistência. Não sinto nada enquanto estou a praticar, mas, no dia seguinte, fico bastante cansada”, explica. No entanto, vale a pena: “Esqueço tudo quando estou a dançar.”