Doutor, o meu filho precisa mesmo de ser operado?

A pergunta mais difícil, que os pais se colocam, é se a criança poderá esperar pelo fim da pandemia para ser operada. Antes de mais, não sabemos quando se prevê o fim da pandemia e ainda assim o fim desta não significará o fim do vírus.

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Miguel Manso

Desde o primeiro confinamento e o início da pandemia por covid-19, denota-se a preocupação dos pais em relação às crianças e aos procedimentos cirúrgicos a que poderão ser submetidas. Com a ideia inicial de que o confinamento resolveria tudo e a seguir a vida voltaria ao normal, muitas cirurgias foram adiadas por receio de deslocação ao hospital. Mas, após quase um ano de pandemia e uma realidade completamente diferente da que se previa, as dúvidas ainda se colocam. As mais frequentes são: É seguro ser operado durante a pandemia? O hospital tem as condições de segurança necessárias? Posso estar com meu filho(a) durante o internamento e acompanhá-lo(a) até o bloco operatório? A cirurgia pode ser adiada até o fim da pandemia?

Todos os procedimentos, desde consultas, exames, internamento e cirurgias, têm um controlo rigoroso para garantir a segurança tanto da criança como dos profissionais de saúde. Existe um conjunto de medidas que foram reforçadas desde a realização de testes antes dos procedimentos cirúrgicos aos circuitos adoptados segundo os protocolos estabelecidos. O mesmo aplica-se ao acompanhante, que nestes casos, fica limitado a uma pessoa. Este pode e deve acompanhar a criança desde o internamento até ao bloco operatório. E na grande maioria das cirurgias a crianças, a alta será no mesmo dia, não havendo a necessidade de pernoitar no hospital.

A pergunta mais difícil, que os pais se colocam, é se a criança poderá esperar pelo fim da pandemia para ser operada. Antes de mais, não sabemos quando se prevê o fim da pandemia e ainda assim o fim desta não significará o fim do vírus. Com certeza os procedimentos de segurança ainda se manterão por algum tempo. Em relação ao que pode esperar para ser operado existem algumas orientações a serem seguidas.

Antes de mais é preciso clarificar que as consultas não devem ser adiadas. É nesta consulta que o diagnóstico e as opções de tratamento, cirúrgico ou não, serão esclarecidas. Aqui o médico tranquiliza os pais sobre o que pode ou não ser adiado. Apesar de a maior parte dos casos não ter um carácter emergente, as situações de urgência, suspeita de tumores e malformações do recém-nascido não devem ser adiados. Isto porque o adiamento poderá causar situações clinicamente mais complexas, nem que seja por se saber que se está protelando algum tipo de tratamento que é necessário.

Uma cirurgia é sempre motivo de ansiedade quer para a criança quer para a família. No entanto, o médico poderá tranquilizá-los, explicando todo o processo cirúrgico e esclarecendo todas as dúvidas. O apoio dos pais é essencial para que os filhos se sintam confiantes e por isso é importante que procurem informação esclarecida e especializada.

Fique a conhecer alguns exemplos de cirurgias mais comuns em crianças:

  • Tratamento cirúrgico de fimose - este problema ocorre quando há a impossibilidade de retrair completamente o prepúcio, a pele que cobre a glande. A circuncisão é uma intervenção cirúrgica em que se remove o prepúcio e quanto mais cedo for realizada mais benéfico, pois nos mais novos o pós-operatório é sempre melhor.
  • Hérnias inguinais - estas hérnias, que se caracterizam por uma saliência na virilha da criança, quando diagnosticadas devem ser operadas. O risco de se tornar maior ou encarcerar (o intestino fica preso dentro da hérnia) existe e não há como predizer em que criança irá acontecer.
  • Cirurgia aos testículos que não desceram - esta cirurgia é indicada a partir do momento que não há hipótese de se resolver espontaneamente (normalmente antes do ano de idade) nos casos congénitos, ou nos que desceram e voltaram a subir com o crescimento. O testículo tem que se desenvolver na bolsa escrotal e por isto deve ser reposicionado cirurgicamente. Quanto maior este “atraso” maior será o risco de não ter um desenvolvimento testicular esperado.
  • Orelhas proeminentes - É muito comum actualmente realizar-se esta cirurgia antes das crianças irem para escola. Não existe nenhum motivo médico que justifique ter que ser operada nesta altura. Cada caso deverá ser discutido individualmente com os pais e estes decidirão se esta deverá ou não ser operada nesta altura.

Existem muitos mais diagnósticos a serem discutidos que não caberiam neste artigo. O importante é manter um contacto regular com o médico do seu filho para evitar complicações.

Em resumo, não há motivo neste momento para se adiar uma consulta de cirurgia pediátrica e mesmo uma cirurgia caso esta seja necessária.

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