Como gerir o impacto do confinamento nas crianças e adolescentes
Neste momento pode ser mais difícil confinar para os adultos que estão cansados de quarentenas, de sobressaltos e de acumular tarefas, do que para as crianças, que têm sido elásticas no que se refere à adaptação.
Continuamos perante uma situação sanitária grave que obrigou o Governo a esta nova medida radical de encerramento das escolas, embora, pelo menos para já, com um cariz diferente do que aconteceu em Março de 2020 porque as crianças ficam em casa, mas sem ensino à distância. Neste momento pode ser mais difícil confinar para os adultos que estão cansados de quarentenas, de sobressaltos e de acumular tarefas, do que para as crianças, que têm sido elásticas no que se refere à adaptação.
As crianças até aos 5 anos irão ressentir-se mais pela parte social, do convívio e da brincadeira com os colegas e das rotinas que já estavam instaladas, mas é uma faixa etária com muita flexibilidade que pode reajustar-se facilmente.
Já o impacto nas crianças até os 10/12 anos pode ser variado, dependendo das suas características pessoais e da sua estrutura familiar. As escolas não conseguiram organizar, de um dia para o outro, actividades para as crianças fazerem durante o período em que estarão em casa, por isso, pode ser importante manter actividades de estudo e de revisão da matéria, de forma a manter rotinas, não perder o ritmo e a reforçar a aprendizagem, servindo também para gerar um espaço de ocupação. Uma criança cujos pais ou cuidadores consigam manter as rotinas, incluindo horários de refeições e de sono, com tarefas diárias que a ajude a manter a ligação à escola terá seguramente mais capacidade de adaptar-se e de regressar à escola com menos tensão. Naturalmente, o espaço de descanso e de lazer também deve existir, assim como a manutenção do contacto por telefone ou vídeo com familiares e amigos, que pode ser bastante securizante. Na organização do dia deve ser contemplado um momento para as crianças brincarem para que possam descontrair e fazer o que querem, livremente.
Claro que nem todas as famílias podem ou têm capacidade para este tipo de atenção havendo, portanto, muitas crianças sem este tipo de suporte ou com condições desfavoráveis, que tenham de ficar sozinhas em casa ou em casa de outras pessoas, como vizinhos e amigos. Estas crianças têm maior probabilidade de se ressentirem e de manifestarem sintomas desde a agitação, o medo, a preocupação, a insegurança e um maior nível de stress. Podem necessitar de mais atenção, de apoio e de serem escutadas nas suas necessidades, com uma dose extra de carinho.
Qual poderá ser o impacto do novo confinamento nos jovens?
O impacto do regresso a casa nos jovens pode ser diferente do que acontece com os mais novos, na medida em que os primeiros têm outra capacidade de compreensão e de se auto-regularem. De qualquer forma, há jovens que sentem um impacto mais negativo dadas as mudanças na dinâmica social e emocional das suas vidas, sentindo-se mais desmotivados, ansiosos e isolados. Os jovens valorizam a ida para a escola também como um local de encontro com os amigos e terem de ficar fechados em casa dias seguidos sem poderem conviver pode ser devastador para alguns jovens.
É preciso encontrar acções concretas que ajudem a ultrapassar esta fase, como o planeamento do dia com actividades de lazer e actividades de estudo, negociando com o jovem e deixando que seja ele a controlar as suas tarefas. É importante, ainda, manter a higiene do sono, as refeições completas e as actividades físicas. Os contactos sociais à distância através de vídeo e não limitadas a mensagens devem ser utilizados para manter um sentimento de proximidade com familiares e amigos e para sentirem-se menos isolados. Os pais devem compreender esta importância e acordar horários para a utilização das redes sociais ou de outras formas de contacto com os amigos. Tanto os jovens como as crianças que apresentem sinais de ansiedade, podem beneficiar de exercícios de relaxamento e de respiração profunda, mantenactividadesdes prazerosas ao longo do dia. É importante perceberem que podem sentir coisas diferentes, mesmo emoções desagradáveis. Caso isto aconteça com frequência e de forma intensa é importante procurar ajuda.
O que dizer às crianças?
Os pais devem clarificar às crianças porque voltamos para casa, explicando o que se passa com palavras adaptadas à sua idade e garantindo que elas compreendem de forma a não as assustar. Devem informar sem dramatizar ou fomentar medo, incluindo uma explicação sobre o que se passa agora e que estamos todos a tentar travar a propagação do coronavírus e a reduzir o risco de infecção em cada um de nós e nos outros. Nunca deve ser dito à criança que está confinada porque se portou mal em casa ou na escola. Ansiedade, birras mais intensas, medo de ser contaminado ou de um dos pais ficar doente são esperados, mas não tem de ser assim para todos. É importante ouvir as preocupações e dúvidas da criança e passar uma mensagem de segurança, encorajando-a a partilhar emoções.
As informações inapropriadas ou mal compreendidas podem ser geradoras de medo, ansiedade ou confusão persistentes, gerando insegurança e condicionando negativamente o desenvolvimento social, cognitivo e emocional da criança, por isso, é importante que tudo seja bem explicado e que os pais estejam atentos aos sinais de desconforto e alterações mais significativas.
Sentir ansiedade e preocupação é normal, mas tudo o que é exagerado pode ser prejudicial. Alguns sinais de alerta tanto para os mais novos, como para os mais crescidos são as alterações no sono, na alimentação, a agressividade, o surgimento de comportamentos estranhos, o isolamento, o descuido pessoal e o pânico.