Vamos explicar (outra vez) o confinamento aos miúdos?
Se uns já encaixaram o que nos leva a voltar a trocar as voltas à vida quotidiana, outros exibirão sinais de ansiedade e medo. As respostas a cinco perguntas que poderão surgir.
Tal como aconteceu há quase um ano, e quando muitos já acreditavam ser uma realidade distante, as escolas voltaram a encerrar, com miúdos de todas as idades fechados em casa.
Só que, ao contrário do que aconteceu no primeiro confinamento, em que o encerramento das escolas foi decidido com uma margem de quatro dias – anunciada a dia 12, a medida entrou em vigor a 16 –, desta vez a decisão foi, literalmente, tomada de um dia para o outro, com crianças a ir para a escola na manhã de quinta-feira sem ideia de que já não regressariam no dia seguinte.
Além do factor-surpresa, os mais jovens também acusam o cansaço visível entre os adultos. Por isso, manter a calma, explicar o que está em causa e não alimentar o pânico é uma missão para os adultos, que deverão ter as respostas às perguntas dos mais novos na ponta da língua.
Se me portei tão bem, por que voltaram a encerrar as escolas?
O esforço por travar a propagação do coronavírus não passou ao lado dos mais novos. No último quase um ano, aprenderam o cuidado a ter com a higiene das mãos e a etiqueta respiratória, foram para a escola de máscara e viveram muitos dias praticamente sem recreios. O resultado foi aquilo que o primeiro-ministro sublinhou: “As escolas não são, nem foram o principal foco de transmissão.” Então qual a razão para “castigar” quem se portou bem?
Embora as escolas não sejam o principal foco de transmissão, a continuidade das aulas presenciais potenciava os contactos sociais e limitavam o confinamento, no sentido em que, além dos quase dois milhões envolvidos nessa actividade, ainda havia pais, tios e avós a deslocarem-se para assegurar o transporte dos mais pequenos para a escola.
Vamos estar fechados como em Março passado?
Sim e não. Se, por um lado, as medidas são muito semelhantes, por outro, sabe-se que manter a distância de outros é a chave principal para não infectar nem ser infectado.
Além disso, o maior nível de conhecimento sobre o vírus e a doença permite, mesmo com o crescente número de infectados, olhar para o cenário com maior serenidade do que há um ano.
Sem grandes deslocações e evitando sempre zonas movimentadas, os chamados passeios higiénicos não só são permitidos como essenciais para a manutenção da saúde física e mental. Siga a recomendação de usar máscara, de preferência cirúrgica.
Se estou de férias, por que não posso ir sair com os meus amigos?
Ao contrário do que sucedeu no primeiro confinamento, os professores não vão enviar fichas nem entrar pela nossa casa através de uma janela do computador – pelo menos, para já. O ensino à distância, realizado no ano passado, acabou por cavar ainda mais fundo o fosso das desigualdades sociais, algo que o Governo quer evitar desta vez.
Assim, o que foi deliberada foi uma interrupção da actividade lectiva, como se se tratassem de umas férias extra e a serem compensadas provavelmente com dias de férias calendarizadas (ainda não se conhecem os detalhes de como se irá realizar este processo nem o do regresso às aulas presenciais).
Com adolescentes e jovens, pode dar-se o caso de as reclamações subirem de tom pelo facto de desejarem estar com os amigos. Caberá ao adulto munir-se de muita calma para explicar, dia após dia (e as vezes que forem necessárias), os riscos associados a estar com alguém fora do círculo do agregado familiar, sublinhando a prioridade nestas duas semanas que passa por quebrar cadeias de contágio.
É normal sentir medo?
Ansiedade, medo, desânimo. Seja em que idade for, é normal estes sentimentos tomarem conta das crianças e jovens, sendo por isso essencial que os adultos estejam atentos aos sinais, nomeadamente nas alterações do apetite e do sono ou num excessivo isolamento. Os mais pequenos podem começar a ter pesadelos ou mesmo a fazer mais birras: ambos sinais de necessidade de conforto e segurança.
O medo é normal, mas é essencial ser doseado. Por exemplo, é essencial permitir que a criança saiba o que se passa – se ela sentir que a estão a enganar ou a esconder-lhe alguma coisa poderá acabar por mostrar mais receios –, mas não a expondo a um excesso de informação que acabará por não conseguir processar, gerando confusão mental.
E agora o que é que eu faço?
Os miúdos estão de férias, mas nem por isso os pais deixaram de trabalhar e organiz actividades para fazerem em conjunto. O mais provável de acontecer em muitas casas é os pais estarem em teletrabalho, necessitando por isso de concentração e de silêncio – algo que pode ser incompatível com a presença das crianças em casa que, de meia em meia hora, aparecerão para perguntar: “E agora o que é que eu faço?”
Uma boa ideia pode passar por aproveitar o fim-de-semana para criar um horário diário. Dependendo das idades, inclua até algumas actividades relacionadas com a escola, desde que não muito exigentes (ou tê-los-á em fila para tirarem dúvidas…).
Promova momentos longe dos ecrãs – de leitura, de jogos de tabuleiro, de exercício físico, etc. –, mas não seja inflexível, colocando no horário um período para que os miúdos possam entreter-se com a PlayStation, falar com os amigos online ou a ver a sua série preferida. Há ainda várias sessões de actividades online programadas que poderão dar uma ajuda.