Cefaleia depois da infeção covid-19
A cefaleia merece particular destaque na medida em que, se é conhecida a sua ocorrência na apresentação da infecção aguda numa percentagem significativa de casos, a sua persistência após resolução dos restantes sintomas tem sido relatada num período que pode ir pelo menos até às seis semanas.
À medida que a pandemia vai avançando vão sendo melhor conhecidas as diferentes manifestações da infeção covid-19. Estas incluem, além da febre, um conjunto de sintomas mais ou menos conhecidos de todos, com particular destaque para os respiratórios. Existem no entanto outras queixas menos frequentes mas que ainda assim merecem atenção dos médicos, como acontece com a cefaleia.
Acontece que, para lá das manifestações agudas, a literatura médica tem vindo a apontar a ocorrência de diferentes queixas que, em geral, surgem depois da infecção aguda e que podem justificar observação por um especialista. Isso é verdade quer as queixas sugiram um quadro novo, directa ou remotamente relacionado com a infecção, quer apontem a recorrência ou exacerbação de uma doença previamente conhecida.
Neste contexto, a cefaleia merece particular destaque na medida em que, se é conhecida a sua ocorrência na apresentação da infecção aguda numa percentagem significativa de casos, a sua persistência após resolução dos restantes sintomas tem sido relatada num período que pode ir pelo menos até às seis semanas.
As características da cefaleia são variáveis, podendo, por vezes, ser semelhantes às da enxaqueca, acompanhando-se muitas vezes de intolerância à luz e náuseas, sendo que esta dor de cabeça parece não ocorrer apenas em doentes com história prévia de enxaqueca.
É, no entanto, importante dar nota de que, nas consultas de Neurologia, temos vindo a encontrar doentes com diferentes tipos de cefaleia primária, como a enxaqueca ou a cefaleia de tensão, com apresentação num período variável de tempo depois da infecção covid-19. Nuns casos a cefaleia surge de novo, noutros representa a recorrência ou o agravamento de uma dor de cabeça crónica preexistente.
Por fim, é importante lembrar que, ainda que raramente, depois da infecção covid-19, a dor de cabeça pode também constituir a primeira manifestação de complicações como a encefalite aguda ou outras encefalopatias igualmente raras que devem ser tidas em conta pelo especialista.
Nesta altura, sabemos ainda pouco da génese da cefaleia associada à infecção covid-19, sendo que uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes é importante no sentido de virmos a perceber qual a melhor terapêutica. De uma forma ou de outra, é necessário ter presente que uma queixa de dor de cabeça persistente neste contexto pós-infeccioso deve promover uma avaliação numa consulta especializada.