Estão a ser criados tijolos que funcionarão como baterias

Equipa de cientistas dos Estados Unidos está a desenvolver tijolos inteligentes que armazenam energia. Espera-se que um dia consigam carregar computadores ou telemóveis.

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Tijolos que conseguiram carregar uma luz LED Laboratório D’Arcy/Universidade de Washington, em St. Louis

Há milhares de anos que os tijolos são usados como materiais de construção, mas uma equipa de cientistas da Universidade de Washington, em St. Louis (nos Estados Unidos), quer transformá-los numa espécie de bateria para carregar computadores ou telemóveis. Por agora, apresentam a validação do seu conceito num artigo científico publicado na revista Nature Communications através de um tijolo que carregou uma luz verde LED.

Como ocupam muito espaço, porque não dar outra funcionalidade aos tijolos? “Além de alguns arquitectos e decoradores terem reconhecido a capacidade de os tijolos para absorverem e armazenarem a energia do Sol, esta é a primeira vez que alguém tenta usar os tijolos para algo mais do que massa térmica para aquecer ou arrefecer”, considera Julio D’Arcy, que coordenou o trabalho.

Para transformar os tijolos em baterias, a equipa coloca um revestimento de um polímero condutor fora e dentro do tijolo, que é composto por nanofibras que penetram no material poroso do tijolo. Designado PEDOT, este polímero foi desenvolvido em laboratório pela própria equipa. O pigmento vermelho dos tijolos utilizados é essencial para desencadear uma reacção química, a polimerização. Um tijolo revestido pelo tal polímero poderá vir a ser ligado a um painel solar para que depois venha a conseguir carregar dispositivos electrónicos.

“Quando tivermos vários tijolos juntos, podemos ser capazes de produzir o que chamamos um ‘supercondensador’, que poderá vir a ligar as luzes de uma casa”, perspectiva Julio D’Arcy. Por agora, os cientistas mostram na Nature Communications que conseguiram que um tijolo carregasse directamente uma luz verde LED. Desta vez, ainda não se ligaram os tijolos a um painel solar, mas sim a instrumentos electrónicos que testam dispositivos de armazenamento de energia.

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A equipa espera vir a conseguir carregar computadores portáteis com os tijolos inteligentes Laboratório D’Arcy/Universidade de Washington, em St. Louis

Julio D’Arcy clarifica que estes tijolos não serão como simples materiais de construção e que nem deverão revestir todo o edifício. O objectivo é que sejam parte da decoração funcional de uma casa e possam ser colocados numa parede com argamassa normal. “Poderemos remodelar toda uma casa [com estes tijolos], mas seriam precisos mais equipamentos, e isso aumentaria o custo deste processo”, considera. Portanto, um conjunto destes tijolos inteligentes pode ser integrado numa parede e ligado a painéis solares.

Ligados a uma fonte de energia, o cientista espera que possam ser carregados em apenas 13 minutos e que “uma parede de tijolos” consiga recarregar dez mil vezes. “Isto porque o polímero PEDOT que fizemos é extremamente estável e forte ao nível da condutividade eléctrica”, justifica, acrescentando que o seu laboratório fez testes durante meses que comprovam que os tijolos se podem recarregar essas dez mil vezes. Para fazer os carregamentos, os tijolos poderão estar conectados por cabos e interruptores.

Nos próximos tempos, a equipa quer aumentar a quantidade de energia que cada tijolo consegue armazenar para que seja possível vir a carregar facilmente dispositivos electrónicos, como computadores portáteis e telemóveis, ou até mesmo para iluminação de emergência. Julio D’Arcy exemplifica que, se se tiver 50 tijolos inteligentes ligados a painéis solares, estes podem servir como iluminação de emergência durante cinco horas.

E qual o preço destes tijolos? Julio D’Arcy conta que cada tijolo convencional usado nesta investigação custou o equivalente a 55 cêntimos (de euro) numa loja na cidade de Brentwood, no estado de Missouri, nos Estados Unidos. A isto acresce o custo da inovação: “Aumentámos o custo em cerca de dois ou três dólares [entre cerca de 1,7€ e 2,56€], mas, se a produção for muita, o preço poderá baixar”, reflecte o cientista. Além da possibilidade de transformar tijolos normais em baterias, a equipa coloca ainda a hipótese de vir a fabricar os seus próprios tijolos.

A equipa ainda não tem uma perspectiva de quando estes tijolos inteligentes poderão estar disponíveis no mercado. Para já, estão a ser desenvolvidos novos tijolos que podem armazenar ainda mais energia. Neste preciso momento, estão a testar-se esses tijolos. Se conseguirem mesmo aumentar a quantidade de energia que cada tijolo consegue armazenar, os cientistas esperam assim vir a comercializar esta tecnologia. “Estamos a trabalhar activamente nisso”, assinala o coordenador do estudo.

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Para criar uma analogia com o seu trabalho, a equipa propõe uma readaptação da história d'Os Três Porquinhos Laboratório D’Arcy/Universidade de Washington, em St. Louis

Para ilustrar o seu trabalho, Julio D’Arcy envia-nos várias imagens dos tijolos que está a desenvolver. Entre elas, há uma ilustração de um porquinho a construir uma casa com tijolos inteligentes. Num fundo, é uma readaptação da história d’Os Três Porquinhos com o porquinho que construiu a casa mais resistente a usar os tijolos inteligentes. Desta vez, além de estar a tornar a casa resistente e impedir que o lobo a destrua, o porco da nova versão da história poderá carregar alguns dos seus dispositivos electrónicos com esses tijolos.

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