Dubai e Abu Dhabi: low cost Emirates
O leitor Mário Menezes partilha a sua experiência no Dubai e em Abu Dhabi, onde fez uma escala de três dias no regresso da Tailândia. Uma escolha “acertadíssima”.
A primeira vez que ouvi falar dos Emirados Árabes Unidos foi durante o Campeonato do Mundo de futebol de Itália, em 1990. Era a equipa mais fraca da competição. Perdeu 4-1 com a Jugoslávia mas houve um jogador, Ali Thani, que marcou o tento de honra e festejou efusivamente. Ganhara um Rolls Royce de prémio. O mesmo aconteceu num jogo anterior ao seu colega Mubarak, por marcar um golo à RFA na derrota por 1-5.
Passados tantos anos, essa pequena nação do Golfo Pérsico é de enorme importância turística. As camisolas dos maiores clubes trouxeram em definitivo a palavra “Emirates” para o nosso dia-a-dia. Também é nome da companhia aérea com a maior frota de Airbus A380, que nos liga ao mundo via Dubai. A maior cidade, muitas vezes confundida com o nome desse país, é Abu Dhabi.
Passar férias nos “Emirates” é considerado chique! Tido como um dos destinos caros do mundo, com luxos ao alcance de poucos. As cidades são um mundo artificial, em constante transformação, que em menos de vinte anos cresceram enormemente, ocupando o espaço do deserto com brutais arranha-céus.
Dubai e Abu Dhabi, outrora vilas de pescadores, são hoje dois locais onde todas as exuberâncias da arquitectura e da engenharia são permitidas. Enquanto o petróleo durar e a mão-de-obra em regime quase esclavagista de imigrantes filipinos, indianos, paquistaneses ou do Bangladesh existir, o crescimento não vai parar, o que se conclui pelos inúmeros estaleiros de obras e de gruas espalhadas ao longo das áreas urbanas.
Pelo Dubai, passa a maior parte do ouro transaccionado. É uma zona franca e um paraíso de compras.
Numa manhã de Inverno, com 26º C e na iminência de uma tempestade de areia, aterrei no gigantesco aeroporto do Dubai, no regresso da Tailândia, onde passei duas semanas e comemorei o meu 40.º aniversário.
Andei tantas horas de avião e cheguei ao “Parque das Nações”, foi o meu sentimento imediato ao ver de perto aquela “selva de pedra”. As praias são fracas, comparativamente às praias paradisíacas onde tinha estado dias antes. Muitas são privadas e exclusivas dos hotéis de luxo. Os restantes hotéis ficam distantes das praias públicas. A cidade do Dubai, que tem uma área de extensão ao longo da costa com cerca de 60km, é dominada pela Avenida Sheikh Zayed , uma auto-estrada ladeada de arranha-céus.
Em três dias satisfiz a minha curiosidade de conhecer os pontos mais importantes deste país exuberante e luxuoso, sem gastar muito!
Os transportes públicos são baratos e eficientes. Mesmo andar de táxi não sai caro e todos têm taxímetro. O metropolitano do Dubai é dos mais modernos do mundo e totalmente automático, sem maquinista, com estações luxuosas e limpas – até as casas de banho públicas são usadas por muitos locais para se barbearem e lavarem os dentes. Fiquei alojado em Deira, a baixa da cidade, uma zona “antiga” dos anos 1990, onde as linhas do metro se cruzam. Aqui é possível encontrar hotéis de três estrelas por cerca de 60€ . Quanto aos restaurantes, nessas zonas antigas, é possível comer muito bem, provar iguarias paquistanesas como kebab seekh, um espeto de carnes misturadas com ervas aromáticas, ou biryani, um arroz preparado com especiarias e carne, em quantidades abundantes e pagando pouco mais de 10€ por uma refeição. Existem também cadeias de restaurantes de fast food americanas ou do Médio Oriente. Bebidas alcoólicas não se vendem.
Num país em que cerca de dois terços da população é de origem estrangeira e cheio de visitantes ocidentais, quando caminhamos pelas ruas desacreditamo-nos que estamos nas Arábias. Começamos a sentir isso no aeroporto, quando os agentes da emigração, vestidos de thobe branco e turbante, nos carimbam o passaporte e nos dão as boas-vindas.
Tudo extremamente limpo, vigiado e controlado, que até se torna intimidatório. Nos locais públicos é frequente ver câmaras, polícias e seguranças privados. Com muitas regras e controlo de costumes, ou não se trate de um país em que a religião dita leis. Sempre atenciosos, com simpatia e educação. As coimas para quem prevarica estão publicitadas. E ao bom estilo asiático, há coimas e proibições para todos os gostos. Por exemplo, dentro daquelas paragens de autocarro climatizadas está indicado que é proibido dormir!
No metropolitano há carruagens exclusivas para mulheres e famílias, assim como nos autocarros. Nas praias públicas há vestiários, pois os homens muçulmanos não se podem despir em frente a outros homens, e até balneários com água quente e gel de banho. O trânsito é intenso e o domingo é dia de trabalho.
Muito há para visitar, com acesso livre. A ilha artificial, acessível de monocarril, Palmeira Jumeirah, a 8.ª maravilha do Mundo (segundo eles...), a praia pública em frente ao hotel Burj al Arab, muitos centros comerciais, incluindo o maior do mundo e o seu complexo que inclui o Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo e onde de noite é possível assistir ao show de luzes na sua gigantesca fonte artificial, o souk do ouro onde os vendedores não nos largam, a Marina, a Creek, um braço de mar que atravessa a cidade servido por carreiras de abras, os barcos tradicionais, integrados na rede de transportes públicos.
Em Abu Dhabi, a cerca de 1h30 de autocarro, a famosa mesquita Sheikh Zayed é imperdível, de dia e de noite, quando está toda iluminada; a praia da Corniche, que é artificial, e as Etihad Towers imortalizadas pelo último filme do malogrado Paul Walker, Furious 7, junto ao Palácio Presidencial.
Com mais dias, teria certamente oportunidade de visitar algumas atracções turísticas onde se paga para entrar, e fazer um passeio ao deserto. Mas, ao nascer do sol, no regresso a casa, e a caminho do trabalho, ao ver aquela paisagem pela janela do avião, sem pagar as exorbitâncias pedidas para subir ao observatório do Burj Khalifa, fiz o meu ritual de despedida destas férias.
Na minha opinião, conhecer os Emirados Árabes Unidos, de passagem, fazendo uma escala com paragem de alguns dias, numa viagem intercontinental, é uma escolha acertadíssima. Viajar para este país para fazer férias de praia faz pouco sentido.
Mário Menezes