Inteligência artificial pode tornar a detecção do cancro da mama mais exacta
Sistema criado pelo Google gera menos falsos positivos e negativos do que os que saem dos relatórios dos radiologistas.
Um sistema de inteligência artificial do Google mostrou-se capaz de reduzir os erros da observação humana, além de se ter revelado tão bom quanto os radiologistas especialistas no processo de detectar quais as mulheres que tinham cancro da mama com base nos seus exames de mamografia, informaram investigadores dos EUA e do Reino Unido.
O estudo, publicado esta quarta-feira, dia 1 de Janeiro, na revista Nature, é o mais recente a mostrar que a inteligência artificial (IA) tem o potencial de melhorar a precisão do rastreamento do cancro da mama, que afecta uma em cada oito mulheres em todo o mundo, promovendo o diagnóstico precoce e, consequentemente, aumentando a taxa de sucesso do respectivo tratamento.
De acordo com a American Cancer Society, cerca de 20% dos cancros escapam à observação dos radiologistas e cerca de metade de todas as mulheres que fazem exames regulares ao longo de dez anos tem pelo menos um falso positivo.
As descobertas do estudo, desenvolvido com a unidade DeepMind AI da Alphabet Inc, que se fundiu com o Google Health, em Setembro, representam um grande avanço no potencial de detecção precoce do cancro da mama, disse um dos co-autores do estudo, Mozziyar Etemadi, do grupo Northwestern Medicine, em Chicago.
A equipa, que incluiu investigadores da instituição Imperial College London e do Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha, treinou o sistema para identificar o cancro da mama em dezenas de milhares de mamografias. Após inseridas as coordenadas, os mesmos investigadores compararam o desempenho do sistema com os resultados reais de um conjunto de 25.856 mamografias no Reino Unido e de 3097 nos Estados Unidos.
A conclusão apontou para que o sistema de IA possa identificar cancros com um grau de precisão semelhante aos radiologistas especialistas, reduzindo, porém, o número de falsos positivos (menos 5,7% no grupo dos EUA e menos 1,2% no grupo britânico) e de falsos negativos (menos 9,4% no grupo dos EUA e menos 2,7% no grupo britânico).
Estas diferenças reflectem as maneiras como as mamografias são lidas. Nos Estados Unidos, apenas um radiologista lê os resultados e os testes são feitos a cada um ou dois anos. No Reino Unido, os testes são realizados a cada três anos e cada um é lido por dois radiologistas. Quando discordam, um terceiro é consultado.
Num teste separado, o grupo lançou o sistema de IA contra seis radiologistas e descobriu que o mesmo superava os especialistas na função de detectar com precisão o cancro da mama.
Estudo limitado
A chefe do departamento de imagiologia do Hospital de Harvard, em Massachusetts, Connie Lehman, disse que os resultados estão alinhados com as descobertas de vários grupos que usam IA para melhorar o rastreamento do cancro da mama.
A ideia de usar computadores para melhorar o diagnóstico do cancro existe há décadas e os sistemas de detecção auxiliada por computador são comuns nas clínicas onde se realizam as mamografias. No entanto, aqueles programas não melhoraram o desempenho na prática clínica.
A questão, segundo Lehman, é que os programas actuais foram concebidos para identificar o que os radiologistas humanos podem ver, enquanto na IA os computadores aprendem a detectar cancros com base nos resultados reais de milhares de mamografias.
Isso tem o potencial de “exceder a capacidade humana de identificar pistas subtis que o olho e o cérebro humanos não são capazes de perceber”, acrescentou Lehman.
Embora os computadores não tenham sido “muito úteis” até agora, “o que mostramos pelo menos em dezenas de milhares de mamografias é que a ferramenta pode realmente tomar uma decisão muito bem informada”, disse Etemadi.
O estudo tem algumas limitações. A maioria dos testes foi realizada com o mesmo tipo de equipamento de imagem, e o grupo dos EUA incluía muitos doentes com cancro da mama confirmado.
Fundamentalmente, a equipa ainda não conseguiu demonstrar que a ferramenta permitirá melhorar o atendimento ao doente, considerou a directora médica da CureMetrix, Lisa Watanabe, cujo programa de mamografia de IA teve aprovação nos EUA no ano passado.