Antigo patrão da Renault-Nissan fugiu do Japão para “escapar à injustiça e perseguição política”

Carlos Ghosn aterrou no Líbano no domingo: para não ser “mantido refém” pelo sistema de justiça japonês, afirma o gestor. É acusado de ter desviado milhões de euros da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.

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Reuters/Regis Duvignau

O antigo líder da Renault-Nissan-Mitsubishi, Carlos Ghosn, que aguardava julgamento no Japão por crimes financeiros, fugiu para o Líbano: aterrou no país no domingo a bordo de um avião privado. A informação foi confirmada pelo próprio Carlos Ghosn, num comunicado emitido na manhã desta terça-feira: “Eu não fugi da justiça — eu escapei da injustiça e da perseguição política”.

Carlos Ghosn afirma que não será “mantido refém pelo sistema de justiça japonês parcial onde se presume a culpa” dos suspeitos, em violação dos "direitos mais básicos do Homem”, escreve o Le Monde. Agora que se escapou, Ghosn acredita que será possível “comunicar de forma livre com os media”, cita o jornal britânico The Guardian — ​e deverá ser marcada uma conferência de imprensa para os próximos dias.

“Não sei de nada”, afirmou o seu advogado, Junichiro Hironaka, que admitiu sentir-se “estupefacto” com a notícia da fuga e afirmou não ter falado com o seu cliente recentemente, escreve a BBC.

Hironaka disse também que os três passaportes do gestor — que tem nacionalidade francesa e libanesa e nasceu no Brasil — estão ainda na posse da sua equipa legal e portanto não poderá ter usado nenhum deles para sair do país. A apreensão dos passaportes e a impossibilidade de sair do Japão eram apenas duas das fortes medidas de coacção a que Carlos Ghosn estava sujeito em Tóquio desde 2018​. 

Também os serviços de estrangeiros e fronteiras nipónicos não têm qualquer informação sobre a saída de Ghosn, escreve a cadeia japonesa NHK, citando uma fonte anónima. Não está afastada a possibilidade de o líder da Renault Nissan ter usado uma identidade falsa para sair e ter recebido assistência externa para consumar a fuga.

Actualmente, o Japão e o Líbano não têm qualquer acordo de extradição. E Ghosn, que chegou a ser o executivo mais poderoso da indústria automóvel mundial, tem família naquele país do Médio Oriente. 

O gestor foi detido em Tóquio em Novembro de 2018, acusado de apropriação indevida de fundos e bens da aliança automóvel que dirigia e de crimes fiscais. Era a queda de um dos mais prestigiados empresários do mundo automóvel – no Japão, até esse momento, era venerado por ter salvado a Nissan, enquanto em França era elogiado por ter dado a volta à Renault. E a detenção era também um terramoto para o grupo automóvel e para os seus diversos accionistas, de Tóquio e Paris.

Depois de ter passado 108 dias numa prisão em Tóquio, Ghosn foi colocado em liberdade condicional em Março deste ano, mediante um pagamento de uma fiança de mais de oito milhões de euros – mas proibido de sair do Japão, bem como de utilizar a internet ou de contactar outras partes do processo. Nem um mês depois, em Abril, foi novamente levado para a prisão e posteriormente colocado num regime próximo de uma detenção domiciliária, depois de ter tentado organizar uma conferência de imprensa em sua defesa e de ser confrontado com novas acusações, como um alegado desvio de cerca de cinco milhões de euros através de um distribuidor da Renault em Omã. Foi então imposta uma nova fiança de quatro milhões de euros.

Ghosn e a sua equipa de advogados têm alegado que não esperam um julgamento justo e imparcial no Japão, acusando o governo de Tóquio de patrocinar um processo com motivações políticas e implicando outros gestores do grupo automóvel num “golpe” contra si.

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