Trump chama à China “o grande campeão” da manipulação cambial
Presidente dos EUA volta a atacar Pequim, depois de alguns sinais de apaziguamento.
Donald Trump parece ter desistido da tentativa de reaproximação à China que a sua Administração tinha iniciado, acusando Pequim de ser “o grande campeão” da manipulação cambial.
As declarações do Presidente norte-americano, numa entrevista à Reuters, aconteceram horas depois de o novo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, ter dito precisamente o contrário, afirmando que a Casa Branca não tem planos para rotular a China de manipulador de moeda, pelo menos para já.
“Bem, penso que eles são os grandes campeões da manipulação cambial. Não recuei nisso”, disse Trump, referindo-se aos seus comentários anteriores sobre a forma como a China manipula o yuan e à sua promessa eleitoral de declarar que a China é um manipulador cambial no primeiro dia da Presidência, o que acabou por não fazer (é ao Departamento do Tesouro, nos seus relatórios regulares, que cabe fazer este tipo de análises). “Veremos o que acontece”, acrescentou Trump na entrevista que deu à agência de notícias a partir da Sala Oval.
Apesar do estilo habitual de Trump, o seu tom desafiador em relação a Pequim acaba por surpreender. Há duas semanas, o Presidente teve a sua primeira conversa telefónica com o homólogo chinês, Xi Jinping, e depois de meses de turbulência as relações pareceram apaziguadas, recorda o Guardian.
Agora, na entrevista à Reuters, o chefe de Estado americano voltou ainda a atacar a China por causa da Coreia do Norte. Dizendo-se preocupado com os testes de mísseis balísticos que Pyongyang tem realizado, Trump descreveu “uma situação muito difícil” que cabe a Pequim resolver. “Na minha opinião, a China pode pôr fim a isto muito rapidamente”, disse à Reuters, antes de lamentar que o seu antecessor não tenha feito mais para lidar com a ameaça norte-coreana. “É muito tarde. Estamos muito zangados com o que ele [Kim Jong-un] fez e, francamente, isto devia ter ficado resolvido durante a Administração Obama”.
“Ele fala demasiado. O que podemos fazer? Deixem-no falar”, comentou ao Guardian Zhu Feng, professor de Relações Internacionais na Universidade de Nanjing, no Leste da China. O Governo chinês ainda não reagiu às declarações de Trump.
Economistas dentro e fora da China rejeitam as alegações de Trump, que acusa o país de desvalorizar propositadamente o valor da sua moeda para aumentar as suas próprias exportações e prejudicar os fabricantes nos EUA.
“A China está claramente a manipular a sua moeda, não há dúvidas sobre isso”, diz ao Guardian Christopher Balding, professor de Finanças na Universidade de Pequim. “Mas neste momento o que eles estão a fazer é aumentar o valor da moeda em vez de a manipularem para a fazer baixar e conseguir vantagens de comércio injustas”, explica. Isso, diz Balding, “foi o que fizeram há uma década, talvez até há cinco anos, mas já não fazem”.