Uma casa portuguesa na FLIP de Paraty?

Na sessão Depois da Flip – uma conversa sobre a festa literária de Paraty, com os portugueses que estiveram na última edição, lançaram-se ideias para o futuro.

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A sessão na FLIP em que participou Ricardo Araújo Pereira Walter Craveiro/FLIP
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O ambiente que se vive na festa é de descontracção André Conti/FLIP
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Uma das sessões da programação paralela André Conti/FLIP
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A beleza de Paraty Walter Craveiro/FLIP
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Uma das casas de Paraty Walter Craveiro/FLIP

A ideia de propor que o escritor homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) seja, no próximo ano, o Prémio Nobel português José Saramago (1922- 2010) ou, caso isso não seja concretizável, conseguir pelo menos que haja uma Casa Portuguesa José Saramago durante o evento em Paraty, foi anunciada na sessão Depois da Flip – uma conversa sobre a festa literária de Paraty, que no final da tarde de quinta-feira decorreu na Fundação José Saramago, em Lisboa, e reuniu alguns dos portugueses que estiveram na 14.ª edição do festival, no final de Junho.

“Era bom até que ao mais alto nível se montasse uma estratégia para se ter uma embaixada na FLIP e ali apresentarmos a nossa cultura”, lançou Paulo Ferreira, consultor editorial da Booktailors, que pediu permissão a Pilar del Río, da Fundação Saramago, para revelar ali a ideia que tinham tido em Paraty, onde estiveram pela primeira vez na festa literária que é a referência nos festivais de língua portuguesa e não só. “Uma casa José Saramago que sirva de montra do que se faz na literatura portuguesa" e que ajude à relação entre os dois países, acrescentou Tito Couto, também da Booktailors.

José Saramago nunca participou na FLIP,  apesar de ter sido convidado para ir a Paraty. Mais tarde, no ano em que morreu, em 2010, a festa literária brasileira homenageou-o numa das suas mesas, apresentando em estreia excertos do documentário José & Pilar e uma conversa com o realizador Miguel Gonçalves Mendes. Nessa altura Pilar voltou a ser convidada mas considerou que “era demasiado cedo” e não foi.

Este ano a presidente da Fundação Saramago participou na programação paralela da FLIP a convite da Casa Cais, da cantora e produtora brasileira Luana Carvalho. Tal como participaram a jornalista Anabela Mota Ribeiro e o escritor José Eduardo Agualusa, que estiveram no evento na condição de curadores do Folio- Festival Literário Internacional de Óbidos, que vai ter a sua segunda edição de 22 de Setembro a 2 de Outubro. O festival português estabeleceu uma relação com a Casa Cais que virá depois ao Folio com uma embaixada que trará Luana Carvalho e ainda a poeta carioca Alice Sant'Anna, o músico Pedro Sá e uma exposição do músico e artista visual Domenico Lancellotti que estava na casa em Paraty.

 "Foi estupendo ter ido este ano", disse Pilar del Río que mesmo antes de partir já entendia a FLIP como algo muito português, não só pela cobertura na imprensa, como pelos relatos das pessoas que por lá passavam. " Paraty parecia profundamente português, embora estivesse do outro lado do Oceano. Era como se fosse algo nosso." No entanto foi uma surpresa. "Por um lado reúnem-se milhares de pessoas por causa da literatura. Por outro, é um projecto económico, cultural, um projecto de moda" com o qual podemos  aprender muito e ver como promover literatura ou produtos culturais em Portugal.

A editora da Tinta-da-China Bárbara Bulhosa, que já assistiu a cinco edições da festa, todos os anos contrata algum autor que descobriu em Paraty. A editora, que está também a publicar no Brasil, acaba de lançar especialmente para aquele país a colecção Grandes Escritores Portugueses, que se iniciou com Os Passos em Volta, de Herberto Helder, Breviário do Brasil, de Agustina Bessa-Luís, e Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, de Antero de Quental. E outros autores, como Eduardo Lourenço, se seguirão. O projecto é financiado pelo Instituto Camões, pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, e pelo Turismo de Portugal, o que lhe permite não perder dinheiro. 

“Enquanto editora, foi fundamental a ida à FLIP, porque no primeiro ano em que abri a Tinta-da-China Brasil a Dulce Maria Cardoso foi a autora portuguesa convidada. Vendemos muitos livros e foi muito importante para a editora”, explica. Seguiram-se Almeida Faria, Alexandra Lucas Coelho, Matilde Campilho (que no Brasil tem outra editora) e, este ano, Ricardo Araújo Pereira. Apesar de a festa concentrar naqueles dias grande parte da elite intelectual brasileira, Bárbara lembrou que é composta de "público que lê" e de "público que sabe que há ali uma festa". “A organização não é elitista” e “somos sempre muito bem recebidos”.

Tito Couto lembrou que “falamos da FLIP como se fosse um festival”, mas na realidade “são 15 festivais”, além “da programação oficial com espaço próprio, a Tenda dos Autores, com centenas largas de pessoas e cá fora outras tantas a assistir pelos ecrãs”, e “na própria cidade há umas quinze casas” geridas por editoras, jornais ou associações de editoras que também têm programação de manhã à noite, com debates sucessivos. “As casas estão cheias com plateias de 40 a 50 pessoas, é-se completamente submerso em ofertas de debates do mais variado tipo. A própria atitude de quem vai para a FLIP está mais próxima do ambiente dos Santos [populares] do que de um festival literário.”

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Ricardo Araújo Pereira foi um dos convidados deste ano ao lado de Karl Ove Knausgård Walter Craveiro/FLIP

Ricardo Araújo Pereira como convidado deste ano, entre a Prémio Nobel da Literatura, Svetlana Alexievich e o norueguês que vendeu milhões de livros, Karl Ove Knausgård, achou que é bizarro estar lá ao lado deles. Apesar de Anabela Mota Ribeiro que moderava a conversa ter dito que o humorista português “deu show de bola”, como diriam os brasileiros, este sentiu-se como se estivesse num daqueles puzzles que na Rua Sésamo se costumava apresentar às crianças com uma banana, uma laranja, um sapato e a pergunta: “O que está mal aqui?”: “A minha experiência é ser o sapato em todos os sítios em que estou”, fez rir a plateia Ricardo Araújo Pereira.

Mas é isso que atrai em Paraty, além de aquele lugar ser extraordinariamente bonito. “Há também uma coisa em Paraty que não encontrei em mais nenhum sítio, a expectativa de que as mesas, mais do que uma conversa entre autores que estão a falar das coisas que escrevem, seja uma performance: há a expectativa, no público e até nos jornalistas, de no fim se decidir quem é que cortou duas orelhas e um rabo, quem saiu vitorioso de uma espécie de contenda", diz o humorista.

 “Os brasileiros estão interessados na literatura portuguesa, sentimos isso também com as vendas que conseguimos”, diz Tito Couto. A empresa, que organiza acontecimentos literários, faz agenciamento de escritores e tem uma área de consultadoria para editores, está há cerca de um ano e meio com a estratégia de colocar os seus autores no mercado brasileiro, tendo conseguido a publicação de 13 autores portugueses naquele país, num total de 25 obras já lançadas ou a lançar durante o ano de 2017.

Na Companhia das Letras será publicado o Prémio José Saramago 2015, Bruno Vieira Amaral, com o romance As Primeiras Coisas bem como uma nova tradução de Frederico Lourenço - sabe-se apenas que se trata de uma das mais importantes obras da História - que será anunciada em breve, saindo primeiro em Portugal e depois no Brasil. Também Teolinda Gersão vai ver A Cidade de Ulisses e Os Anjos, na editora carioca Oficina Raquel, que já publicou Maria Teresa Horta, e onde Mário Cláudio irá também editar Retrato de Rapaz e O Fotógrafo e a Rapariga. Luís Aguilar, com Mourinho Rockstar, na Grande Área, e Jogada Ilegal, na Gryphus, editora que tem publicado vários livros de José Eduardo Agualusa. E Irmão Lobo, de Carla Maia de Almeida, na Rovelle. Noutras editoras serão publicadas ainda obras de Ana Cristina Silva, Maria Conceição Caleiro, Miguel Real, Joel Neto, Miguel Miranda e Pedro Vieira.

Corrigidas as datas em que se vai realizar o Folio, é a 22 de Setembro que se inicia o festival e não a 28 

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