Ilha da Bela Vista vai ter casas adaptadas a pessoas com problemas de mobilidade

Investimento municipal pode chegar ao meio milhão de euros. Obras arrancam este ano.

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Rui Moreira visitou o bairro durante a campanha eleitoral Nelson Garrido

Só em Abril é que o projecto coordenado pelo gabinete Cerejeira Fontes Arquitectos deverá estar completamente fechado, mas todos os envolvidos na reconversão da Bela Vista começam já a ver o novo espaço que ali vai nascer. As casas devem manter as tipologias que hoje têm, mas algumas poderão sofrer alterações. Há modelos desenhados pela equipa de arquitectos (que inclui Fábio Filipe Azevedo e Catarina Pires, do Lahb Social – Laboratório de Habitação Básica e Social) que prevêem a existência de habitações T3+1. Há idosos a viver em casas com dois pisos que já pediram para ter casas mais pequenas. E das 13 famílias que ocupam as 42 casas da ilha praticamente todas fizeram um pedido comum.

“A grande preocupação que nos apresentam é com os problemas de humidade. Pediram-nos, desde o início, que resolvêssemos esse problema e o projecto está pensado nesse sentido”, diz Berta Granja, professora do Instituto Superior de Serviço Social do Porto e membro do Lahb Social, que a par com o antropólogo Fernando Matos Rodrigues, anda há anos a estudar formas de intervenção e inserção das ilhas da cidade.

Matos Rodrigues e André Fontes explicam que as habitações da Bela Vista possuem algumas divisões sem qualquer janela, o que contribuiu para o perpetuar de problemas de ventilação e de humidade. Agora, diz o arquitecto, “todos os compartimentos terão janela”. Esta é uma das intervenções “cirúrgicas” que serão aplicadas nas casas da ilha que – garante André Fontes – têm muitos pontos a seu favor. “Existe ali muita qualidade de construção que vamos preservar. Olhamos para os edifícios, percebemos quais são as suas patologias e centramo-nos no que é essencial. É uma avaliação casa a casa, quase um diagnóstico médico individual”, afirma.

O pelouro da Habitação do município, dirigido por Manuel Pizarro, fez uma exigência – que a nova ilha tenha habitações adaptadas a cidadãos com problemas de mobilidade. Deverão ser cinco as casas construídas para obedecer a esse requisito, mas o número exacto de habitações que resultarão da intervenção em toda a ilha ainda é incerto. “As casas não vão ser disponibilizadas todas ao mesmo tempo”, explica Manuel Pizarro.

O vereador diz que as primeiras intervenções serão nas casas de quem já lá habita e em “mais uma ou duas” que possam, mais rapidamente, receber novos moradores. As restantes serão reabilitadas depois e Pizarro admite que, em alguns casos, a intervenção possa vir a ser feita à medida do morador que para lá for. O que pode significar que duas casas se juntem para ser apenas uma, por exemplo.

De qualquer maneira, Pizarro garante que irá haver um especial cuidado da autarquia na escolha dos novos moradores da ilha. “Terá de haver um forte processo de integração social de quem vai morar para ali, para que não se corra o risco de destruir a comunidade que lá está”, diz.

O professor Matos Rodrigues espera poder contribuir para essa integração, já que tem a expectativa de ver o Lahb Social instalado, precisamente, na Ilha da Bela Vista, num terreno que está, actualmente, vedado, mas que poderá vir a receber também hortas e um jardim para os moradores. O vereador da Habitação é mais comedido e diz que é preciso deslindar, primeiro, algumas dúvidas sobre a propriedade deste terreno.

Manuel Pizarro também tem muitas dúvidas sobre uma das propostas apresentadas no processo de construção multidisciplinar da nova Bela Vista – a introdução de uma cobertura nos corredores ao ar livre do espaço, que poderia introduzir algum conforto térmico no Inverno e ser retirada no Verão. “Uma solução dessas precisa sempre de muita prudência, porque pode acarretar outro tipo de problemas”, sustenta o vereador.

A intervenção na ilha da Bela Vista deverá custar à empresa municipal DomusSocial entre “400 a 500 mil euros” e vai “arrancar, de certeza, este ano”, garante Manuel Pizarro. “Esta obra marca o arranque de um programa de reabilitação das ilhas do Porto. Estamos a estudar alguns casos concretos, mas é necessário fazer um esforço de relacionamento com os proprietários privados das ilhas”, defende o responsável pela Habitação e a Acção Social da autarquia. Pizarro espera que a Bela Vista seja “o exemplo” que outros proprietários de ilhas da cidade queiram seguir.

Matos Rodrigues está ansioso por ver o projecto concretizar-se. “O que está a acontecer na Bela Vista é parte do processo que andamos a fazer há 20 anos, estudando estes bairros tipo ilhas. O modelo que agora apresentamos é muito simples e muito complexo. Aparentemente, foi feito em cinco meses, mas, de facto, já anda a ser desenhado há muitos anos”, diz.

Seminário discute intervenção
O trabalho que está a ser desenvolvido na ilha da Bela Vista vai ser esmiuçado ao longo deste sábado no seminário Antropologia do Espaço – Teorias e Práticas, que decorre no auditório do Palácio da Bolsa, a partir das 9h. Durante a manhã, Manuel Carlos Silva, do Centro de Investigação em Ciências Sociais (CICS) da Universidade do Minho, Fernando Matos Rodrigues, Berta Granja e Fernando Bessa, também do CICS, vão debater temas relacionados a realidade das ilhas. Às 14h, José Manuel Seabra, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa apresenta o livro Sócio-Antropologia Rural e Urbana. Fragmentos da Sociedade Portuguesa (1960–2010), de Manuel Carlos Silva e, depois, o microfone abre-se aos moradores de ilhas do Porto, numa discussão pública deverá contar com o presidente da câmara, Rui Moreira.

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