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No Iraque, os caçadores de trufas encontram "bênçãos de Deus" no deserto

A aridez, os lobos e até as minas enterradas desde a guerra do Golfo. Nada impede esta família de caçadores de trufas de revolver o deserto para sobreviver.

 

Alaa Al-Marjani/Reuters
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"Aqui está, a trufa, uma bênção de Deus!" Zahra Buheir escava cuidadosamente uma trufa da terra arenosa do deserto e mostra-a entre os dedos calejados. "Veio a chuva e depois a trovoada, trazendo as trufas à superfície", explica a septuagenária com uma chave de parafusos comprida na mesma mão que leva à boca um cigarro.

Buheir e a sua família não enfrentam apenas o clima severo do deserto do sul do Iraque. As minas terrestres, remanescentes da guerra do Golfo em 1991 — dispositivos não detonados sob a terra que podem ser confundidos com trufas por olhos inexperientes —, mantêm em alerta as sete pessoas que passam semanas à caça de trufas, fungos que há gerações lhes permitem viver de uma forma mais desafogada em tempos de crise económica profunda — no Iraque, um quilo de trufas não rende mais do que oito euros, muito mais baratas do que as "primas" europeias, que podem custar centenas de euros o quilo.

Este ano a chuva chegou tarde e Buheir só tem conseguido encontrar cerca de um quilo de trufas por dia, um décimo do que arrecadaria num ano bom. Pacientemente, também a sua neta Riyam, de cinco anos, vai virando as pedras do deserto e revolvendo a terra com as mãos nuas. "Quando não há trabalho, as trufas são uma fonte de rendimento. E somos felizes aqui", diz o pai de Riyam, Mohsen Farhan, tenda montada e toalha estendida no chão. Aprender a caçar trufas hoje em dia envolve entender os perigos do deserto, avisa. "Temos medo dos lobos, há muitos aqui. E há minas. Ainda há não muito tempo alguém morreu", disse Farhan.

Sempre que se justifica, Hussein Abu Ali conduz até à cidade de Samawah, onde Ali Tajj al-Din leiloa as trufas mediante o seu tamanho. “Estas são nozes, ovos, laranjas, e aqui está a romã, a maior delas”, apresenta. As trufas que não são vendidas localmente são exportadas para os países mais ricos do Golfo. Muitas acabam nos restaurantes da região. No Beit al-Hatab as trufas são fritas ou grelhadas. "Mas o prato favorito é arroz de trufas", diz Fawwaz Hatab, o proprietário.

Zahra Buheir
Zahra Buheir Alaa Al-Marjani/Reuters
As mulheres à procura de trufas no deserto
As mulheres à procura de trufas no deserto Alaa Al-Marjani/Reuters
Ra'ad Abdelemir, um comerciante de trufas
Ra'ad Abdelemir, um comerciante de trufas Alaa Al-Marjani/Reuters
Mohsen Farhan, 31 anos, e a sua família
Mohsen Farhan, 31 anos, e a sua família Alaa Al-Marjani/Reuters
Um dia à caça de trufas
Um dia à caça de trufas Alaa Al-Marjani/Reuters
Uma mulher a escavar uma trufa
Uma mulher a escavar uma trufa Alaa Al-Marjani/Reuters
Uma trufa entre as pedras do deserto
Uma trufa entre as pedras do deserto Alaa Al-Marjani/Reuters
Abu Jakka Farhan
Abu Jakka Farhan Alaa Al-Marjani/Reuters
Salma Mohsen, um caçador de trufas com dez anos
Salma Mohsen, um caçador de trufas com dez anos Alaa Al-Marjani/Reuters
A tenda de Abu Jakka Farhan e da sua família
A tenda de Abu Jakka Farhan e da sua família Alaa Al-Marjani/Reuters
A cadeira de rodas não impede Abu Jakka Farhan de caçar trufas
A cadeira de rodas não impede Abu Jakka Farhan de caçar trufas Alaa Al-Marjani/Reuters
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Hussein Abu Ali, à direita, transporta as trufas do deserto para o mercado
Hussein Abu Ali, à direita, transporta as trufas do deserto para o mercado Alaa Al-Marjani/Reuters
O mercado da cidade de Samawah
O mercado da cidade de Samawah Alaa Al-Marjani/Reuters
Zahra Buheir, 72 anos
Zahra Buheir, 72 anos Alaa Al-Marjani/Reuters
Um vendedor na cidade de Samawah
Um vendedor na cidade de Samawah Alaa Al-Marjani/Reuters
O mercado de Samawah
O mercado de Samawah Alaa Al-Marjani/Reuters
O cozinheiro do restaurante Beit al-Hatab
O cozinheiro do restaurante Beit al-Hatab Alaa Al-Marjani/Reuters
A refeição servida no restaurante Beit al-Hatab
A refeição servida no restaurante Beit al-Hatab Alaa Al-Marjani/Reuters