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No jogo visual de Olsen, ganham a arte e a natureza
O projecto Tree, Line, que consiste “numa espécie de fotografia construída” que desafia a percepção, nasceu há mais de 20 anos pela mão do fotógrafo e artista Zander Olsen.
Ao centro, a câmara fotográfica de Zander Olsen. Diante dela, invariavelmente, uma paisagem florestal. A magia acontece entre o momento desse encontro e o do disparo do obturador: Olsen e a sua equipa, munidos de tecidos coloridos, intervêm sobre os elementos naturais para criarem um jogo em que desafiam os sentidos de profundidade e de continuidade de quem percepciona a imagem. Tree, Line é o nome do projecto que teve início em 2002 e que Olsen insiste, para gáudio de quem olha, em não dar por encerrado.
“O mais difícil é encontrar o local”, conta ao P3 o artista que nasceu e cresceu no País de Gales, numa zona rural, e que reside em Londres. “Esse tem de fazer sentido, de ressaltar visualmente, e, ao mesmo tempo, de cumprir requisitos práticos, como ser possível aceder a todas as árvores.” Quando procura esse local ideal, no Google Maps ou por “meios mais convencionais”, Zander fixa o olhar no espaçamento entre cada árvore e no que se encontra no horizonte, em segundo plano. Quando as condições ideais se reúnem, o artista faz o desenho da intervenção e só depois coloca mãos à obra.
No terreno, “o trabalho envolve olhar através da câmara e direccionar a pessoa que está a colocar o tecido sobre as árvores”, explica. “Há muitos avanços e recuos, muita correcção. Normalmente, o processo dura um ou dois dias.” Após o disparo, todo o material é retirado. “Além de não querer deixar o tecido no local, por questões ambientais, gosto que esse abandone o local em conjunto com a câmara.” Dessa forma, a imagem que captou torna-se irrepetível. “Sabe bem ver tudo a voltar ao normal depois de ter passado tanto tempo a conhecer aquele pedaço tão específico de terra, é bom ver tudo a fundir-se com o entorno novamente.”
Como surgiu inspiração para Tree, Line? “A ideia surgiu da confluência de várias coisas”, reflecte o artista de 47 anos que se dedica à fotografia de arquitectura. “Quando era adolescente, pintava quadros de árvores bastante abstractos; já mais tarde, na faculdade de Belas Artes [de Chelsea], fazia instalações com luzes e projecções para serem captados com a câmara.”
Foi nesse período de formação que conheceu a obra de artistas que lhe serviram de inspiração. Zander dá como exemplos James Turrell, que utilizava a luz artificial para moldar a percepção do espaço, e George Rousse, que intervinha com tinta sobre o espaço para criar a ilusão da existência de vários planos ou formas numa imagem fixa.
“Há também uma pitada de McKeever e de Gustav Klimt. E um pouco do livro The Smooth and The Striated, de Deleuze e Guattari, que me ajudou a pensar nos diferentes tipos de espaço, no espaço construído e no espaço ‘natural’; e depois um pouco de Bernd e Hilla Becher e a forma como fotografam em dias de céu nublado para tornarem a imagem plana”, conta.
O contraste entre o urbano e o rural sempre interessou a Olsen, o que ajuda a perceber porque é que Tree, Line continua a fazer sentido para o artista, 20 anos depois. Olsen garante ter ainda, por publicar, outras séries mais recentes compostas por “’fotografias construídas’ feitas num contexto urbano e não florestal” que serão publicadas, brevemente, na sua conta de Instagram.”