Burnout parental: a exaustão física, psicológica e emocional dos pais
O burnout parental difere do cansaço e do stress normais do dia-a-dia e gera o sentimento de que se é um péssimo pai/mãe, em comparação com o que era antes.
A evolução social aumentou a consciência da importância do papel dos pais no desenvolvimento dos filhos e, em consequência, das exigências e responsabilidades associadas ao papel de cuidador. Embora a transformação da parentalidade tenha sido indubitavelmente positiva, foi, ao mesmo tempo, romantizada, condição que encobriu os desafios inerentes à vivência parental.
Os padrões de exigência social e pessoal associados ao dever parental tornaram-se muito elevados, tendo como finalidade a promoção do pleno desenvolvimento da criança, incluindo a estimulação física, cognitiva, emocional e social. No dia-a-dia, estas tarefas refletem-se em cuidados básicos (alimentação, higiene, roupas, etc.), atividades extra, jogos ao fim de semana, festas intermináveis, trabalhos de casa, apoio no estudo, sem falar nas birras, nas dificuldades em adormecer, etc..
O receio de um potencial impacto negativo no desenvolvimento do filho, caso não sejam cumpridas todas as imposições que se coadunam com um bom pai/mãe, aumenta o peso da culpa e perpetua tanto a exigência como o cansaço. Parece claro que resta pouco tempo para a construção de uma relação que se quer próxima e de afeto.
Sem surpresas, encontramos pais esgotados, dado o desequilíbrio entre as solicitações e a capacidade física e psicológica para desempenhá-las, que cumprem as tarefas em piloto automático, gerando desgaste emocional com consequências potencialmente graves.
Estamos perante o burnout parental, um problema de saúde psicológica que engloba exaustão física e emocional do adulto, perda de eficácia na parentalidade (além da desmotivação, é mais custoso fazer as tarefas) e distanciamento emocional do progenitor em relação à criança (menos envolvimento emocional e menos satisfação em estar com a criança).
O burnout parental difere do cansaço e do stress normais do dia-a-dia e gera o sentimento de que se é um péssimo pai/mãe, em comparação com o que era antes. Este fenómeno reconhecido na comunidade científica pelas consequências negativas nos progenitores, nas crianças, na família e no casal, é sentido por 2 a 5% dos pais e mães. Trata-se de um estado que surge paulatinamente, enraizado, entre outras causas, na exigência social interiorizada pelos pais de que têm de ser perfeitos. Talvez uma forma estranha de provar ao mundo que amam os filhos... Como a excelência é alimentada pela exigência, os pais sentem que têm de fazer melhor e entram num círculo vicioso de desgaste, perigoso para a família.
Este estado permanente de exaustão, resultado da ausência de recursos pessoais para lidar com constantes solicitações e tarefas, impacta na funcionalidade dos pais enquanto prestadores de cuidados, aumenta a irritabilidade, os sintomas de ansiedade e de depressão e a intolerância. As relações tornam-se conflituosas e as necessidades dos próprios pais não são atendidas.
Como muitos pais passam pelo mesmo, os sintomas acabam por ser normalizados ou desvalorizados, como se fosse uma sina parental pela qual todos têm de passar.
O impacto da exaustão na relação com os filhos pode gerar violência física e verbal (por exemplo, dizer à criança que é um fardo, gritar, abaná-la, dar bofetadas), além de negligência, dado que não são garantidas as necessidades físicas e emocionais das crianças.
Urge, então, atender ao que a investigação revela sobre estas experiências de vida adversas, sobretudo, à possibilidade de prevenção.
Lidar e prevenir o burnout parental deve envolver intervenções baseadas em evidências que promovam a orientação parental e familiar. O acesso a programas de apoio — como por exemplo Os Anos Incríveis — fortalece as competências parentais e fomentam redes de suporte social, desempenhando um papel essencial, sobretudo, quando associados ao autocuidado dos pais.
Quem nunca deu por si a pensar que precisa de tirar férias dos miúdos? Nada de mal com isto, as crianças são exigentes, às vezes cansativas, mas isto não significa que gostamos menos delas. Dedicar todo o tempo à criança não favorece a saúde mental aos pais e dificulta o desenvolvimento ajustado dos filhos. Os cuidados individuais e as atividades de lazer e de bem-estar são fundamentais para promover a disponibilidade do adulto para a criança. Não é requerido muito tempo nem recursos caros. 30 minutos diários de autocuidado, sem o domínio da culpa, poderá ser suficiente para o equilíbrio emocional e para ser capaz de relativizar o que não importa.
Não esteja sempre a comparar-se ou aos seus filhos com os outros, cada família e criança tem as suas próprias idiossincrasias que devem ser respeitadas.
Limite o número de atividades extracurriculares das crianças e divida as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos com o seu companheiro/a ou com algum familiar.
Faça uma lista de tarefas e distribua pelos membros da família que podem colaborar.
Reduza o grau de exigência consigo próprio e a pressão para fazer tudo perfeito. Defina prioridades e deixe para segundo plano o que é menos relevante nesta fase.
Esteja atento aos sinais de frustração, de raiva e de desconexão e, se precisar, peça ajuda profissional.
A parentalidade não tem dias de folga, mas pode ser muito gratificante se vivida com qualidade.