Afinal, somos livres ou não?

Num ano em que tanto se falou da liberdade conquistada no dia 25 de Abril de 1974, pergunta-se às crianças se se sentem livres. Aos adultos também.

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“(...) Outro dos teus direitos fundamentais é o direito à educação. Tu tens direito a aprender, ponto final” Mariana Malhão
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"Tu és livre?" Mariana Malhão
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“Se nunca pensaste, podes pensar agora” Mariana Malhão
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“Mais valia termos alguém a decidir tudo por nós. Não achas? Uma pessoa que decidisse todas as coisas para toda a gente” Mariana Malhão
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“Liberdade rima com bastantes palavras que encontras neste livro. Até dá para fazer um poema” Mariana Malhão
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Os 12 temas da colecção Missão: Democracia, a assinalar os 50 anos do 25 de Abril Mariana Malhão
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Capa do livro Tu És Livre?, editado pela Assembleia da República Mariana Malhão
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Integrado na colecção Missão: Democracia, editada pela Assembleia da República para assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos, Tu És Livre? olha a liberdade como um caminho, em que nada está garantido para sempre.

A autora, Ana Pessoa, explicou ao PÚBLICO como chegou a este texto, depois da indicação de que o tema sobre que escreveria — entre os 12 planeados para a colecção — seria o da “liberdade”.

“Senti logo o peso da responsabilidade. ‘Liberdade’ parece um tema fácil, mas é bastante difícil. Por um lado, é o cúmulo do ‘tema livre’! Qualquer história tem que ver, de alguma maneira, com a liberdade. Quando falamos de identidade, de justiça, da luta entre o bem e o mal, de amor, de pressão social, de conflitos familiares, estamos também a falar de liberdade e dos limites dessa liberdade”, diz-nos via email, a lembrar como a liberdade total pode tolher-nos no processo criativo. Às vezes, os constrangimentos facilitam as escolhas.

Ana Pessoa — que se estreou na escrita para jovens com O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca, Prémio Branquinho da Fonseca (Expresso/ Gulbenkian) em 2011 — não queria “escrever ficção para falar de liberdade” e achou importante falar dela “sem rodeios, lançar perguntas, fazer uma reflexão”.

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“Às vezes, é mais importante encontrarmos uma boa pergunta do que encontrarmos a resposta certa” Mariana Malhão

O resultado é um livro interactivo, em que as crianças têm perguntas de escolha múltipla. A primeira é a do título: “Tu és livre?”, com as opções de resposta “sim” e “não”. Mas logo em seguida se escreve: “E então? Escolheste ‘sim’ ou ‘não’? Hoje ‘não’, mas ontem ‘sim’? Na verdade, é bem possível respondermos ‘sim’ e ‘não’ ao mesmo tempo.”

Um convite à reflexão e ao aprofundamento do conceito de “liberdade”. Reconsiderando a pergunta inicial, dá-se então mais opções. “Depende” ou “mais ou menos”. Isto porque, “neste momento, podemos dizer que somos livres, mas também podemos dizer o contrário”, estando correctas todas as respostas. “Ou seja, há várias maneiras de olhar para a tua liberdade ou para as tuas liberdades (como verás, a liberdade tem muitas faces!”).

A autora começou por querer evitar lugares-comuns associados à liberdade, “o pássaro a voar, uma nuvem no céu, uma criança a andar de bicicleta”, mas acabaria por deles se socorrer, desconstruindo-os. “Será que um pássaro é de facto livre? Será que uma nuvem é livre? Será que nós, cidadãos portugueses do século XXI, somos livres? Por um lado, sim, somos livres. Mas, por outro, não, não somos livres”, diz a autora de Desvio, novela gráfica com ilustrações de Bernardo P. Carvalho.

O pássaro voa porque está sempre à procura de abrigo e de comida, a nuvem é condicionada pelo vento e chora quando fica cheia de água, a bicicleta só anda se alguém pedalar.

À medida que se avança no livro, lida-se com as dificuldades que caracterizam a liberdade. “Será que somos livres quando temos de cumprir tantas regras? Será que seríamos mais livres se estivéssemos completamente sozinhos? Será que seríamos mais livres se alguém decidisse tudo por nós?” Mais perguntas.

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“Na tua opinião, que imagem traduz melhor a ideia de liberdade? Nuvem. Bicicleta. Pássaro” Mariana Malhão

“O que é evidente hoje pode deixar de o ser amanhã”

Se nunca pensamos em liberdade, se calhar ela não é assim tão importante, problematiza-se mais adiante.

Novas perguntas surgem, mas extravasando o âmbito da realidade portuguesa. “Alguma vez te proibiram de rir? Alguma vez te proibiram de ir à escola? Os teus pais já escolheram a pessoa com quem vais casar? Não, ninguém nos proíbe de rir nem de aprender e podemos amar quem quisermos. Isto, para alguém que cresce hoje em Portugal, parece evidente. Mas nada disto é evidente noutras regiões do mundo. E o que é evidente hoje pode deixar de o ser amanhã”, exemplifica Ana Pessoa.

Prossegue com alguns dados sobre o estado da liberdade no mundo. “Muitas crianças ainda vivem em situação de pobreza. Não há escolas em algumas regiões do mundo.”

A acompanhar este inteligente texto/inquérito, estão as imaginativas e divertidas ilustrações de Mariana Malhão, numa “abordagem irrequieta e colorida”. Ana Pessoa aprecia o humor que a ilustradora, formada em Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes do Porto, levou para o livro. Dá um exemplo: “A certa altura, há um gato a passear-se pela mesa de jantar e a incomodar toda a gente.”

Mariana Malhão publicou o seu primeiro álbum ilustrado em 2018: Uma Rosa na Tromba de Um Elefante, com texto poético de António José Forte (edição da Orfeu Negro). Actualmente, trabalha como freelancer e tem projectos em que explora ilustração, cerâmica e publicações independentes.

No final de Tu És Livre?, Ana Pessoa, que acredita que pode ser usado em sala de aula ou em casa para falar abertamente com as crianças sobre um tema tão abstracto e, ao mesmo tempo, tão concreto, conclui que “a liberdade é um caminho que estamos a percorrer todos os dias”. E, a terminar, pergunta ainda: “Queres seguir pelo caminho da liberdade”?

A resposta fica agora desse lado do ecrã.

Letra Pequena deseja aos leitores um feliz e livre 2025.

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