Osamu Suzuki (1930-2024), o visionário japonês que transformou a Índia com os kei cars

A imprensa nipónica descreve Osamu Suzuki como um engenhoso investidor que, além de ter afirmado a Suzuki no Japão, foi fundamental na transformação da Índia num relevante mercado automóvel.

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Osamu Suzuki, durante uma conferência de imprensa no Clube de Correspondentes Estrangeiros do Japão, em Tóquio, Japão, a 21 de Janeiro de 2010 Yuriko Nakao/REUTERS
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Foi há apenas três anos que Osamu Suzuki saiu da presidência da Suzuki Motor Corp, deixando o lugar para o seu filho, Toshihiro Suzuki. O homem-forte da companhia nipónica, que, ao longo de quase cinco décadas, transformou a pequena montadora numa potência global, apostando nos veículos utilitários e nos motociclos, morreu no dia de Natal, aos 94 anos. A empresa detalhou que Suzuki morreu de linfoma maligno.

A imprensa nipónica descreve Osamu Suzuki como um engenhoso investidor que, além de ter afirmado a Suzuki no Japão, desempenhou um papel fundamental na transformação da Índia num relevante mercado automóvel, também graças aos kei cars (miniautomóveis). Para tal, soube aproveitar os generosos benefícios fiscais no Japão para os automóveis baratos e compactos, de baixa cilindrada, ao mesmo tempo que, relata a Reuters, foi capaz de realizar uma rigorosa contenção de custos, tanto na empresa, em que os pés direitos baixos dos edifícios eram uma forma de poupar no ar condicionado, como na sua vida, viajando sempre em classe económica.

Nascido Osamu Matsuda, em 1930, na província japonesa de Gifu, a oeste de Tóquio, Suzuki adoptou o nome de família da sua mulher, uma prática comum nas famílias japonesas que não têm um herdeiro masculino. O antigo banqueiro entrou, em 1958, para a empresa fundada pelo avô da mulher, tendo chegado à liderança vinte anos depois, altura em que teve uma importância vital para evitar o colapso, ao convencer a Toyota Motor a fornecer motores que cumpriam as novas normas de emissões, que a Suzuki Motor ainda não tinha desenvolvido.

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Para o presidente da Toyota Motor Corp, Akio Toyoda (à esquerda), Osamu Suzuki (à direita) “era mais do que um admirável líder empresarial; era como um pai” Toru Hanai/Reuters

Já depois do Alto, de 1979, modelo cujo sucesso foi determinante nas negociações do fabricante nipónico quando este se associou à General Motors em 1981, Suzuki tomou uma grande e arriscada decisão: investiu um ano dos lucros da empresa na construção de um fabricante nacional de automóveis para a Índia. Tudo para se tornar “o número um algures no mundo”, como recordaria mais tarde, cita a Reuters.

Nessa altura, as vendas anuais de automóveis na Índia eram de menos 40 mil unidades e o Governo tinha acabado de nacionalizar a Maruti, criada em 1971 como um projecto de estimação de Sanjay Gandhi, filho da então primeira-ministra Indira Gandhi, para produzir um “carro do povo” acessível, fabricado na Índia. Começou por negociar com a Renault, tentou a Fiat, a Daihatsu e a Subaru, mas foi junto da Suzuki que encontrou um parceiro.

O primeiro automóvel, o Maruti 800 hatchback, baseado no Alto, foi lançado em 1983, tornando-se um sucesso imediato. Actualmente, a Maruti Suzuki, detida maioritariamente pela Suzuki Motor, continua a representar cerca de 40% do mercado automóvel indiano.

Na Índia, a Suzuki também introduziu mudanças, sobretudo nas regras laborais, insistindo na igualdade no local de trabalho, criando escritórios abertos, uma única cantina e uniformes para executivos e trabalhadores da linha de montagem.

Outros negócios não foram tão bem-sucedidos. Caso da parceria com a Volkswagen, firmada em finais de 2009, que acabaria por fracassar no meio de acusações mútuas: a Suzuki Motor a acusava o seu novo accionista de tentar controlá-la; a VW opunha-se à compra de motores Diesel à Fiat. Em menos de dois anos, a Suzuki Motor levou a VW a um tribunal de arbitragem internacional, acabando por conseguir recuperar a participação de 19,9% que tinha vendido ao construtor automóvel alemão.

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Osamu Suzuki posa ao lado do Alto, a 16 de Dezembro de 2009 Issei Kato/REUTERS

Suzuki, que referia frequentemente o golfe e o trabalho como factores determinantes para a sua saúde, acabou por passar o testemunho como CEO ao seu filho Toshihiro em 2016 e manteve-se como presidente por mais cinco anos, até aos 91 anos, mantendo um papel consultivo até ao fim.

Desde 2016, a sua empresa tem aprofundado os laços com o maior fabricante de automóveis do mundo, a Toyota, que adquiriu uma participação de 5% na Suzuki Motor em 2019. A Maruti Suzuki deverá fornecer carros eléctricos para a Toyota a partir do próximo ano.

“Para mim, ele era mais do que um admirável líder empresarial: era como um pai”, disse o presidente da Toyota, Akio Toyoda, numa declaração nesta sexta-feira, homenageando Suzuki como um pioneiro dos miniveículos. “Foi uma figura paternal que desenvolveu o kei car (miniautomóvel) japonês e o transformou no carro do povo japonês.”