Kraft Heinz e Coca-Cola acusadas de viciar crianças em alimentos ultratransformados

Bryce Martinez diz ter desenvolvido diabetes de tipo 2 e doença hepática gordurosa não-alcoólica em resultado do consumo dos produtos destas empresas.

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Os ultraprocessados incluem muitos snacks embalados, doces e refrigerantes Gonçalo Dias/Arquivo
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As principais empresas do sector alimentar, incluindo a Kraft Heinz, a Mondelez e a Coca-Cola, estão a ser alvo de uma nova acção judicial nos Estados Unidos. O processo, dado a conhecer nesta terça-feira, acusa as empresas de conceberem e comercializarem alimentos ultratransformados que viciam as crianças, causando doenças crónicas.

A acção foi interposta no Tribunal de Justiça de Filadélfia por Bryce Martinez, residente da Pensilvânia, que diz ter desenvolvido diabetes de tipo 2 e doença hepática gordurosa não-alcoólica, diagnosticada aos 16 anos, em resultado do consumo dos produtos destas empresas.

Os advogados da Morgan & Morgan, um dos principais escritórios do país e defensores do jovem, descrevem o caso como o primeiro deste tipo. No processo judicial com 148 páginas, a equipa lembra que os alimentos ultratransformados constituem mais de 73% da alimentação e, em particular, 67% da alimentação das crianças nos EUA.

Martinez acusa as empresas do sector alimentar de saberem há muito tempo que os seus produtos são nocivos e de os criarem deliberadamente para serem tão viciantes quanto possível. Argumenta que estão a usar o mesmo “manual do cigarro” a que recorriam os gigantes do tabaco Philip Morris e R. J. Reynolds que, durante algum tempo, foram donos das empresas que se tornaram a Kraft Heinz e a Mondelez.

A acção judicial inclui queixas por conspiração, negligência, declarações fraudulentas e práticas comerciais desleais. Pretende obter um montante não-especificado de indemnizações compensatórias e punitivas.

Além da Heinz, da Coca-Cola e da Mondelez, estão envolvidas no processo também a Post Holdings, a PepsiCo, a General Mills (o braço americano da Nestlé), a WK Kellogg, a Mars, a Kellanova e a Conagra.

“Não existe actualmente uma definição científica consensual de alimentos ultratransformados”, afirma Sarah Gallo, vice-presidente de produtos da Consumer Brands Association, um grupo que representa os fabricantes de alimentos e bebidas, em comunicado. E declara: “Tentar classificar os alimentos como pouco saudáveis simplesmente porque são transformados ou demonizar os alimentos ignorando todo o seu conteúdo nutritivo induz os consumidores em erro e agrava as disparidades em termos de saúde.”

Nos últimos anos, a ciência tem mostrado como os alimentos altamente transformados estão associados a uma lista extensa de problemas de saúde crónicos, em especial doenças cardiovasculares. Os alimentos descritos pelos investigadores como “ultratransformados ” incluem muitos snacks embalados, doces e refrigerantes feitos com substâncias extraídas de alimentos integrais ou sintetizadas artificialmente.

Robert Califf, o actual comissário da U.S. Food and Drug Administration (a agência norte-americana que regula os fármacos que chegam ao mercado), tem reconhecido como os alimentos ultratransformados são viciantes. Mas Robert F. Kennedy Jr., a escolha do Presidente eleito Donald Trump para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, aponta o dedo à FDA por falta de regulação sobre o tema.