Morreu Ángela Álvarez, a bisavó que ganhou um Grammy e provou que “nunca é tarde de mais”

Foi aos 95 anos que Ángela Álvarez se tornou uma estrela, tornando-se a pessoa mais velha a conquistar o Grammy Latino de melhor novo artista. Morreu com 97 anos.

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Ángela Álvarez, que nasceu em Cuba, em 1927, sonhava dedicar-se à música desde pequena KIMBERLY YATSKO
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Ángela Álvarez passou pela vida sempre com alguma música de fundo. “Ela estava sempre a tocar guitarra e a cantar para nós”, contou o neto Carlos Jose Alvarez, há dois anos, quando a avó se tornou a pessoa mais velha a ganhar o Grammy Latino de melhor novo artista. A mulher, que ficou conhecida pela sua boa disposição e sorriso rasgado, morreu na sexta-feira, em Baton Rouge, no estado norte-americano do Luisiana, aos 97 anos, confirmou Carlos Jose Alvarez ao New York Times.

Ángela Álvarez, que nasceu em Cuba, em 1927, sonhava dedicar-se à música desde pequena: compôs a sua primeira canção aos 14 anos, numa altura em que já dominava o piano e a guitarra. Mas a profissão não era aceite pelo pai. “Cantas para a família, mas não para o mundo”, disse-lhe. E ela acatou. “Eu amava-o tanto”, dizia Ángela, há dois anos, ao The Washington Post. “E gostava de ser obediente.”

Acabaria por se casar com apenas 19 anos e teve quatro filhos, três rapazes e uma rapariga. Até que, em 1959, a chegada ao poder de Fidel Castro levou Ángela e o marido, Orlando, que era engenheiro da indústria do açúcar, a fugir para os Estados Unidos. Só que apenas as crianças conseguiram sair do país, o que fez com que, nos EUA, fossem confiadas a um orfanato em Pueblo, Colorado. E quando, por fim, Ángela conseguiu sair de Cuba não tinha meios para reclamar os menores. Foi então que se dedicou a trabalhar como empregada doméstica, usando a guitarra para alegrar os filhos quando os visitava. “A música é a linguagem da alma”, disse por altura em que foi nomeada para o Grammy.

A família acabaria por se reunir e instalar-se em Baton Rouge, onde, lembrou Ángela, foram felizes durante alguns anos, até Orlando morrer de cancro do pulmão em 1977, aos 53 anos. Ángela também perdeu a sua filha, que morreu de cancro em 1999.

A música viria a ganhar nova importância há cerca de uma década, quando um dos netos, Carlos, que é compositor, decidiu começar a gravar a avó. E, durante o processo, percebeu a relíquia que a avó guardava. Pô-la em estúdio e pelo caminho conseguiu que o actor cubano-americano Andy Garcia, de quem é amigo, se tivesse encantado com a história da avó, o que o levou a produzir e narrar o documentário Miss Ángela.

O resultado dessa aventura foi uma nomeação para o Grammy Latino de melhor novo artista e uma vitória, que fez história, mas, acima de tudo, serviu para que Ángela tentasse inspirar outros. “Para aqueles que ainda não realizaram os seus sonhos, saibam que, embora a vida seja difícil, há sempre uma saída e com fé e amor tudo pode ser alcançado”, disse, na altura, a cantora. E concluiu: “Prometo-vos: nunca é tarde de mais.”

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